AMBIENTE

Eventos climáticos extremos são tema de debate entre cientistas Francisco Aquino e Carlos Nobre

Sinpro/RS Debate deste sábado discute a natureza e a frequência de ciclones, vendavais, secas, nevascas, calor extremo e outros “desastres naturais” que vêm assolando o planeta
Por Gilson Camargo / Publicado em 1 de setembro de 2023
Eventos climáticos extremos são tema de debate entre cientistas Francisco Aquino e Carlos Nobre

Foto: Twitter/ Reprodução

Na noite de 8 de agosto deste ano, a cidade de Lahaina, no Havaí, foi devastada por um incêndio após a passagem do furacão Dora. Eventos climáticos extremos como esse serão analisados pelos painelistas no Sinpro/RS Debate

Foto: Twitter/ Reprodução

O Sindicato dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS) reúne neste sábado, 2, duas grandes referências na área do clima, o cientista Carlos Nobre e o professor e pesquisador Francisco Eliseu Aquino para explicar sobre a natureza e a frequência dos eventos climáticos extremos no Brasil e no mundo.

A atividade, que integra o projeto Sinpro/RS Debate, será realizada a partir das 10h30, de forma híbrida. Presencialmente, no Hotel Intercity Cidade Baixa, em Porto Alegre (Av. Loureiro da Silva, 1.960 – Sala Farroupilha) e virtualmente, via Google Meeting (link será disponibilizado na sexta-feira, 1º/9).

As inscrições são gratuitas e devem ser feitas no site do evento.

A atividade, segundo o professor Flávio Henn, diretor do Sinpro/RS e coordenador do debate, tem como propósito a conferência da ciência sobre a origem desses eventos do clima e quais são as previsões para o futuro.

“As mudanças ambientais e climáticas têm se apresentado de forma mais intensa e frequente em todo o mundo. São ondas de calor, de frio extremos, secas prolongadas, ciclones e enchentes”, ilustra. Todos esses eventos conhecidos como “desastres naturais” impactam de diversas formas a organização social e a vida das populações nos locais onde ocorrem.

Francisco Eliseu Aquino

Eventos climáticos extremos são tema de debate entre cientistas Francisco Aquino e Carlos Nobre

Foto: Ufrgs/ Divulgação

Aquino: “as regiões polares respondem a essas mudanças e possuem um importante papel no sistema natural do planeta”

Foto: Ufrgs/ Divulgação

Professor e pesquisador do Departamento de Geografia e ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Ufrgs, Francisco Aquino é bacharel em Geografia (Ufrgs), mestre em Geologia Marinha e doutor em Climatologia e Mudanças Climáticas pelo Programa de Pós-Graduação em Geociências (Ufrgs) e Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos/Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Desenvolve pesquisas com ênfase em meteorologia e climatologia polar e subtropical, eventos extremos, teleconexões, monitoramento de massas de gelo, emergência climática e o Brasil.

Desenvolve pesquisas desde 1993/94 no Programa Antártico Brasileiro, tendo feito 18 expedições de campo na Antártica.

Foi responsável pelo desenvolvimento do projeto, construção e instalação do módulo científico Criosfera 2 / Centro Polar e Climático – CPC/ Ufrgs no verão de 2022/23 em Skytrain Ice Rise – Antártica.

Chefiou o Departamento de Geografia de maio de 2023 a maio de 2025 e coordenou o Notos – Laboratório de Climatologia do Departamento de Geografia, e da Divisão de Climatologia Polar e Subtropical do CPC/ Ufrgs.

Aquino: conexões Brasil-Antártica

Avanços recentes na compreensão científica das mudanças ambientais globais e sua intensificação nos motivam a explorar as conexões de tempo e clima entre a Antártica e os trópicos, discorre Aquino.

O cientista da Ufrgs destaca que uma das grandes questões a serem enfrentadas é como as condições ambientais da Terra respondem ao atual quadro de mudanças climáticas.

“Já sabemos que as regiões polares respondem a estas mudanças e possuem um importante papel no sistema natural do Planeta.

Assim, desenvolver pesquisas nas mais diversas áreas do conhecimento científico no Continente Antártico, em especial climatologia e glaciologia, propicia ao Brasil um entendimento adiantado das mudanças ambientais observadas nas regiões polares e o impacto destas mudanças no planeta”, aponta.

Aquino enfatiza que essa premissa se aplica, em especial, a eventos extremos e teleconexões na América do Sul e Sul do Brasil.

Carlos Nobre

Eventos climáticos extremos são tema de debate entre cientistas Francisco Aquino e Carlos Nobre

Foto: Divulgação

“O ano de 2023 será o mais quente do registro histórico e eventos climáticos extremos como ondas de calor, secas, chuvas intensas e tempestades atingiram níveis de recordes históricos e antes até do que se vinha prevendo”, observa Nobre

Foto: Divulgação

Um dos climatologistas mais respeitados do país e cientista com projeção internacional, Carlos Nobre é doutor em Meteorologia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), foi pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Exerceu importantes funções de gestão e coordenação científicas e de política científica, entre as quais, a coordenação geral do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos no Inpe, a criação do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; e a presidência da Capes.

Nobre foi um dos autores do 4º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC), agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em 2007. Recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais. É pesquisador colaborador do Instituto de Estudos Avançados da USP e Copresidente do Painel Científico para a Amazônia, que produziu a mais rigorosa avaliação científica para a região e apontou caminhos para um futuro sustentável.

Nobre: “extremos não se reduzirão por séculos”

O climatologista explica que o Painel Intergovernamental de Mudança do Clima-IPCC vem alertando há décadas que o aquecimento global causa aumentos consideráveis dos eventos climáticos extremos em todo o planeta.

“Esta é uma realidade que já se faz presente. O ano de 2023 será o mais quente do registro histórico e eventos climáticos extremos como ondas de calor, secas, chuvas intensas e tempestades atingiram níveis de recordes históricos e antes até do que se vinha prevendo”, ressalta Nobre, antecipando o tema do debate.

Ele lembra que o Acordo de Paris requer uma redução das emissões globais de gases de efeito estufa em 50% até 2030 e a meta de zerar as emissões líquidas até meados do século, talvez o maior desafio já enfrentado pela humanidade, para que a temperatura não exceda 1,5ºC.

“As emissões continuam a crescer e se a redução não atingir tais metas o aumento de temperatura poderá atingir 1.5º C em menos de 10 anos e atingir até 2,3 a 2,5°C em 2050, trazendo riscos extremos ao planeta”. estima.

Os extremos climáticos, diz, igualmente têm atingido o Brasil com recordes de temperaturas, secas extremas e tempestades severas, causando um grande número de mortes. “O Brasil tem enorme potencial de reduzir rapidamente as emissões, mas há que atuar muito mais rápida e eficientemente para aumentar a resiliência das populações e sistemas de produção aos extremos climáticos que não mais se reduzirão, possivelmente por muitos séculos”, projeta Carlos Nobre.

Comentários