SAÚDE

Defensoria alerta para colapso no sistema de saúde da cidade do Rio

Nos hospitais públicos da capital fluminense, 60% dos leitos de enfermaria e 74% de UTI estão ocupados
Por Gilson Camargo / Publicado em 20 de abril de 2020
No hospital municipal Ronaldo Gazolla, 52 dos 60 leitos de UTI estão ocupados por vítimas da covid-19. Cronograma prevê ampliação da capacidade para 201 vagas para pacientes graves

Foto: Mariana Ramos/ PMRJ/ Divulgação

No hospital municipal Ronaldo Gazolla, 52 dos 60 leitos de UTI estão ocupados por vítimas da covid-19. Cronograma prevê ampliação da capacidade para 201 vagas para pacientes graves

Foto: Mariana Ramos/ PMRJ/ Divulgação

O sistema de saúde da cidade do Rio de Janeiro está com 93,9% dos leitos de unidades de terapia intensivas (UTIs) ocupados e pode entrar em colapso muito em breve. O alerta foi feito pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro (DPRJ) e pelo Ministério Público estadual (MPRJ), que ajuizaram ação coletiva para que medidas emergenciais sejam adotadas. Segundo estado com os maiores índices de contaminação e mortes depois de São Paulo, o Rio tem 4.765 casos confirmados de contágio e 402 mortes pela covid-19 – durante o final de semana, foram 61 óbitos. O município do Rio é o que registra o maior número de casos confirmados. Na capital são 3.059. Em seguida vem Niterói com 199 e Duque de Caxias com 170. Ainda na Baixada Fluminense, Nova Iguaçu tem 160 casos. Os quatro municípios também são os que tiveram os maiores números de mortes. No Rio de Janeiro foram 237, em Duque de Caxias houve 34 óbitos, 14 em Niterói e 13 em Nova Iguaçu. Dos 92 municípios do estado, 38 tiveram mortes causadas por covid-19 e 68 com casos confirmados da doença.

Na ação coletiva ajuizada pela Defensoria e pelo MP estadual, as instituições pedem o desbloqueio de 155 dos 287 leitos destinados aos pacientes com coronavírus na capital, conforme previsto no Plano de Contingência à Covid-19, e solicitam que sejam mantidas as medidas de distanciamento social até que todos os leitos estejam funcionando.

Drone com alto-falante é usado para evitar aglomerações na zona sul do Rio de Janeiro

Foto: Tomaz Silva/ Agência Brasil

Drone com alto-falante é usado para evitar aglomerações na zona sul do Rio de Janeiro

Foto: Tomaz Silva/ Agência Brasil

De acordo com o levantamento, feito na sexta-feira, 17, pela plataforma do Sistema de Regulação (Sisreg), o governo do estado e a prefeitura destinaram ao município 749 leitos de UTI para tratamento de covid-19, incluindo os hospitais de campanha, ainda não inaugurados. A coordenadora de Saúde e Tutela Coletiva da DPRJ, Thaisa Guerreiro, destaca que, do total de leitos, 287 são de hospitais estaduais e municipais da cidade e 155 deles ainda não entraram em operação. “Neste momento, em que se aproxima o pico da epidemia, é fundamental que todos os leitos de UTI, programados pelos próprios gestores para o tratamento digno da população, estejam em pleno funcionamento, sobretudo porque não há possibilidade de escoamento desses pacientes na rede existente, já notoriamente deficitária em leitos intensivos”, destacou a coordenadora.

A defensoria aponta que há 61 leitos inoperantes no Hospital Estadual Anchieta; oito no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla; 71 no Hospital Universitário Pedro Ernesto; e cinco no Instituto Estadual do Cérebro. No Hospital das Clínicas (IESS), não foram identificados os 10 leitos previstos no plano de contingência.

O hospital de campanha do Riocentro dispõe de 400 leitos de clínica médica e 100 de UTI, mas só começará a receber pacientes quando a lotação do hospital municipal atingir 70%

Foto: PMRJ/ Divulgação

O hospital de campanha do Riocentro dispõe de 400 leitos de clínica médica e 100 de UTI, mas só começará a receber pacientes quando a lotação do hospital municipal atingir 70%

Foto: PMRJ/ Divulgação

OCUPAÇÃO – Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), nas unidades da rede estadual, 60% dos leitos de enfermaria e 74% de UTI estão ocupados. Há 10 dias, as taxas de ocupação eram de 41% para enfermarias e de 63% para leitos de UTI.

Nas unidades dedicadas ao tratamento de pacientes com covid-19, a secretaria informou que as taxas de ocupação estão em 90,9% dos leitos de UTI no Instituto Estadual do Cérebro; 42,8% de UTI e 42,6% de enfermaria no Hospital Estadual Anchieta; 66,6% de UTI e 30% de enfermaria no Hospital Universitário Pedro Ernesto; e 44,3% de UTI e 55,4% de enfermaria no Hospital Regional do Médio Paraíba. A SES abriu 548 novos leitos exclusivos para pacientes com o novo coronavírus em todo o estado e que vai disponibilizar na capital, na Região Metropolitana e no interior um total de 3.414 leitos, sendo 2 mil em hospitais de campanha. As primeiras unidades de campanha a serem abertas são as do Leblon e do Maracanã. Os hospitais privados também cumprem papel importante e, juntas, as redes pública, federal e privada somam 32 mil leitos de enfermaria e 6,5 mil leitos de terapia intensiva no estado.

