OPINIÃO

O transe brasileiro e a federalização do PCC

Publicado em 13 de setembro de 2017

O Brasil está em transe, talvez mais profundo do que o dos anos que sucederam o golpe de 1964 e originou um dos marcos do Cinema Novo, o filme Terra em Transe, de Glauber Rocha, lançado um ano antes do AI-5, lei que fecharia as portas da censura a toda forma de contestação cultural ao regime militar. Impossível não estabelecer paralelos com o inverno político e ideológico que se abate sobre o Brasil. Os interesses das oligarquias nacionais são os mesmos. Mudam os atores. Temer é tão caricato ou mais do que o usurpador Porfírio Diaz, interpretado por Paulo Autran, na ficção. A plateia assiste o velho Brasil, das capitanias hereditárias, reclamar privilégios e desprezar os avanços democráticos com inércia. Contribui para isso a desinformação, o excesso de notícias contraditórias, que provocam mais confusão do que consciência. Como diz um dos personagens do filme, um jornalista, “o povo precisa duvidar de todos e não acreditar em nada”.

Neste cenário, de vácuo de credibilidade da política e da ausência do poder público nas periferias e até mesmo no sistema prisional, que está sobre a tutela do Estado – aliás, um Estado em franco encolhimento e desmonte –,  o crime se organizado se estrutura e expande seus negócios e sua influência por todo o país. Vide o Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV).  Essas facções disputam palmo a palmo influência sobre a política, sobre as polícias, o controle das fronteiras, o poder sobre o sistema prisional e aumentam a capilarização do tráfico de drogas e das atividades lícitas e ilícitas que giram em torno deste nas principais capitais e cidades do interior. Sim, o Brasil está em transe, ainda não se sabe para o futuro, para o passado ou para uma realidade cada vez mais caótica, violenta e inacreditável.

Esses e outros temas são tema desta edição.

Boa leitura!

Prêmio de cartum
O cartunista Rafael Corrêa ganhou Menção Honrosa no 44º Salão Internacional de Humor de Piracicaba com a tirinha da série Rato Falho publicada com exclusivamente na edição de maio do jornal Extra Classe. O desenho também ainda concorre ao Prêmio Júri Popular. Os interessados podem avaliar os trabalhos neste link.

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