SAÚDE

Vacinação do SUS contra dengue abrange 521 municípios a partir de fevereiro

Esquema vacinal terá composto por duas doses. Brasil é o primeiro país do mundo a oferecer o imunizante no sistema público. São 37 regiões de saúde consideradas endêmicas
Por Gilson Camargo / Publicado em 25 de janeiro de 2024
Vacinação do SUS contra dengue abrange 521 municípios a partir de fevereiro

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Agentes de vigilância em saúde estão fiscalizando e orientando moradores nas regiões consideradas endêmicas sobre focos do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O Ministério da Saúde informou que 521 municípios brasileiros foram selecionados para iniciar a vacinação contra a dengue via Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de fevereiro. As cidades compõem um total de 37 regiões de saúde que, segundo a pasta, são consideradas endêmicas para a doença.

O Rio Grande do Sul não se enquadra nesse critério e por isso não foi incluído na lista de regiões desta primeira fase de vacinação.

O estado informou que mantém monitoramento dos casos de dengue realizado pela Secretaria da Saúde (SES), por meio do Centro de Vigilância em Saúde (Cevs). No dia 11, foi apresentado um alerta para o aumento de registros da doença, durante as duas primeiras semanas de 2022, 2023 e 2024. Conforme dados do Painel de Casos de Dengue RS, nas duas primeiras semanas de 2022 foram registrados 63 casos confirmados; em 2023, 42; e em 2024, 216.

Vacinação do SUS contra dengue abrange 521 municípios a partir de fevereiro

Foto: José Cruz/Agência Brasil

A ministra da Saúde, Nisía Trindade (c) durante entrevista coletiva no ministério para apresentar as estratégias para controle da dengue

Foto: José Cruz/Agência Brasil

O esquema vacinal no Brasil será composto por duas doses, com intervalo de três meses entre elas. O país é o primeiro do mundo a oferecer o imunizante no sistema público.

A vacina Qdenga, produzida pelo laboratório da Takeda Pharmaceuticals no Brasil, foi incorporada ao SUS em dezembro do ano passado, após análise da Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologias no SUS (Conitec).

“Estamos desde novembro do ano passado em um processo de acompanhamento da dengue. Instituímos uma Sala de Situação de Arboviroses, também preocupados com Chikungunya e zika, porque são doenças associadas ao Aedes aegypti. A Sala reúne a equipe da Vigilância em Saúde e vários especialistas. Já tínhamos feito uma alerta de um prognóstico de aumento de casos nesses meses, o que tem se confirmado agora. Como sempre, os registros de casos não ocorrem de forma uniforme, em razão das características do nosso País, mas em algumas regiões vemos esse aumento expressivo dos casos”, ressaltou a ministra da Saúde, Nísia Trindade, em coletiva sobre o assunto nesta quinta-feira, 25.

Contágio avança

A ministra destacou que 75% dos focos do mosquito transmissor estão em residências, o que mostra a importância do controle nesses locais. “Reduzir os casos  de dengue tem que ser uma ação do governo, mas também de cada cidadão. Tem que ser uma união de esforços. É uma doença que, em alguns casos, agrava, e para isso, estamos adotando medidas para evitar hospitalizações e mortes que são evitáveis”, disse.

De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registrou, nas três primeiras semanas de 2024, 12 mortes por dengue e 120.874 casos prováveis da doença. No mesmo período do ano passado, foram contabilizados 26 óbitos e 44.753 casos prováveis.

Há ainda 85 óbitos em investigação. “Vivemos um momento de grande preocupação em relação à dengue”, avaliou a ministra Nísia Trindade.

A pasta confirmou que os quatro sorotipos da dengue circulam no país atualmente – inclusive o sorotipo 3, que não circulava de forma epidêmica no Brasil há mais de 15 anos. O sorotipo 1 é classificado atualmente como predominante.

“Temos a circulação dos quatro sorotipos ao mesmo tempo no país. Realmente é bastante preocupante”, reforçou a diretora do departamento de Doenças Transmissíveis do ministério, Alda Cruz.

Critérios

Vacinação do SUS contra dengue abrange 521 municípios a partir de fevereiro

Foto: Rogério Vidmantas/Prefeitura de Dourados

Foto: Rogério Vidmantas/Prefeitura de Dourados

Vacina Qdenga foi incorporada ao SUS em dezembro do ano passado

As regiões selecionadas atendem a três critérios: são formadas por municípios de grande porte, com mais de 100 mil habitantes; registram alta transmissão de dengue no período 2023-2024; e têm maior predominância do sorotipo DENV-2. Conforme a lista, 16 estados e o Distrito Federal têm cidades que preenchem os requisitos.

