ECONOMIA

Custo de vida é debatido por Dowbor e Gustavo de Moraes

Dois economistas com visões distintas debatem a alta do custo de vida, suas razões, as consequências e o que deve ser feito para mudar o atual quadro econômico do país
Por César Fraga / Publicado em 30 de maio de 2022
Custo de vida: Ladislau Dowbor e Gustavo de Moraes debatem

Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

2022 tem registrado os maiores recordes de inflação das últimas décadas

Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

Por que o custo de vida está tão alto no Brasil? Quais as causas? Até que ponto os governos têm culpa do atual cenário? Quem ganha com isso? Quem perde? Como sair dessa situação de crise econômica?

Para responder ou pelo menos debater sobre essas e outras questões ligadas à disparada de preços que os brasileiros vêm enfrentando, o Sinpro/RS Debate realizou sua última edição com dois economistas de visões distintas sobre o fenômeno.

O evento ocorreu on-line, na manhã do sábado, 28 de maio, participação dos economistas Ladislau Dowbor, professor da PUC/SP, e Gustavo de Moraes, da PUCRS.

O Sinpro/RS Debate é promovido pelo Sindicato dos professores do Ensino Privado (Sinpro/RS) para debater temas de interesse dos professores e da sociedade. Durante a pandemia o evento adotou o formato on-line.

O Sinpro/RS Debate pode ser assistido na íntegra no canal do Sinpro/RS no YouTube e página do Facebook.

Custo de vida e inflação

Custo de vida: Ladislau Dowbor e Gustavo de Moraes debatem

Foto: Reprodução de vídeo/Sinpro-RS

Gustavo de Moraes: “nós teremos um abrandamento nos índices de inflação, na evolução dos preços, mas o custo de vida aumentou e não voltará”

Foto: Reprodução de vídeo/Sinpro-RS

Um dos temas abordados por ambos foi utilizar ou não estoques reguladores para segurar a inflação de alimentos. Com isso veio à pauta o sucateamento da Conab, que era utilizada pelos governos antes de 2016 para regular os preços dos alimentos.

Gustavo de Moraes alertou para os custos da estocagem e para o fato que este custo também é pago pelas camadas mais baixas da população, as que mais sofrem com a inflação.

Mesmo assim, destacou que os EUA conseguem manter os combustíveis com preço baixo mesmo em momentos de crise de petróleo e inflacionária, graças ao estoque de trilhões de barris.

No que refere à inflação ele destaca: “a inflação ao consumidor, de fato, é um fenômeno mundial; estamos falando de um IPCA de maio, em 12,2%/ano; se comparada a de outros países do primeiro mundo, que giram entre 6% e 9%, por serem países sem histórico inflacionário, há até uma certa folga”, contextualiza.

Sobre o futuro: “nós teremos um abrandamento nos índices de inflação, na evolução dos preços, mas o custo de vida aumentou e não voltará”.

Segundo o economista, isso ocorre porque o país ainda não tem uma reorganização econômica dos mercados e pode levar uma década para que se reorganizem. “Por ora os repasses de preços já estão consolidados”, afirma.

Políticas de estado e juros altos

Custo de vida: Ladislau Dowbor e Gustavo de Moraes debatem

Foto: Reprodução de vídeo/Sinpro-RS

Ladislau Dowbor faz uma crítica aos governos pós-impeachment e ao atual que segundo ele, ao invés equilibrar as contas públicas, agravou a situação”

Foto: Reprodução de vídeo/Sinpro-RS

Ladislau Dowbor defendeu o papel social da economia e que esta deve estar a serviço das pessoas e não apenas do mercado financeiro.  Ele destacou que quando se fragiliza – com a inflação – o poder de compra da população, isso gera redução de demanda e as empresas começam a ter dificuldade para vender.

“Uma empresa produtiva precisa de gente com dinheiro de um lado e de crédito barato para poder financiar a produção de outro. Simples assim. É assim nos Canadá, na China, em qualquer parte”, sintetiza.

“No Brasil, não se tem uma coisa nem outra. A demanda das famílias está fragilizada e as taxas de juros para as empresas é uma verdadeira agiotagem”, cravou.

Dowbor lembra que as empresas estão trabalhando com 75% de sua capacidade, “sem contar o grande número que fechou”. Ele acrescenta que redução de consumo e da atividade empresarial acaba reduzindo as receitas públicas e gera um ciclo recessivo.

Ele faz uma crítica aos governos pós-impeachment e ao atual, “que ao invés equilibrar as contas públicas, agravou a situação de maneira radical”.

Na sua opinião, o equilíbrio fiscal se obtém por meio da dinamização da economia para aumentar as receitas. “E o que se fez foi travar a economia e reduzir os gastos do estado, não só aumentando o déficit como estagnando o ciclo de crescimento”, defende.

Falta de concorrência

Apesar de divergirem em vários pontos, ambos criticaram a alta concentração do mercado financeiro brasileiro nas mãos poucos bancos. Também apontaram a falta de concorrência e ausência de políticas para maior diversidade no setor como algo que torna o dinheiro mais caro no país, o que influi nas políticas de juros altos, o que impacta na vida de todos.

Assista na íntegra:

Os debatedores

Ladislau Dowbor é professor titular no departamento de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), nas áreas de economia e administração. Atua como consultor de diversas agências das Nações Unidas, bem como de governos e municípios, além de várias organizações do Sistema S. É conselheiro no Instituto Polis, Cenpec, Idec, Instituto Paulo Freire, Conselho da Cidade de São Paulo, entre outras instituições. Nos anos mais recentes, rabalha no desenvolvimento de sistemas descentralizados de gestão, particularmente em administrações municipais.

Gustavo Inácio de Moraes é doutor em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), mestre em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e bacharel em economia pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Foi economista no Banco Inter American Express. Atualmente é professor do PPGE Escola de Negócios da PUCRS.

Participantes

A apresentação do evento ficou a cargo do professor Flávio Henn, diretor do Sinpro/RS. Ele sublinhou em sua fala que o país já vinha de anos recessivos para a economia como um todo. “O que desembocou em um cenário de retração do setor educacional, com retiradas de investimentos das políticas de financiamento público, endividamento das famílias e evasão de estudantes”. Segundo ele, este quadro é um “grande dificultador” para negociar a reposição das perdas inflacionárias dos professores, que perderam poder aquisitivo com a inflação alta.

A mediação foi da professora Cecília Farias, também diretora do Sinpro/RS. Em sua fala introdutória, antes de apresentar os debatedores ela fez uma provocação. “A cada mês vemos os estudos do IBGE e as análises do Dieese nos apontando que alcançamos o maior índice inflacionário em relação a períodos anteriores ou que batemos recordes em relação às últimas décadas. Viver ficou mais caro por quê?”

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