SAÚDE

Um prêmio à luta pela igualdade de gênero

Antropóloga Débora Diniz é agraciada com o Dan David Prize por seu trabalho de resistência em favor dos direitos reprodutivos das mulheres
Por Gilson Camargo / Publicado em 14 de fevereiro de 2020
Débora: “Se fui agraciada é porque sou uma brasileira na linha de frente da resistência à ofensiva contra os direitos das mulheres e meninas”

Foto: Agência Pública/ Divulgação

Débora: “Se fui agraciada é porque sou uma brasileira na linha de frente da resistência à ofensiva contra os direitos das mulheres e meninas”

Foto: Agência Pública/ Divulgação

A antropóloga Debora Diniz, professora da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora da organização Anis Instituto de Bioética recebeu nesta semana o prêmio Dan David na categoria igualdade de gênero. Instituída em 2001, a premiação reconhece pesquisas interdisciplinares que “quebram paradigmas e fronteiras” em sua área, promovendo “impacto social e cultural”. Débora, que saiu do Brasil em 2018, após sofrer ameaças de morte nas redes sociais devido à sua posição com relação aos direitos reprodutivos das mulheres dividiu o prêmio de US$ 1 milhão com a professora indiana Gita Sen, que atua na área de empoderamento econômico da mulher.

“Sim, elas são mulheres comuns. A Pesquisa Nacional do Aborto nos mostra que este é o perfil da mulher que aborta no Brasil: 67% têm filhos, 88% declaram ter religião, sendo que 56% são católicas, 25% evangélicas ou protestantes e 7% professam outras religiões”, disse a antropóloga em uma audiência no STF em 2018

Foto: Carlos Moura/ SCO/ STF

“Sim, elas são mulheres comuns. A Pesquisa Nacional do Aborto nos mostra que este é o perfil da mulher que aborta no Brasil: 67% têm filhos, 88% declaram ter religião, sendo que 56% são católicas, 25% evangélicas ou protestantes e 7% professam outras religiões”, disse a antropóloga em uma audiência no STF em 2018

Foto: Carlos Moura/ SCO/ STF

“Se fui agraciada é porque sou uma brasileira na linha de frente da resistência à ofensiva contra os direitos das mulheres e meninas”, escreveu em uma mensagem no Twitter, destacando que é a segunda mulher da América Latina a receber “este importante prêmio acadêmico”.

Em sua coluna no jornal El País, ela tem abordado as ameaças aos direitos das mulheres no continente e no mundo juntamente com Giselle Carino, cientista política argentina e diretora nas Américas da organização pelos direitos reprodutivos International Planned Parenthood Federation (IPPF). “Agradeço a todas as mulheres que eu conheci ao longo da minha carreira de pesquisadora. É alentador saber que a luta pelo aborto no Brasil é central à igualdade no mundo”, destacou

Imagem: Twitter/ Reprodução

Imagem: Twitter/ Reprodução

Ao criminalizar o aborto fracassamos enquanto Estado no cuidado e atenção à saúde e aos direitos reprodutivos das mulheres brasileiras. Todos os anos, meio milhão de mulheres arriscam suas vidas e saúde em procedimentos clandestinos

 

Sua carreira acadêmica é marcada pelo debate qualificado sobre o aborto enquanto questão de saúde pública. “Criminalizar o aborto representa que estamos fracassando enquanto Estado no cuidado e atenção à saúde e aos direitos reprodutivos das mulheres brasileiras. Segundo a Pesquisa Nacional do Aborto, só em 2015 meio milhão de mulheres arriscaram suas vidas e saúde em procedimentos clandestinos. De acordo com dados do Ministério da Saúde, entre 2008 e 2017, o SUS gastou R$ 500 milhões com internações por complicações por abortos inseguros. Criminalizar é ignorar essa situação, é colocar no escuro todas essas mulheres que necessitam do acolhimento adequado dos serviços de saúde. E ainda mais grave, é esquecer mulheres como Ingriane Barbosa, mulher jovem que morreu precocemente com um talo de mamona no útero, deixando três filhos órfãos”, alerta.

A antropóloga se destacou nas discussões sobre interrupção da gravidez junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) – Leia a entrevista Aborto, quando a Lei mata, que Débora Diniz concedeu ao Extra Classe em setembro de 2018.

Comentários