POLÍTICA

Combate às notícias falsas tem que integrar estratégias de paz, diz general

Militar brasileiro comanda mais de 16 mil policiais e militares na força de paz no Congo. Seu trabalho tem sido dificultado por notícias falsas (fake news)
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 23 de agosto de 2022
Combate às notícias falsas tem que integrar estratégias de paz, diz general

Foto: Onu/Monusco/Divulgação

O general brasileiro Marcos de Sá Affonso da Costa, diz que notícias falsas são um grande problema hoje para o trabalho dos boinas-azuis na República Democrática do Congo

Foto: Onu/Monusco/Divulgação

O comandante de uma das maiores missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no mundo, o general brasileiro Marcos de Sá Affonso da Costa, diz que notícias falsas (fake news) são um grande problema hoje para o trabalho dos boinas-azuis na República Democrática do Congo. Para o oficial é necessário aumentar ações para avaliar e combater a situação.

Segundo o general, rumores, teorias da conspiração e informações fabricadas afetam a segurança aumentando o número de mortes e a desestabilização no país africano onde atuam 100 grupos rebeldes.

Protestos contra a presença da força de paz da ONU nas últimas três semanas culminaram com a morte de quatro boina-azuis e 35 civis.

Afonso Costa diz que os grupos armados no Congo estão mais organizados e se utilizam de falsidades e boatos nas redes sociais e até em jornais e noticiários locais.

“Na comunicação estratégica nós temos que vencer isso, porque está trazendo, realmente, um dano às operações. Acaba revertendo contra nossa ação, porque nós estamos aqui para proteger civis. Não podemos atuar numa região por causa disso. Na verdade, quem está sofrendo são as populações.  Eu acredito que o maior meio de disseminação têm sido esses aplicativos usando os celulares. É o principal meio”, diz o militar.

Ele diz que tem uma série de exemplos para dar sobre as notícias falsas que são usadas por grupos associados ao terrorismo e atividades criminosas como o roubo de recursos.

Mais recentemente, relata Afonso Costa, em um voo de um helicóptero da força de paz para a evacuação de pessoas feridas da comunidade circulou, a fake news de que estavam a bordo militantes das Forças Democráticas Aliadas (ADF), grupo rebelde de origem islâmica, para um ataque.

“As pessoas foram para o local de pouso não sabendo direito. Umas mais violentas e outras menos. Aquilo degenerou em violência e o helicóptero não pousou. É evidente que quem necessitava de apoio médico acabou não recebendo”, relata o general.

Para Affonso da Costa não há dúvidas que o ambiente gerado pelas notícias falsas aumentou a violência na região.

“O uso das redes sociais aqui é muito intenso. Então, as pessoas comunicam muito por WhatsApp, o aplicativo, e de qualquer forma, produzem pequenos vídeos. Muitas vezes, os vídeos podem até ter imagem verdadeira, mas deturpada no tempo e no espaço, ou seja, coisa que aconteceu no passado como se fosse hoje. E aquilo acaba criando pânico e um movimento contra a presença das Nações Unidas em certas situações”, fala.

Santos Cruz e as fake news

No início de 2013, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a resolução 209 que criou a Missão   de Estabilização das Nações  Unidas na República Democrática do Congo (Monusco).

Desde então o Brasil está à frente da operação. O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, agora na reserva. Foi primeiro comandante da Monusco, de 2013 a dezembro de 2015.

Na última quinta-feira, 18, o secretário-geral da ONU, António Guterres, anunciou o nome de Santos Cruz para chefiar a missão que irá apurar as causas de uma explosão que matou dezenas de prisioneiros de guerra em Olenivka, Ucrânia.

O pedido da investigação partiu dos governos da Rússia e Ucrânia que estão em conflito bélico.

Santos Cruz chegou a chefiar a Secretaria de Governo no início do governo Bolsonaro. Ele defendia a adoção de critérios técnicos para distribuição de recursos públicos entre veículos de comunicação e acabou deixando a pasta após virar ele próprio alvo de ataques de fake news, que partiram do próprio governo.

“Uma milícia digital, uma gangue de rua que se transfere para dentro da internet”, disse o experiente militar na ocasião ao se referir ao que mais tarde ficou conhecido como Gabinete do Ódio, comandado por Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República.

 

 

 

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