SAÚDE

Dióxido de titânio, o corante que causa danos ao DNA

Banido na comunidade europeia devido a risco de provocar alterações e danos genéticos, corante é autorizado em 37 categorias de alimentos no Brasil
Por Gilson Camargo / Publicado em 26 de julho de 2023

Foto: Desrotulando/ Divulgação

No Brasil, o dióxido de titânio está presente em 37 grupos de alimentos e o seu potencial de danos à saúde não aparece nos rótulos

Foto: Desrotulando/ Divulgação

A adição de dióxido de titânio (TiO2) como corante pela indústria de alimentos ultraprocessados foi banida pela União Europeia em 2021 devido ao potencial genotóxico dessa substância.

O pó branco usado para transformar a gosma preta derivada de petróleo em chicletes branquinhos ou simular a turbidez em sucos transparentes, por exemplo, ainda vai continuar na mesa dos brasileiros por muito tempo.

Isso porque a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) hesita em admitir que esse aditivo coloca em risco a saúde dos consumidores.

Com base em estudos científicos realizados nos últimos 15 anos que comprovam que as partículas dessa substância são capazes de induzir à quebra nas fitas do DNA e provocar outros danos ao cromossoma, a agência regulatória europeia decretou que o dióxido de titânio já não é mais seguro para consumo humano.

A Anvisa, no entanto, se mantém em cima do muro e adiou mais uma vez a decisão em relação ao banimento do aditivo. Há dois anos, a Anvisa havia reconhecido que “há evidências que indicam a pertinência da adoção de medidas restritivas quanto ao uso de dióxido de titânio em alimentos”.

A reavaliação chegou a entrar na agenda da agência e estava prevista para acontecer até o fim de 2023, mas a discussão acabou adiada por tempo indeterminado, conforme informou a assessoria da Anvisa ao ser questionada, em junho, pelo site O joio e o trigo.

“O aditivo é um pó branco, usado como corante pela indústria de ultraprocessados há décadas. É o que explica a possibilidade de algo feito a partir de derivados do petróleo, como um chiclete, ser superbranco”, esclarece a reportagem. No Brasil, o TiO2 continua autorizado em quase 40 categorias de alimentos, alerta.

Uso e consumo indiscriminados

 

Imagem: Reprodução

Usado como corante pela indústria de alimentos ultraprocessados, o TiO2 tem potencial de causar danos ao material genético humano

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O dióxido de titânio, titânia ou óxido natural de titânio, presente em produtos e alimentos ultraprocessados, é composto por dois átomos de oxigênio e um do metal titânio, que é indissolúvel.

Além de proporcionar a alteração da cor dos alimentos, a substância tem o potencial de causar danos ao material genético humano. “A substância também é capaz de deixar uma mistura mais ou menos turva, impedindo que um suco em pó, por exemplo, fique totalmente transparente”, apurou a jornalista Mylena Melo.

A Anvisa autoriza o uso do TiO2 em 37 categorias de alimentos: chicletes, balas, sucos em pó, bebidas não alcoólicas em geral, cereais matinais, margarinas, molhos, queijos, requeijão, sopas, caldos, preparações prontas, produtos de panificação e confeitaria, entre outros. O uso pela indústria de alimentos é ilimitado, ou seja, o fabricante pode adicionar a quantidade de dióxido de titânio que bem entender e os consumidores nunca terão acesso a essa informação, já que se trata de segredo industrial, sem informações a respeito nos rótulos.

A última avaliação toxicológica da substância havia sido feita há mais de 50 anos pela FAO. Como os estudos à época mostravam que o TiO2 não se acumulava no organismo e não foram observados efeitos tóxicos após a absorção de íons de titânio, não seria necessário estabelecer um valor de ingestão diária aceitável.

Essas conclusões foram colocadas em xeque por novos estudos e o uso do aditivo foi revisto na Europa. Em 2019, por precaução, a França suspendeu duas vezes pelo período de um ano a comercialização e o consumo de alimentos fabricados com a adição da substância. Em 2021, a EFSA fez nova avaliação de risco e concluiu que o dióxido de titânio não poderia mais ser considerado seguro devido ao seu potencial genotóxico.

No Brasil, o aditivo é vendido livremente na web. “Ele está disponível para qualquer um e por um preço bem baixo: no site Mercado Livre, por exemplo, um quilo do aditivo sai por cerca de R$ 40,00”, revela.

Um artigo publicado em março de 2021 pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) mostram que as partículas do aditivo podem induzir a danos às sequências de DNA, provocar outros danos nos cromossomos e também se acumular no organismo. A pesquisa demonstra que traços do TiO2 foram encontradas no fígado, baço, rim e tecidos intestinais em cadáveres.

Além disso, o consumo pode desequilibrar o sistema imunológico, afetar testículos e espermatozóides e até mesmo se transferir através da placenta para fetos quando consumidos durante a gestação.

*Com reportagem do site ‘O joio e o trigo’.

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