POLÍTICA

Entidades judaicas do Brasil pedem cessar fogo imediato em Gaza

Carta ao embaixador israelense fala em "ofensiva cruel", pede cessar fogo e mostra que há judeus contrários à atuação de Israel no conflito
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 15 de março de 2024

Entidades judaicas do Brasil pedem cessar fogo imediato em Gaza

Foto: Anistia Internacional/Divulgação

Foto: Anistia Internacional/Divulgação

O repúdio “a ofensiva cruel e violenta” conduzida pelo governo de Binyamin Netanyahu em Gaza é o teor de uma carta remetida por oito entidades judaicas ao embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zonshine.

“Assim como condenamos o brutal ataque terrorista perpetrado pelo Hamas em 7 de outubro do ano passado, […] repudiamos com indignação a ofensiva cruel e violenta perpetrada pelo exército israelense em Gaza”, afirma o documento que destaca a multiplicidade de posicionamentos das organizações signatárias.

As entidades enfatizam estar alarmadas “com a iminência de um ataque” a Rafah e pedem um cessar-fogo imediato.

A região faz fronteira com o Egito e é hoje um dos últimos refúgios para palestinos obrigados a deixar suas casas na medida que militares israelenses se deslocavam no conflito.

Para o professor de sociologia da Universidade de São Paulo (USP), André Vereda Nahoum, do Judias e Judeus pela Democracia de São Paulo, a carta enviada ao embaixador de Israel é a concretização do desejo das oito entidades que já tinham se manifestado individualmente a favor do cessar fogo.

O Extra Classe teve acesso ao documento original enviado ao embaixador. Acesse aqui.

Solução negociada

Além da Confederação Israelita do Brasil (Conib),  “a ideia é mostrar para o embaixador que existe uma parcela significativa da comunidade judaica no país, muito diversa, muito plural, que vê a situação com muita preocupação e é contrária a tudo o que está acontecendo na região”, afirma Nahoum.

A novidade da manifestação em relação aos posicionamentos anteriores das entidade, é a escalada de tensões diplomáticas entre Israel e Brasil, afirma o professor.

Nahoum lembra que já em 8 de outubro, sua organização fez contato com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para conclamar uma mediação, “dado o histórico que o presidente tem como mediador internacional, como uma figura importante em foros internacionais”.

Nahoum entende que a manutenção da guerra coloca uma suspensão em uma situação que vinha se prolongando desde o ano passado: a possível queda do governo de Netanyahu que é considerado muito impopular.

Lembra no entanto que, se em um primeiro momento os protestos massivos contra o primeiro ministro israelense arrefeceram, após o 7 de outubro, eles agora retornaram mesmo sob o trauma.

“Tem acontecido protestos semanais, inclusive com várias vozes dentro de Israel, organizações de defesa de direitos humanos, pessoas, indivíduos, que também exigem o cessar fogo e uma solução negociada para o conflito”, conclui Nahoum.

A carta enviada ao embaixador de Israel é assinada pelas seguintes entidades judaicas: Amigos Brasileiros do Paz Agora, Associação Scholem Aleichem, Coletivo de Mulheres Me Dê a Mão, Casa do Povo, Judias e Judeus pela Democracia de São Paulo, Judeus pela Democracia, Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil e Massoret.

Leia a íntegra da carta das entidades 



“Exmo. Sr. Daniel Zohar Zonshine

 Nós, representantes de entidades judaicas atuantes no Brasil, expressamos nossa profunda preocupação em relação aos desdobramentos da atual incursão militar conduzida por Israel em Gaza. Especificamente, mas não só, estamos alarmados com a iminência de um ataque a Rafá, que representa o último refúgio naquela região.

 Além disso, estamos consternados com a aparente falta de prioridade demonstrada por certos membros do gabinete Netanyahu em relação ao retorno seguro dos reféns mantidos pelo Hamas, bem como com as declarações imprudentes desses representantes, especialmente do Ministro das Relações Exteriores. Tais declarações não apenas desumanizam os palestinos, mas também comprometem as boas relações historicamente mantidas com o governo brasileiro, além de colocar em risco a segurança da comunidade judaica em todo o mundo.

Senhor embaixador, apesar da multiplicidade de nossos posicionamentos, hoje nos unimos para fazer um apelo urgente ao governo de Israel: instamos que todos os esforços sejam envidados em prol de um cessar-fogo imediato e de uma solução negociada para o atual conflito, incluindo o retorno seguro e imediato dos reféns mantidos pelo Hamas. Assim como condenamos o brutal ataque terrorista perpetrado pelo Hamas em 7 de outubro do ano passado, lamentando as vidas ceifadas e expressando nossa profunda solidariedade com israelenses que foram violentadas, que perderam ou tiveram seus entes queridos sequestrados, repudiamos com indignação a ofensiva cruel e violenta perpetrada pelo exército israelense em Gaza.

 Além disso, solicitamos que o governo de Israel e seus representantes ajam com a máxima responsabilidade internacional, para não inflamar ainda mais a política nacional ou ser exploradas por forças políticas anti-democráticas, insuflando o antissemitismo e sua instrumentalização. Tais ações não apenas nos enfraquecem no Brasil, mas também contradizem os princípios do trabalho diplomático.”

Saudações,
• Amigos Brasileiros do Paz Agora
• Associação Scholem Aleichem (Rio de Janeiro)
• Coletivo de Mulheres Me Dê a Mão
• Casa do Povo
• Judias e Judeus pela Democracia São Paulo
• Judeus pela Democracia Rio de Janeiro
• Observatório Judaico dos D.H. no Brasil
• Massoret (São Paulo)

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