Moro chefiava Lava Jato e fingia ser juiz
Foto: Vinícius Loures/Câmara dos Deputados
O jornalista Gleen Greenwald, fundador do site de jornalismo investigativo The Intercept, disse nessa terça-feira, 25, em audiência na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, que o primeiro e o mais importante ponto das reportagens realizadas até agora no escândalo VazaJato é que tudo comprova que o ex-juiz federal e atual ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro Sergio Moro não só quebrou “as vezes” o código de ética da magistratura brasileira. “Esse material já mostrou e vai continuar mostrando que Moro era o chefe; ele orientava o tempo todo o que os procuradores (da força tarefa Lava Jato) deveriam fazer e depois ia se fingir de juiz”.
Foto: Vinícius Loures/Agência Câmara
Para o jornalista americano, ganhador do Oscar e dos prêmios Pulitzer e Esso em 2014 pela série de matérias que revelaram o sistema de espionagem cibernética americana ao redor do mundo, com interceptações de comunicação de líderes internacionais e de importantes empresas estratégicas mundo afora, é impossível lutar contra a corrupção usando métodos corruptos. Segundo ele, à exemplo do senador Randolfe Rodrigues (Rede- AP), chegou a celebrar a operação Lava Jato, mas se desiludiu ao descobrir os procedimentos espúrios que o The Intercept agora está trazendo à tona. “Eu elogiei o trabalho da Lava Jato, mas o fato de que coisas boas foram feitas não significa que ele (Moro) tem o direito de quebrar a lei, ser corrupto”, afirmou.
Em um ambiente bastante crítico à Moro, com cobrança de parlamentares de que a Secretaria de Comunicação da Câmara não programou para o canal aberto da TV Câmara o depoimento do jornalista, deixando-o apenas para os canais veiculados no Youtube e Facebook, Greenwald foi hostilizado basicamente por três deputados: Katia Sastre (PL-SP), Carla Zambelli (PSL-SP) e José Medeiros (Pode-MS).
Chamado de homofóbico por seus pares, o deputado José Medeiros, ao referir que Greenwald era “parceiro sexual” de um integrante da oposição na casa, David Miranda (PSol-RJ), ainda ironizou ao perguntar se o jornalista também não seria “um espião”, dada a experiência no caso Snowden que vazou os documentos secretos da Agência de Segurança Nacional Americana (NSA). Medeiros recebeu uma resposta desconcertante do fundador do The Intercept: “Essa teoria da conspiração do deputado merece a atenção do Senado; pena que o deputado não pode dar esse encaminhamento já que por unanimidade teve o seu mandato de senador cassado”, disparou. Greenwald arremata: “para as palavras sobre o meu marido, lembro que o STF votou semana passada a equivalência da homofobia ao crime de racismo”.
O jornalista ainda disse que, sabendo que insinuações sobre o seu relacionamento certamente seriam levantadas durante o trabalho iniciado pelo The Intercept, isso foi um dos motivos de o site estar disponibilizando a outros jornalistas e veículos nacionais o conteúdo que recebeu da fonte que, em sua opinião, tem sido tratada cinicamente por Moro como Hackers.
Greenwald destacou que todos os que tiveram acesso ao material, utilizando suas técnicas de apuração, tem atestado a veracidade dos fatos “graves” apontados. “Quando todos os outros veículos se integrarem, menos o Antagonista, serão criminosos?”, perguntou o jornalista, ao denunciar o que entende ser uma tática de Moro e Deltan Dallagnon de tentar criminalizar o seu trabalho.
“Quando vocês verem a subserviência de Deltan, vocês vão sentir vergonha”, sentenciou Greenwald em especial as deputadas Katia Sastre, que disse que o jornalista deveria sair preso da Câmara, e Carla Zambelli a quem agradeceu a “estupidez” que, em sua opinião colocará no próximo dia 30 milhões nas ruas em apoio ao ministro de Bolsonaro.