ECONOMIA

Brasileiros trabalham mais de 104 horas para comprar alimentos

Custo da cesta básica dispara nas capitais em setembro e já consome mais de 50% do salário mínimo, com altas recordes dos preços do tomate, arroz e óleo de soja
Por Gilson Camargo* / Publicado em 6 de outubro de 2020
Custo da cesta comprometeu 48.85% do salário mínimo em agosto e 51,22% setembro. Segundo o Dieese, piso deveria ser de R$ 4,9 mil

Foto: Fernanda Cruz/Agência Brasil

Custo da cesta comprometeu 48.85% do salário mínimo em agosto e 51,22% setembro. Segundo o Dieese, piso deveria ser de R$ 4,9 mil

Foto: Fernanda Cruz/Agência Brasil

Os dados da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), indicaram que, em setembro, os preços do conjunto de alimentos básicos, necessários para as refeições de uma pessoa adulta (conforme Decreto-lei 399/38) durante um mês, aumentaram em todas as capitais pesquisadas.

Devido à pandemia, o Dieese suspendeu, em 18 de março, a coleta presencial de preços da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos. Desde então, a entidade realiza uma tomada especial de preços à distância para verificar o custo da cesta básica em 16 das 17 capitais onde o levantamento é realizado. A solução encontrada foi uma tomada de preços nos estabelecimentos que fazem parte da amostra regular da pesquisa, por telefone, e-mail, consultas na internet aplicativos de entrega e em alguns estabelecimentos de forma presencial.

Redução de 50% no auxílio emergencial coincide com o descontrole da inflação e empurra boa parte dos brasileiros de volta para o mapa da fome

Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

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Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

As maiores altas foram observadas em Florianópolis (9,80%), Salvador (9,70%) e Aracaju (7,13%).

Com base na cesta mais cara, que, em setembro, foi a de Florianópolis (R$ 582,40), o Dieese estima que o Salário Mínimo necessário deveria ter sido equivalente a R$ 4.892,75, o que corresponde a 4,68 vezes o mínimo vigente de R$ 1.045,00. O cálculo considera uma família de quatro pessoas, com dois adultos e duas crianças. Em agosto, o valor foi estimado em R$ 4.536,12 ou 4,34 vezes o piso vigente.

O tempo médio necessário para adquirir os produtos da cesta, em setembro, foi de 104 horas e 14 minutos, maior do que em agosto, quando ficou em 99 horas e 24 minutos.

Quando se compara o custo da cesta e o salário mínimo líquido, ou seja, após o desconto referente à Previdência Social (alterado para 7,5% a partir de março de 2020, com a Reforma da Previdência), verifica-se que o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu, em setembro, na média, 51,22% do salário mínimo líquido para comprar os alimentos básicos para uma pessoa adulta. Em agosto, o percentual foi de 48,85%.

 

Fonte: Dieese

Fonte: Dieese

Principais variações

O preço do óleo de soja apresentou elevação em todas as capitais, com destaque para Natal (39,62%), Goiânia (36,18%), Recife (33,97%) e João Pessoa (33,86%). Os estoques brasileiros de soja e derivados estiveram baixos, consequência da alta demanda externa e interna.

O valor médio do arroz agulhinha ficou maior nas 17 capitais, com destaque para as variações de Curitiba (30,62%), Vitória (27,71%) e Goiânia (26,40%). O elevado volume de exportação e os baixos estoques mantiveram os preços em alta. Os efeitos da importação do grão com imposto zero não foram registrados em setembro.

Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos

Tomada especial de preços de setembro de 2020 (Porto Alegre)
Valor da cesta: R$ 552,86
Variação mensal: 4,59%
Variação no ano: 9,20%
Variação em 12 meses: 20,64%

Produtos com alta em relação a agosto
Tomate: 29,11%
Arroz: 19,75%
Óleo de soja: 19,41%
Banana: 17,76%
Feijão: 4,89%
Manteiga: 3,87%)
Leite: 2,97%
Café: 2,42%
Farinha de trigo: 2,05%
Açúcar: 0,39%

Produtos com queda em relação a agosto
Batata: – 22,11%
Carne: – 0,49
Pão: – 0,32%).

Jornada necessária para comprar a cesta básica:
116h horas e 23 minutos

% do salário mínimo:
57,19%.

Salário Mínimo Necessário
R$ 4.892,75 – 4,68 vezes o mínimo vigente de R$ 1.045,00

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*Com informações do Dieese.

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