SAÚDE

Jogos Brasileiros de Transplantados premia vários gaúchos

Campeonato ocorreu de 1º a 4 de setembro em Curitiba, Paraná, reunindo 67 atletas do Brasil e da América Latina
Por Stela Pastore / Publicado em 8 de setembro de 2022
Jogos Brasileiros de Transplantados premia vários gaúchos

Sete gaúchos e gaúchas participaram dos jogos entre os 67 inscritos

Foto: Liège Gautério/Arquivo Pessoal

“Valeu muito essa união e celebração através do esporte. Transplantados cuidando da saúde, divulgando a causa da doação de órgãos. Um evento muito bonito marcando a nossa segunda chance de viver”, registrou a educadora física Liège Gautério, 49 anos, transplantada pulmonar há 10 anos, bicampeã mundial dos 100 metros rasos e idealizadora do movimento Se Mexe TX, que mobilizou os atletas para o evento.

Vários dos competidores participaram do painel sobre a importância dos exercícios físicos, promovido pelo projeto Cultura Doadora no mês passado, projeto mantido pela Fundação Ecarta, que completa 10 anos estimulando a doação de órgãos e tecidos. As atividades ligadas ao tema se intensificam nesta época por ser o Setembro Verde, mês da conscientização sobre o tema.

“É um momento cheio de sentimentos e sentidos. Foi muito importante”, relatou a professora e psicóloga Cláudia Picolotto, 47 anos, que participou da caminhada de 5 km. Transplantada de fígado há um ano e três meses, conta que fazia fisioterapia, mas em maio passou a treinar com orientação da Liège que a estimulou a estar nos jogos.

Cláudia foi a primeira paciente no Rio Grande do Sul a realizar um transplante adulto de fígado intervivos do RS, quando o filho de 18 anos doou 60% do órgão para a mãe.

Encontros inspiradores

Kassiano Knack, 21 anos, transplantado pulmonar bilateral há 2 anos e meio, conquistou o segundo lugar na corrida de 5 km na categoria 18 a 35 anos. “Foi fantástico. É a primeira vez que participo de uma competição assim e também a primeira vez que viajei para fora do RS”, relata o atleta que se encantou com a beleza da capital paranaense e a oportunidade de encontrar tantos transplantados realizando práticas esportivas.

Gestora hospitalar e transplantada renal, Adriana Teles, 44 anos, estava preparada para as provas de atletismo de 100 e 400 metros, mas o excesso de chuva prejudicou a pista e impediu esta modalidade de ocorrer. A atleta migrou para a corrida de 5 km e garantiu medalha de bronze.

“Minha experiência, foi muito boa. Estar ali correndo e com uma qualidade de vida excelente devido à doação de órgãos é emocionante”. Transplantada há três anos, ela comemora a retomada da vida.

“Me sinto vitoriosa desde o dia em que transplantei. Minha medalha é o meu renascimento, vida nova de muita gratidão! Encontrei pessoas que sabem dar valor a vida e reconhecem o poder de receber um órgão, por alguém, que nem se quer te conhecia. Amor maior não, há! Gratidão imensa pela família e principalmente pelo meu doador”, sublinha.

Transplantada há um ano e oito meses, Monique Perosa, também se sentiu vitoriosa de participar da caminhada com um coração novo. Acompanhada pelo namorado, ela foi de Caxias do Sul para Curitiba e entende que essas atividades merecem incentivo para mostrar o valor da doação de órgãos para salvar vidas.

Vitórias pela vida

Milena Cabral, 43 anos está no segundo transplante de rim realizado em 10 de fevereiro de 2021. Cega desde os 13 anos em decorrência das medicações do primeiro transplante, participou da corrida acompanhada de um guia, seu professor de Pilates.

“Foi muito importante encontrar pessoas com experiências semelhantes as minhas. Era como se antes existisse uma lacuna dentro de mim que eu nem sabia existir, mas agora me sinto abraçada por todos, me sinto de volta à vida”, conta fortalecida com a experiência.

O primeiro transplante ocorreu em 1989 quando recebeu um rim da mãe. Após 31 anos perdeu novamente a função renal e retornou à hemodiálise até o novo transplante. “Mesmo nesse período nunca parei de praticar atividade física. Nesse sentido o Pilates foi essencial para me manter fortalecida e me preparar para o retransplante”, celebra, estimulando os transplantados a manterem atividade física orientada.

Jeferson Luis Lacerda Probo, 46 anos, professor, transplantado de fígado há três anos, um dos fundadores da Liga de Atletas Transplantados do Brasil voltou para casa com cinco medalhas. Ele conquistou bronze em quatro modalidades: bronze no ciclismo, natação 400 metros, corrida e triátlon; além de prata em tênis de mesa.

“Essa emoção precisa ser vivenciada por todos os transplantados porque é uma experiência única como é o transplante para cada um. É indescritvel estar com outros transplantados de coração, rins, pulmão, córneas e próximo a famílias doadoras compartilhando e celebrando a vida e os esportes. Volto transformado em tendo a certeza que os esporte e a prática atividade física é imprescindível para nossas vidas”, sublinha o atleta do Piauí.

Setembro verde

Transplantada de pâncreas e rim, Cleide Ludimila de Castro Silva foi mais uma integrante da competição que teve sete modalidades. A primeira edição dos Jogos dos Transplantados foi realizada em 2019 e depois suspensa devido à pandemia da covid-19. A competição ocorre neste período para marcar o Setembro Verde, mês dedicado ao estímulo à doação de órgãos. Esta edição foi realizado com apoio da Prefeitura de Curitiba com a cooperação técnica da Associação Brasileira de Transplantados (ABTx), entidade que dá apoio e orienta as pessoas que passaram pelo procedimento em todo o Brasil.

O Paraná ocupa a liderança em doações entre os estados brasileiros. O RS já foi o primeiro, mas atualmente ocupa o oitavo lugar. O Brasil possui a maior rede pública de transplantes do mundo e é o segundo país que mais transplanta, atrás apenas dos EUA. O país tem aproximadamente 52 mil pessoas na lista de transplante sendo 2500 no Rio Grande do Sul.

Na pandemia a queda nos volume de transplantes superou os 30%, fator que aumentou os óbitos de quem aguardava o procedimento. “O desafio permanente é ampliarmos a consciência para a importância da doação e salvar mais vidas”, completa a coordenadora do Cultura Doadora, Glaci Borges, adiantando que várias atividades estão agendadas para este mês.

Cultura doadora

O projeto Cultura Doadora reforça ainda mais a programação em setembro:

27/9, 19h – Painel virtual Famílias doadoras, com a participação de familiares que disseram sim para a doação de órgãos de parentes. Transmissão ao vivo pelo canal da Fundação Ecarta no Youtube.

28/9, 19h – Show com Los 3 Plantados e convidados especiais, com entrada franca. Presencial na sede da Fundação Ecarta (Avenida João Pessoa, Porto Alegre), com transmissão ao vivo pelo canal da Fundação Ecarta no Youtube.

29/9, 19h – Painel virtual  Morte, religião e doação de órgãos, com a participação de representantes de várias religiões. Transmissão ao vivo pelo canal da Fundação Ecarta no Youtube.

 

 

 

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