AMBIENTE

Inmet diz que 2023 será o ano mais quente desde a década de 1960

As temperaturas ficaram acima da média histórica, atingindo o recorde no Brasil pelo quarto mês seguido conforme levantamento do Inmet
Da Redação / Publicado em 13 de novembro de 2023

Inmet diz que 2023 terminará como o ano mais quente desde a década de 1960

De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet),  as temperaturas ficaram acima da média histórica nos meses de julho, agosto, setembro e outubro atingindo o recorde de temperatura média por quatro meses seguidos.

Nos últimos meses o Inmet vem realizando uma análise meteorológica específica para o Brasil, utilizando dados de temperatura média do ar das estações meteorológicas espalhadas por todo o território nacional.

Dentre os quatro meses consecutivos mais quentes deste ano, setembro apresentou o maior desvio (diferença entre o valor registrado e a média histórica) desde 1961, com 1,6ºC acima da climatologia de 1991/2020 (média histórica).

Em 2023, os meses citados foram marcados por calor extremo em grande parte do País e eventos de onda de calor, reflexo dos impactos do fenômeno El Niño (aquecimento acima da média das águas do Oceano Pacífico Equatorial), que tende a favorecer o aumento da temperatura em várias regiões do planeta.

Inmet diz que 2023 terminará como o ano mais quente desde a década de 1960

Tabela com os valores de temperatura média do ar observada, média histórica e desvios (diferença entre o valor registrado e a média histórica) em julho, agosto, setembro e outubro de 2023

Além disso, outros fatores têm contribuído para a ocorrência de eventos cada vez mais extremos, como o aumento da temperatura global da superfície terrestre e dos oceanos.

Desta forma, o cenário indica que o ano de 2023 será o mais quente desde da década 60. Estes resultados corroboram com as perspectivas encontradas por outros órgãos de meteorologia internacional, pois, segundo pesquisadores do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da União Europeia, é improvável que os dois últimos meses deste ano revertam este recorde, tendo em vista que a tendência é de altas temperaturas em todo o mundo até novembro.

O Inmet é um órgão do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e representa o Brasil junto à Organização Meteorológica Mundial (OMM) desde 1950.

Onda de calor

Na semana passada o Instituto fez um alerta a onda de calor registrada nas áreas do Centro-Oeste e Sudeste do País e que ainda se estende por esta semana.

A onda de calor que atinge principalmente o Sudeste e o Centro-Oeste do Brasil chegou em uma época do ano em que, normalmente, a estação chuvosa já está estabelecida e em que as nuvens funcionam como uma espécie de controle das temperaturas. A ausência dessa defesa, segundo a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia, Anete Fernandes, potencializa os efeitos do fenômeno climático.

“Quando a gente tem ausência de chuva nesta época do ano, que chamamos de veranico, a ausência de nuvens favorece uma grande incidência de radiação na superfície, que é o que está acontecendo agora. Então, as temperaturas se elevam muito”, contou.

De acordo com a meteorologista, a configuração de baixas pressões, característica dessa época do ano, está funcionando em grande parte do país. No entanto, em médios níveis da atmosfera, existe uma circulação de alta pressão que impede o desenvolvimento das nuvens de chuva.

“Quando há essa condição de baixa superfície e não tem as nuvens, isso potencializa ainda mais o aquecimento da atmosfera”, analisou.

A onda de calor, segundo ela, tende a persistir por mais tempo no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Centro-Norte do Paraná. “Toda essa área tende a permanecer com temperaturas elevadas, pelo menos, até a próxima sexta-feira”.

Na sexta-feira, muda um pouco a área atingida, mas grande parte do país, incluindo Rio de Janeiro e Minas Gerais, continuará com a condição de altas temperaturas pelo menos até domingo. “Isso vai manter temperaturas elevadas. No domingo, já tivemos temperaturas na ordem de 40°C em vários estados do país, e isso tende a persistir, pelo menos, até o próximo fim de semana no Rio de Janeiro, Minas Gerais, oeste de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, sul do Piauí, oeste da Bahia, Centro-Norte do Paraná, Rondônia, sudeste do Amazonas e sul do Pará”, disse, acrescentando que este fenômeno pode voltar a ocorrer durante a estação chuvosa.

“Se tivermos o veranico que ocorre durante período chuvoso, teremos temperaturas elevadas, não necessariamente configurando a onda de calor. Como estamos em ano de El Niño, e a irregularidade na estação chuvosa é uma característica, podemos, sim, ter outras ondas de calor. Entretanto, no momento não há perspectiva de uma outra tão cedo”, completou.

Sensação de 52,7ºC às 8 da manhã

A onda de calor atingiu com força o Rio de Janeiro e se apresenta intensa desde logo cedo. De acordo com o Alerta Rio, serviço de meteorologia da Prefeitura, a sensação térmica chegou a 52,7 graus Celsius (°C) às 8h da manhã em Guaratiba, na zona oeste da cidade. Essa foi a maior sensação de calor registrada na cidade até as 8h30 desta segunda-feira (13). A temperatura mais alta no começo da manhã também foi registrada em Guaratiba: 36,4°C às 8h30. Para os próximos quatro dias, de acordo com as previsões, em nenhum dia a máxima será menor que 35°C e ficará entre este nível e 41°C. A mínima varia entre 20°C e 23°C.