A pasta confirmou ainda que serão vacinadas crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, faixa etária que concentra maior número de hospitalizações por dengue.

Os números mostram que, de janeiro de 2019 a novembro de 2023, o grupo respondeu por 16,4 mil hospitalizações, atrás apenas dos idosos, grupo para o qual a vacina não foi autorizada.

Vacinação do SUS contra dengue abrange 521 municípios a partir de fevereiro

Infográfico: ABR/ Divulgação

Infográfico: ABR/ Divulgação

De acordo com o MEC, a definição de um público-alvo e regiões prioritárias para a imunização foi necessária em razão da capacidade limitada de fornecimento de doses pelo laboratório fabricante da vacina. A primeira remessa com cerca de 757 mil doses chegou ao Brasil no último sábado. O lote faz parte de um total de 1,32 milhão de doses fornecidas pela farmacêutica.

Outra remessa, com mais de 568 mil doses, está com entrega prevista para fevereiro. Além dessas, o Ministério da Saúde adquiriu o quantitativo total disponível pelo fabricante para 2024: 5,2 milhões de doses.

De acordo com a empresa, a previsão é que sejam entregues ao longo do ano, até dezembro. Para 2025, a pasta já contratou 9 milhões de doses.

Rio Grande do Sul

Um aumento de casos de dengue no RS foi informado pelo Centro de Vigilância em Saúde (Cevs) no dia 11 de janeiro, última atualização dos dados do Painel Dengue RS que monitora a doença no estado. No recorte das duas primeiras semanas do ano foram detectados 216 casos neste ano. No ano passado, nesse mesmo período, foram 42 e, no ano anterior, 63.

A chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Cevs, Roberta Vanacôr Lenhardt, afirma que, além desse aumento, outro fator de alerta é a ocorrência de casos confirmados de dengue durante todos os meses do ano – anteriormente, ocorriam somente nos períodos de calor. Isso demonstra que não há mais sazonalidade na circulação do mosquito Aedes Aegypti, transmissor da doença.

“Atualmente, a presença do evento climático El Niño, com chuvas volumosas associadas a altas temperaturas, predispõe ainda mais para o surgimento e manutenção de mais criadouros do mosquito vetor. Essa situação chama a atenção para a importância do cuidado com o meio ambiente, tanto por parte da sociedade, como dos gestores públicos”, explicou Roberta.

Em todo o ano de 2022, o Rio Grande do Sul apresentou 66.812 casos confirmados e 66 óbitos. Em 2023, o Estado apresentou um número total de casos confirmados, até o momento, de 38.221 e 54 óbitos em razão da doença. Apesar de o número absoluto de óbitos ter sido menor do que no ano de 2022, a análise de dados demonstra uma elevação na letalidade da doença, considerando o número de casos confirmados.

DF decreta situação de emergência

A Secretaria de Saúde do Governo do Distrito Federal vai pedir ao Ministério da Defesa apoio do Exército para o combate ao mosquito Aedes aegypti.

Em nota, a secretaria informou que o Serviço de Limpeza Urbana (SLU), a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros já auxiliam na fiscalização do descarte irregular de resíduos visando eliminar criadouros.

“A vacina vem nos dar um alento. Mas temos de fazer nosso dever de casa, nossa parte. Vamos conversar com o Ministério da Defesa e pedir apoio também ao Exército para ampliar a nossa frente de combate ao mosquito”, declarou a secretária de Saúde do DF, Luciene Florêncio, em coletiva de imprensa na quinta-feira, 25.

O governo do Distrito Federal (DF) declarou situação de emergência no âmbito da saúde pública em meio a uma explosão de casos de dengue. O decreto foi publicado em edição extra do Diário Oficial do DF.

Os casos de dengue no DF – registrados nas três primeiras semanas de 2024 – aumentaram 646% em relação ao mesmo período do ano passado. Neste período, houve 17.150 ocorrências suspeitas da doença, das quais 16.628 são classificados como casos prováveis pela Secretaria de Saúde. Em 2023, foram 2.154 casos prováveis da doença.

Dados do boletim epidemiológico mostram que a região administrativa da Ceilândia aparece com maior incidência de dengue (3.963 casos), seguida por Sol Nascente/Pôr do Sol (1.110), Brazlândia (1.045) e Samambaia (997). Há ainda três óbitos provocados pela doença já confirmados em 2024.

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