SAÚDE

Com UTIs no limite, Santa Catarina tem risco iminente de colapso no sistema de Saúde

Secretários municipais de Saúde cobram do governo medidas urgentes: das 16 regiões que congregam os 295 municípios catarinenses, 13 estão em situação de alerta gravíssimo, com 80% das UTIs lotadas
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 26 de novembro de 2020
Justiça determinou abertura de leitos de UTI no Hospital Municipal Ruth Cardoso, em Camboriú, que teve 100% de lotação

Foto: Secom SC/ Divulgação

Justiça determinou abertura de leitos de UTI no Hospital Municipal Ruth Cardoso, em Camboriú, que teve 100% de lotação

Foto: Secom SC/ Divulgação

O Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Santa Catarina (Cosems-SC) relata “risco iminente de colapso” no sistema de saúde do estado por conta do agravamento da pandemia de Covid-19. Em ofício, a entidade alertou na última quarta-feira, 25, o governo catarinense sobre a gravidade da situação no estado. O documento cita que a taxa de ocupação das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) do estado já se encontra em situação superior a 80%. Uma das preocupações listadas pelo Cosems-SC é a recente autorização dada pelo Executivo estadual para o retorno das aulas presencias.

Segundo os gestores municipais da saúde em Santa Catarina, o monitoramento da crise sanitária no estado aponta que o recrudescimento da pandemia já se alastrou. Hoje, 13 das 16 regiões que congregam os 295 municípios catarinenses estão em situação de alerta gravíssimo para a enfermidade.

Em Santa Catarina, os últimos dados registram 3.114 mortes por Covid-19 e um quadro de 260.057 mil casos de infeção desde o início da pandemia.

A governadora Daniela Reinehr comandou reunião virtual com a Fecam e primeiro escalão de governo para tratar de soluções conjuntas para o enfrentamento pandemia

Foto: Julio Cavalheiro / Secom SC

A governadora Daniela Reinehr comandou reunião virtual com a Fecam e primeiro escalão de governo para tratar de soluções conjuntas para o enfrentamento pandemia

Foto: Julio Cavalheiro / Secom SC

O ofício é assinado pelo presidente do Cosems-SC, Alexandre Lencina Fagundes, atual Secretário Municipal de Saúde de Cunha Porã, e endereçado diretamente para a governadora interina Daniela Reinehr (sem partido). Ela, vice-governadora eleita, substitui o governador Carlos Moisés (PSL), afastado por seis meses pela Assembleia Legislativa do estado para responder ao primeiro processo de impeachment de Santa Catarina.

Bolsonarista, Daniela causou recentemente uma polêmica por se recusar a responder se concordava com a visão de seu pai, Altair Reinehr, professor aposentado que colaborava com uma editora especializada em livros de teor antissemita e negava o holocausto e outros crimes da Alemanha nazista.

Negligência e catástrofe

Das 16 regiões de saúde avaliadas, apenas três, Extremo-Oeste, Alto Uruguai Catarinense e Foz do Rio Itajaí, não ficaram no Risco Gravíssimo

Foto: Ricardo Wolffenbuttel / Secom SC

Das 16 regiões de saúde avaliadas, apenas três, Extremo-Oeste, Alto Uruguai Catarinense e Foz do Rio Itajaí, não ficaram no Risco Gravíssimo

Foto: Ricardo Wolffenbuttel / Secom SC

Intitulado Cosems-SC alerta para risco de aumento da pandemia, o ofício reivindica que o Executivo estadual volte a fazer campanha nas redes sociais e nos veículos de comunicação da região para incentivar o processo de conscientização da população.

Enfatizando a importância de reforçar as práticas de distanciamento social e o uso de máscaras, o Cosems-SC ainda alerta a governadora interina sobre a importância da fiscalização das medidas de segurança para a população.

A entidade, que é gestora bipartite do Sistema Único de Saúde (SUS) em Santa Catariana, ainda ressalta a necessidade de o governo implementar medidas imediatas que tenham como base as orientações da ciência, “sob pena de o Estado vivenciar situação catastrófica idêntica a outras regiões e alguns países, onde o resultado da negligência foi a contratação de caminhões com câmaras frias para guardar vítimas da pandemia”.

Para os secretários de saúde dos municípios catarinenses, o empenho do governo estadual para que a população “adote uma posição colaborativa” vai contribuir para evitar o risco de mortes e sequelas que a Covid-19 deve deixar por um longo tempo. “Ressalte-se que nem Estado e, menos ainda, os municípios dispõem de equipes suficientes para atender tais demandas”, alerta o documento.

Desativação de leitos

Fagundes, presidente do Cosems-SC e secretário de saúde de Cunha Porã

Foto: SMS Cunha Porã/Divulgação

Fagundes, presidente do Cosems-SC e secretário de saúde de Cunha Porã

Foto: SMS Cunha Porã/Divulgação

No dia 20, o governo catarinense comunicou que havia notificado hospitais por conta da desativação de 232 leitos exclusivos de UTI para pacientes diagnosticados com o novo coronavírus.

Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (SES), um levantamento feito pelo Executivo mostrou que o déficit chegava a 17,4% no número de unidades no estado. A pedido do Ministério Público, a Justiça havia determinado prazo de 48 horas para que o governo remanejasse pacientes do Hospital Municipal Ruth Cardoso, em Balneário Camboriú, que na tarde de quinta-feira, 19, chegou a 100% de lotação.

Segunda onda

Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os estados brasileiros que estão com pelo menos uma região com tendência de alta nos casos de Covid-19 passaram de 15 para 21 no período de uma semana.

O mais recente relatório da Fiocruz, compreendendo o período de 15 a 21 de novembro, demonstra que atualmente apenas seis unidades da Federação registram sinais de queda ou estabilização da pandemia: Amazonas, Amapá, Goiás, Pernambuco, Roraima e Rondônia.

O recrudescimento da pandemia nas últimas semanas em diversas capitais e cidades grandes é notório.

No último dia 24, a cidade do Rio de Janeiro registrou a taxa de 91% de ocupação de leitos de UTIs dedicadas à Covid-19. Na região leste do Paraná, a taxa de ocupação de UTIs para pacientes com Covid-19 chega a 88%.

Em Porto Alegre, os hospitais públicos e privados estão diante de seu limite, com uma taxa total dos leitos operacionais de UTI ocupados em 90,02%.

São Paulo, o estado mais atingido pela pandemia, registra que todos os seus 645 municípios têm pelo menos uma pessoa infectada e, nesses, 597 com um ou mais óbitos.

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