CIDADE DO RIO – A Secretaria Municipal de Saúde informou que trabalha para abrir novos leitos de unidade de terapia intensiva para casos de coronavírus, mas que ainda depende de 806 equipamentos que a prefeitura comprou antes da pandemia e que devem chegar entre os dias 27 de abril e 27 de maio. Segundo o órgão, a rede municipal abriu, até o momento, 315 leitos exclusivos para atender pacientes de covid-19, sendo 109 de UTI.

No fim de semana, a prefeitura anunciou a abertura de mais 16 leitos no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, sendo cinco de UTI. Com isso, a unidade de referência da rede municipal para o novo coronavírus passa a contar com 186 leitos, sendo 65 de terapia intensiva e 121 de clínica médica. Mais vagas estão previstas para os próximos dias, podendo chegar a 381 leitos, sendo 201 de terapia intensiva com respiradores.

O hospital de campanha do Riocentro ficou pronto no domingo, 19, e dispõe de 400 leitos de clínica médica e 100 de UTI, mas a unidade só começará a receber pacientes quando a ocupação dos leitos disponíveis no Ronaldo Gazolla chegar a 70%. Os equipamentos para o hospital de campanha devem chegar da China nos últimos dias do mês.

A Secretaria de Saúde está contratando profissionais para atendimento nas unidades de referência para a covid-19. São 1.049 vagas para as especialidades de intensivista, intensivista pediátrico, infectologista e clínico geral. O salário chega a R$ 15.693,95, de acordo com a especialidade e a carga horária, mais os benefícios. A inscrição para o processo seletivo simplificado pode ser feito pela internet. A prefeitura anunciou que vai contratar leitos em hospitais privados, caso a ocupação da rede municipal chegue a 100%.

Em São Paulo, Jundiaí e São José dos Campos flexibilizam restrições ao comércio

Em São José dos Campos, profissionais de saúde comemoraram a recuperação de 12 pacientes que estavam com a covid-19. No último final de semana, a população furou a quarentena e o comércio abriu

Foto: Claudio Vieira/PMSJC/ Divulgação

Em São José dos Campos, profissionais de saúde comemoraram a recuperação de 12 pacientes que estavam com a covid-19. No último final de semana, a população furou a quarentena e o comércio abriu

Foto: Claudio Vieira/PMSJC/ Divulgação

Os municípios de Jundiaí e São José dos Campos, no interior paulista, vão flexibilizar as restrições de funcionamento do comércio que têm sido feitas como forma de conter a pandemia de coronavírus.

Em Jundiaí, o decreto publicado pelo prefeito Luiz Fernando Machado na última sexta-feira, 17, entra em vigor hoje nesta segunda-feira, 20. Pelas novas normas, o comércio de rua pode funcionar desde que em sistema de entregas. Também foram liberados, supermercados, padarias, vendas de produtos perecíveis, agropecuários, construção civil, profissionais liberais e salões de cabeleireiro.

O decreto prevê normas específicas para o funcionamento de cada uma dessas áreas, como distanciamento entre os clientes e uso de equipamentos de proteção pelos funcionários. O número de profissionais em cada estabelecimento também deve ser adequado ao espaço físico disponível.

As recomendações de distanciamento social foram mantidas no decreto para as pessoas com mais de 60 anos ou com doenças que aumentam o risco de morte para o convid-19. A publicação estipula ainda o isolamento para pessoas com sintomas da doença e proíbe eventos que provoquem aglomerações, como shows, teatro e cinema.

Segundo a Prefeitura de Jundiaí, as novas normas foram orientadas pelas evidências de dados do cenário epidemiológico da cidade e parâmetros técnicos de saúde. O município de 419 mil habitantes tem 46 casos confirmados de coronavírus e quatro mortes causadas pela doença.

De acordo com o monitoramento feito pela Secretaria Estadual de Saúde do Estado de São Paulo, Jundiaí registrou no sábado, 18, uma adesão de 51% às medidas de isolamento social. A média no estado ficou em 54%.

Em São José dos Campos, na região do Vale do Paraíba, o novo decreto passa a valer na segunda-feira, 27. O prefeito Felicio Ramuth fez uma apresentação em que justificou as medidas a partir das características do município, como densidade demográfica e infraestrutura em saúde, e em estudos que avaliam a forma de disseminação do coronavírus pelo mundo. “Todo o nosso trabalho é voltado a preservar vidas, usando como base a ciência: dados, informações e estudos epidemiológicos”.

O novo decreto municipal, que substitui as normas de quarentena estipuladas no final de março, permite a abertura de escritórios, do comércio em geral, de shoppings e salões de beleza. Os estabelecimentos deverão, no entanto, solicitar uma autorização temporária de funcionamento e se adequar a uma série de regras, como o uso de máscaras pelos trabalhadores. Os locais com mais de 40 funcionários deverão fazer escalonamento em turnos.

Os restaurantes só podem funcionar em regime de entrega ou pague e leve. Mesmo as praças de alimentação dos shoppings devem continuar fechadas, assim como cinemas e teatros.

No sábado, São José dos Campos registrou uma adesão de 55% às medidas de isolamento social. A cidade tem 722 mil habitantes. Foram notificadas três mortes por coronavírus e 16 aguardam resultados dos exames. Os casos confirmados de convid-19 são136 e os suspeitos 521.

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