SAÚDE

Brasil tem mais de mil mortes pela Covid-19 e quase 20 mil infectados

Enquanto os indicadores da pandemia crescem no país, Bolsonaro fura o isolamento, passeia por Brasília e influencia milhares a irem às ruas
Por Gilson Camargo / Publicado em 10 de abril de 2020
Movimento no Viaduto do Chá durante a quarentena: redução do isolamento aumentou mortes por coronavírus em São Paulo

Foto: Rovena Rosa/ Agência Brasil

Movimento no Viaduto do Chá durante a quarentena: redução do isolamento aumentou mortes por coronavírus em São Paulo

Foto: Rovena Rosa/ Agência Brasil

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) evocava o direito constitucional de ir e vir e descumpria o decreto do governo do Distrito Federal que proíbe o consumo de alimentos em estabelecimentos comerciais com licença de funcionamento, o país ultrapassava mil mortes por coronavírus e quase 20 mil infectados nesta sexta-feira, 10.

Enquanto o país ultrapassava mil mortos pelo coronavírus, Bolsonaro passeava por Brasília. Na imagem, o presidente limpa o nariz com o braço...

Imagem: TV Globo/ Reprodução

Enquanto o país ultrapassava mil mortos pelo coronavírus, Bolsonaro passeava por Brasília. Na imagem, o presidente limpa o nariz com o braço…

Imagem: TV Globo/ Reprodução

Alheio à pandemia e às medidas de isolamento, o presidente andou novamente por áreas comerciais e residenciais da capital federal. Brasília é uma das unidades da Federação com o maior número de contágios (555) e 17 mortes. Bolsonaro relativizou as orientações das autoridades sanitárias para que a população mantenha o isolamento social como estratégia para reduzir o número de contágios e evitar o colapso nos sistemas de saúde e foi ao Hospital das Forças Armadas (HFA), entrou numa farmácia e em um prédio residencial no setor Sudoeste. Cercado por apoiadores, distribuiu apertos de mão. Após limpar o nariz com o braço, ele estendeu a mão direita para cumprimentar uma mulher. Na quinta-feira, o presidente fez outra demonstração de descaso pela pandemia.

... e, em seguida aperta a mão de uma mulher

Imagem: Rede Globo/ Reprodução

… e, em seguida aperta a mão de uma mulher

Imagem: Rede Globo/ Reprodução

Em uma padaria de Brasília, abraçou a claque que o acompanhava e fez um lanche com refrigerante no local. As medidas de emergências do governo do DF permitem que as padarias abram as portas, mas o consumo no local é vetado. Ao deixar outro desses estabelecimentos nesta Sexta-Feira Santa, desafiou: “eu tenho o direito constitucional de ir e vir. Ninguém vai tolher minha liberdade de ir e vir. Ninguém”. Em todo o país, o descaso e a incapacidade de assimilar a gravidade da pandemia exibidos pelo chefe da nação contagiaram milhares de pessoas que, influenciadas por Bolsonaro, lotaram mercados públicos, feiras de peixes e espaços de lazer nos grandes centros.

VÍRUS MORTAL – De acordo com o Ministério da Saúde, o número de infectados notificados pelas secretarias estaduais de Saúde, às 16h, já chegava a 19.638, o que representava um aumento de 1.781 casos em relação ao balanço divulgado na tarde anterior. Além disso, o número de óbitos pela covid-19 superou as mil notificações. Até o momento, foram registradas 1.056 mortes pela doença. A taxa de letalidade do vírus no país é de 5,4%.

Pescadores e populares lotaram o Mercado dos Peixes, na praia do Mucuripe, em Fortaleza, nesta Sexta-Feira Santa

Imagem: Reprodução

Pescadores e populares lotaram o Mercado dos Peixes, na praia do Mucuripe, em Fortaleza, nesta Sexta-Feira Santa

Imagem: Reprodução

O estado de São Paulo ainda concentra o maior número de casos (8.216) e de mortes (540). O Rio de Janeiro vem em segundo lugar, com 2.464 casos e 147 mortes. Na Região Norte, o Amazonas tem o maior número de pessoas infectadas, 981, além de 50 mortes. No Nordeste, o Ceará tem 1.478 casos e 58 mortes. No Centro-Oeste, o DF supera todos os estados, com 555 casos e 17 mortes. Os estados do Sul apresentam números de casos mais próximos. Santa Catarina é o estado da região com mais casos, 693, e o Rio Grande do Sul com o menor número de infecções notificadas, 640 e 15 mortes.

Redução do isolamento aumenta número de mortes em São Paulo

Em coletiva, o governador João Dória e o coordenador do Centro de Contingência reforçam medidas de prevenção ao covid-19, David Uip, alertaram para o aumento do número de mortos no estado

Foto: Governo de São Paulo/ Divulgação

Em coletiva, o governador João Dória e o coordenador do Centro de Contingência reforçam medidas de prevenção ao covid-19, David Uip, alertaram para o aumento do número de mortos no estado

Foto: Governo de São Paulo/ Divulgação

O índice de isolamento social no estado de São Paulo caiu 12,9% na última semana, conforme levantamento do governo paulista em parceria com as principais operadoras de telefonia celular. Com isso, o número de mortes pela doença cresceu 152%, de acordo com a Secretaria Estadual da Saúde.

Em 3 de abril, 54% das pessoas no estado estavam em distanciamento social, índice que caiu para 47% na quinta-feira, 9. Já o número de óbitos no período passou de 214 para 540.

O total de casos aumentou de 4.048 em 3 de abril para 8.216 nesta sexta-feira, 10, o que representa aumento de 103% em apenas uma semana, segundo dados consolidados pela SES/SP.

De acordo com o Coordenador do Centro de Contingência do coronavírus em São Paulo, o médico infectologista David Uip, a adesão ideal ao isolamento social para controlar a disseminação da covid-19 é de 70%. Se a taxa continuar baixa, o número de leitos disponíveis no sistema de saúde não será suficiente para atender a população.

Após 45 dias da confirmação do primeiro caso do Brasil, a doença já provocou 540 óbitos e 8.216 casos confirmados no estado de São Paulo, conforme balanço desta sexta-feira. Nas últimas horas foram confirmadas 44 mortes e 736 casos.

O primeiro contágio no país foi confirmado na cidade de São Paulo, no dia 25 de fevereiro. Porém, desde então, a Covid-19 já teve pelo menos uma vítima fatal em 60 municípios, e no mínimo um caso confirmado em 156 cidades. Do total de óbitos, 308 são homens e 232 mulheres. Os casos fatais continuam concentrados em pacientes com 60 anos ou mais, totalizando 81,8% das mortes.

“Os dados demonstram claramente que conforme caem os índices de isolamento social aumentam casos e mortes de forma vertiginosa. Por isso reforçamos que a melhor vacina contra o coronavírus é ficar em casa. Com 70% de distanciamento social conseguiremos controlar a pandemia”, alerta Uip.

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