SAÚDE

Queda no número de doações de órgãos mobiliza o RS

O estado caiu de primeiro lugar para o terceiro na lista de doações de órgãos na Região Sul nos últimos anos. No Brasil, está em 8º lugar em órgãos transplantados
Por Clarinha Glock / Publicado em 10 de setembro de 2019

Foto: Igor Sperotto

“Não adianta esclarecer a população sobre doação de órgãos se os profissionais de saúde não estão capacitados”, diz Joel Andrade, de SC

Foto: Igor Sperotto

Pioneiro na criação de uma Central de Transplantes, em 1987, o Rio Grande do Sul se manteve em primeiro lugar na lista de doações de órgãos e tecidos na Região Sul até 2005 e, atualmente, caiu para a terceira posição, ficando atrás de Santa Catarina e Paraná.

Para devolver o estado ao patamar de ’pioneirismo e excelência‘, a recém-empossada coordenadora da Central de Transplantes do RS, Sandra Lúcia Coccaro de Souza, irá contar com o auxílio de um comitê consultivo multidisciplinar, que reunirá especialistas e representantes de hospitais e entidades parceiras.

O anúncio foi feito em 30 de agosto, por Eduardo Elsade, diretor do Departamento de Regulação da Secretaria de Saúde, ao qual está subordinada a Central de Transplantes, durante encontro organizado pela Frente Parlamentar de Doação de Órgãos e Comissão de Meio Ambiente na Assembleia Legislativa (ALRS).

DESORGANIZAÇÃO – A queda de doadores no estado se deve em boa parte à burocracia e à desorganização. Além disso, a não remuneração dos profissionais envolvidos, a alta rotatividade de integrantes das Comissões Intra-hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) e a diminuição dos cursos e treinamentos para capacitação contribuíram para a desmotivação das equipes.

“Entre 2017 e 2018, o estado passou por uma desorganização na área hospitalar: houve greves, emergências fecharam, equipes com salários atrasados. Essa situação se refletiu na queda dos números e na estrutura da área de transplantes”, admite Elsade.

A nova coordenadora explica que há vontade política para retomar os trabalhos e que serão realizadas reuniões periódicas com o comitê. Entre as ações previstas, estão a rearticulação de câmaras técnicas, a ampliação do diálogo com redes de urgência e emergência para diminuir a subnotificação de morte encefálica, e a promoção de cursos continuados. “Quero visitar os serviços, ouvir e expandir ações”, enfatiza Sandra Coccaro.

METAS – Há quatro anos, o médico Valter Duro Garcia tem se dedicado a supervisionar o serviço de transplantes e melhorar o sistema de doações de órgãos em Porto Velho (RO) e Santarém (PA), no norte do país. Agora, fará parte também do comitê consultivo do RS.

Idealizador e primeiro coordenador da Central de Transplantes do RS e chefe do Serviço de Transplante Renal da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Garcia sugere estabelecer metas: quantos doadores pode-se obter e o que é preciso fazer para atingir esse objetivo?

“Os hospitais são diferentes, com problemas distintos. Tem que saber o que acontece em cada um e realocar profissionais para atender às demandas”, observa.

Fernanda Paiva Bonow, médica intensivista pediátrica da Santa Casa e coordenadora da Organização de Procura de Órgãos (OPO1), também integrará o comitê consultivo da Central de Transplantes. Para ela, é preciso fazer uma análise dos pontos críticos em cada região, repensar logísticas de transporte e distribuição de órgãos, cuja demora pode gerar a desistência da doação por parte da família, e investir em treinamentos.

A expectativa com a nova coordenação da Central de Transplantes é igualmente grande no Grupo Hospitalar Conceição (GHC), que, como muitos hospitais, está reestruturando os plantões de sobreaviso de doações devido à contingência econômica. “O apoio da Central de Transplantes é importante para ajudar a encontrar soluções”, enfatiza José Luis Toríbio Cuadra, coordenador da CIHDOTT/GHC.

ORIENTAÇÃO – Qualificação profissional permanente, remuneração dos coordenadores de transplantes e implantação de roteiros técnicos em todo o processo de doação são essenciais para melhorar os resultados, atesta o médico Joel Andrade, coordenador da Central de Transplantes de Santa Catarina, cujo modelo, baseado no sistema espanhol, inspirou também o Paraná.

“Não adianta esclarecer a população sobre doação de órgãos se os profissionais de saúde não estão capacitados”, argumenta.

Para a coordenadora da Central de Transplantes do Paraná, Arlene Badoch, a palavra-chave é planejamento. O Paraná, que em 2010 tinha 6,8 doadores por milhão de população (pmp), alcançou em 2018 a taxa de 47,7 doadores pmp – o melhor índice do Sul –, e deve encerrar 2019 com 41 doadores pmp.

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