O dia mais quente dos paulistanos

A capital paulista registrou, neste domingo, 12, o dia mais quente de 2023, quando os termômetros marcaram 36,9°C, em média. De acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE), vinculado à prefeitura, o máximo que o município havia atingido era 36,5º, no dia 24 de setembro.

Além da temperatura máxima média na cidade, outra medição de destaque é a maior temperatura absoluta do ano, que é a registrada em um único local. Nesse caso, foi de 38,5%, verificada na Vila Mariana, ultrapassando o pico alcançado também em 24 de setembro deste ano, de 37,5°C, na Mooca e em São Miguel Paulista.

Previsão da semana de 13 a 20 de novembro

O Inmet concluiu, nesta segunda-feira, 13, a previsão do tempo para as próximas duas semanas. Na primeira, entre os dias 13 e 20 de novembro, os maiores volumes de chuvas são previstos no noroeste e sul do País.

Em áreas das Regiões Norte, Nordeste e Sudeste, principalmente, a previsão é de predomínio de tempo quente e seco no decorrer da semana.

Confira, a seguir, a previsão do tempo detalhada para cada região do País nas próximas duas semanas:

  • Região Norte: são previstas chuvas em forma de pancadas, durante a semana, com valores maiores que 50 milímetros (mm) no Acre e no oeste e sul do Amazonas. Com menores acumulados em áreas pontuais de Rondônia, Pará e Tocantins devido ao calor e alta umidade. Nas demais áreas, haverá predomínio de tempo seco e sem chuvas.
  • Região Nordeste: a previsão é de tempo seco e sem chuva, além de baixos valores de umidade relativa, principalmente na parte norte e leste da região (áreas em branco e azul). No entanto, não se descarta pancadas de chuvas isoladas no Maranhão, Piauí, oeste da Bahia que inclui as áreas do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), além do litoral baiano.
  • Região Centro-Oeste: em algumas áreas, são previstas chuvas passageiras, principalmente no final da tarde.
  • Região Sudeste:  a partir do dia 17 de novembro, a previsão é de chuvas em áreas de São Paulo, Rio de Janeiro e triângulo mineiro.
  • Região Sul: a passagem de uma frente fria pela Região Sul poderá provocar chuvas expressivas, que podem vir acompanhados de raios, rajadas de ventos e da ocorrência pontual de queda de granizo, no decorrer da semana, com maiores acumulados que podem ultrapassar 150 milímetros (mm), principalmente no centro-norte do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e sul do Paraná. Maiores detalhes, verificar os avisos disponibilizados no portal https://alertas2.inmet.gov.br/.

O que é e quais os impactos do El Niño

O El Niño é caracterizado pelo aquecimento anormal e persistente da superfície do Oceano Pacífico na região da Linha do Equador, podendo se estender desde a costa da América do Sul até o meio do Pacífico Equatorial.

Durante o fenômeno, que, normalmente, começa a se formar no segundo semestre do ano, as águas ficam, pelo menos, 0,5°C acima da média por um longo período de tempo de, no mínimo, seis meses. Vale lembrar que ele não tem um período de duração definido, podendo persistir até dois anos ou mais.

Durante a formação do El Niño, o comportamento dos ventos alísios tem papel fundamental. Os alísios são ventos constantes vindos dos Hemisférios Sul e Norte, que se encontram na região da Linha do Equador e seguem do leste para o oeste do planeta Terra.

Normalmente, o movimento dos ventos interfere no Oceano Pacífico e empurra as águas da superfície para o oeste, permitindo que as mais profundas e frias subam. No entanto, quando os ventos alísios estão enfraquecidos ou invertem a direção, essa troca de águas não ocorre e as mais quentes permanecem por mais tempo paradas na superfície, podendo chegar até 3°C ou mais acima da média, formando, assim, o El Niño.

Seca no Norte e Nordeste e chuvas no Sul 

No Brasil, o fenômeno aumenta o risco de seca na faixa norte das regiões Norte e Nordeste e de grandes volumes de chuva no Sul do País. Isso ocorre porque a água da superfície do Pacífico, que está muito mais quente do que o normal, evapora com mais facilidade. Ou seja, o ar quente sobe para a atmosfera mais alta, levando umidade e formando uma grande quantidade de nuvens carregadas.

Logo, no meio do Oceano Pacífico, chove muito e com frequência durante o El Niño. Durante as chuvas, esse mesmo ar quente, agora mais seco, continua circulando e, dessa vez, desce no norte da América do Sul, inibindo a formação de nuvens e, consequentemente, a ocorrência de chuvas em parte do Norte e Nordeste do Brasil. Afinal, o ar que provoca a formação de nuvens é aquele que sobe da superfície terrestre para a atmosfera e não o contrário.

Já na Região Sul, o El Niño aumenta a probabilidade de chuvas acima da média porque a circulação dos ventos em grande escala, causada pelo El Niño, também interfere em outro padrão de circulação de ventos na direção norte-sul e essa interferência age como uma barreira, impedindo que as frentes frias, que chegam pelo Hemisfério Sul, avancem pelo País. Logo, as frentes ficam concentradas por mais tempo na Região Sul do Brasil.

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