AMBIENTE

Brasil já perdeu 50% do Cerrado

Em ação contínua e acelerada bioma perde 50% de sua vegetação nativa. Situação pode se agravar devido a falta de recursos para monitoramento
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 5 de outubro de 2020
Em 2019 o desmate no Cerrado representou um terço da área consumida no país

Foto: Reprodução/Fapesp/Divulgação

Em 2019 o desmate no Cerrado representou um terço da área consumida no país

Foto: Reprodução/Fapesp/Divulgação

Dados apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no final de setembro registram que a região do Cerrado já perdeu cerca de 50% de sua flora original. Em 18 anos, 102.603 quilômetros quadrados foram devastados para a expansão do agronegócio no bioma. Segundo informe do instituto dobre o estudo intitulado Uso da terra nos biomas brasileiros, a ação contínua e acelerada e as áreas de vegetação campestre e florestal se reduziram, progressivamente, dando lugar à pastagem com manejo e área agrícola.

Hoje, a pastagem é a segunda atividade mais representativa no uso da terra no bioma. Para o IBGE isso se deve às características históricas de ocupação.

Já a expansão da agricultura está diretamente relacionada as commodities agrícolas. Na região que compreende o Cerrado, são produzidas metade da soja, uma significativa parcela da cana-de-açúcar e tabaco do país.

ONG mostra que houve aceleração nos últimos anos

A transformação do Cerrado revela uma ação contínua e acelerada e as áreas de vegetação campestre e florestal se reduziram, progressivamente, dando lugar à pastagem com manejo e área agrícola

Foto: Reprodução/Ipan/Divulgação

A transformação do Cerrado revela uma ação contínua e acelerada e as áreas de vegetação campestre e florestal se reduziram, progressivamente, dando lugar à pastagem com manejo e área agrícola

Foto: Reprodução/Ipan/Divulgação

Os números do IBGE confirmam e somam-se aos dados retratados no Relatório Anual do Desmatamento do Brasil elaborado pela MapBiomas, organização multi-institucional que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia.

De acordo com a ONG, em 2019 o desmate no Cerrado representou um terço da área consumida no país. Foram mais 4.100 km²  (410 mil hectares) devastados.

A MapBiomas ainda revelou que os índices de desmatamento da região atingiram de forma majoritária terras indígenas e quilombolas, unidades de conservação e assentamentos no primeiro ano do presidente Jair Bolsonaro.

Monitoramento pode parar

A situação do bioma ainda pode se agravar. No fim do ano o Cerrado deve perder o Programa de Incentivo Florestal (FIP, na sigla em inglês) que é responsável por detectar e prevenir desflorestamento e focos de incêndio.

O FIP é mantido por uma verba de US$ 9,25 milhões doada pelo Banco Mundial. Iniciado em 2016, o programa deveria ser encerrado em 2019. Por não ter utilizado toda a verba destinada, o governo federal conseguiu estender o programa até o final de 2020.

500 mil quilômetros devastados

Biomas terrestres brasileiros perderam cerca de 500 mil km² de sua cobertura natural entre 2000 e 2018. Em números absolutos, a maior perda neste período aconteceu no bioma Amazônia (269,8 mil km²), seguido pelo Cerrado (152,7 mil km²), mas, em termos percentuais, o Pampa foi o que mais perdeu área natural, -16,8%.

A cobertura florestal representava 81,9% da área total da Amazônia em 2000, proporção que se reduziu para 75,7% em 2018. Essa área foi substituída, principalmente, por áreas de pastagem com manejo, que passaram de 248,8 mil km² para 426,4 mil km² nesse período.

Entre 2000 e 2018, o Pantanal teve as menores perdas, em área (-2,1 mil km²) e em percentual (-1,6%), mas desde 2010, cerca de 60% das mudanças foram de áreas naturais campestres para pastagem com manejo.

A Mata Atlântica, que sofre a ocupação mais antiga e intensa, conservava apenas 16,6% de suas áreas naturais, em 2018, o menor percentual entre os biomas.

Todos os biomas brasileiros tiveram saldo negativo, mas a tendência nacional foi de diminuição da magnitude ao longo dos 18 anos anos estudados, com exceção do Pampa e do Pantanal.

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