POLÍTICA

Bolsonaro a favor do voto eletrônico, mas em 1993

Se hoje o presidente da República faz campanha pelo voto impresso, nem sempre foi assim. Em 1993, ele e grupos de militares fora da ativa reclamavam das fraudes no voto impresso e pediam voto eletrônico
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 5 de agosto de 2021
Bolsonaro a favor do voto eletrônico

Foto: Reprodução/Arquivo Câmara dos Deputados

Em 1993, Jair Bolsonaro participou de movimento pelo voto eletrônico.

Foto: Reprodução/Arquivo Câmara dos Deputados

“Este Congresso está mais do que podre. Estamos votando uma lei eleitoral que não muda nada. Não querem informatizar as apurações pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE)”, esbravejou Jair Bolsonaro. Só que a afirmação é de 1993. Isso ocorreu um ano antes das eleições que levariam Bolsonaro ao seu segundo mandato como Deputado Federal pelo Rio de Janeiro, em 1994.

Hoje, Jair Bolsonaro levanta suspeitas sobre o voto eletrônico e recebeu recente apoio dos clubes de militares da reserva do Exército, da Marinha e Aeronáutica, bem ao contrário do que acontecia 28 anos atrás. Matéria do Jornal do Brasil, em 21 de agosto daquele ano, registrava que em reunião no Clube Militar no Rio de janeiro o atual presidente do Brasil sugeriu que o voto impresso era fraudável e criticou a não “informatização” das eleições.

Jornal do Brasil, 21 de agosto de 1993

Foto: Reprodução/Jornal do Brasil

Jornal do Brasil, 21 de agosto de 1993

Foto: Reprodução/Jornal do Brasil

Ainda segundo Bolsonaro, na ocasião: “Sabe o que vai acontecer? Os militares terão 30 mil votos e só serão computados três mil”.

Bolsonaro falou em apoio ao coronel Pedro Ivo Rosti, do grupo Pátria Nossa, que dizia não acreditar no caminho eleitoral. Rosti dizia “antes tínhamos dois partidos, depois três, agora temos um monte”.

Eleições anuladas por fraude

Em 1994, Jair Bolsonaro foi o 3º candidato mais votado no Rio de Janeiro. A eleição daquele ano chegou a se ser anulada no Rio e uma 2ª votação foi realizada. A anulação foi pedida pelo então procurador-regional-eleitoral, Alcyr Molina, baseado em evidências de fraudes. Enquanto nas eleições de 1990 a média de votos brancos tinha sido de 20,8%, em 94  caiu para 10,87% para deputado estadual e para 13,04% para federal.

Em 1996, porém, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) restabeleceu o resultado do 1º pleito por entender que a maioria dos votos foi válida. De acordo com especialistas consultados pela reportagem, as fraudes no período foram facilitadas pelo fato do voto ser em papel. Os métodos para fraudar eram inúmeros: cédulas depositadas em branco nas urnas pelos eleitores poderiam ser preenchidas irregularmente durante a apuração; lotes inteiros de cédulas não utilizadas poderiam ser extraviados; e os formulários chamados “boletins de urnas”, que poderiam ser alterados após a apuração com informações falsas, tidas como autênticas por não haver registro eletrônico.

Comissão discute rumo do voto impresso 

A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 135/19 que virou o carro de batalha de Bolsonaro, o voto impresso, será votada nesta quinta-feira, 5, na comissão especial criada para a sua discussão na Câmara dos Deputados.

A proposta da deputada Bia Kicis (PSL-DF) sofreu alterações de última hora. No entanto os deputados devem decidir se o texto vai para plenário ou se deverá ser arquivado.

O relator, Filipe Barros (PSL-PR) modificou seu parecer e praticamente torna as urnas eletrônicas em meros equipamentos de registro de voto.

Na nova versão, as cédulas de papel que seriam impressas com os registros dos votos de cada eleitor não serviriam apenas para fins de auditoria, mas passariam a ser o mecanismo oficial de apuração das eleições.

 

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