ECONOMIA

Alimentos devem ficar mais caros e escassos às populaçoes dos países vulneráveis

Devido à guerra no Leste Europeu, importações globais tendem a crescer US$ 51 bilhões, elevando o custo dos alimentos e reduzindo a oferta de comida às populações periféricas do planeta
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 9 de junho de 2022

Envios diários

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Foto: Giuseppe Carotenuto/ FAO

Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) alerta para crise mundial de alimentos devido à guerra, com maior impacto aos países pobres

Foto: Giuseppe Carotenuto/ FAO

O relatório Food Outlook (Perspectivas Alimentares) da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), divulgado na última quarta-feira, 8, em Roma, aponta que os valores da importação global de alimentos devem atingir o recorde de US$ 1,8 trilhão neste ano.

Provocada em especial por alta nos preços e custos de transporte, a tendência preocupa a agência da ONU. “Muitos países vulneráveis estão pagando mais caro para obter um volume menor de alimentos”, alerta o documento.

Comparado ao período anterior, o aumento projetado na importação global de alimentos será de US$ 51 bilhões. Isso fará com que países da África Subsaariana, por exemplo, tenham alta nos seus custos totais de importação, apesar de uma redução nos volumes.

Ainda, segundo o economista da FAO, Upali Galketi Aratchilage, editor do relatório, “preocupações com o clima e incertezas do mercado devido à guerra na Ucrânia indicam um aperto no mercado de alimentos e taxas de importação mais altas”.

Comida mais cara

Para a FAO, as perspectivas são alarmantes do ponto de vista da segurança alimentar.

Tudo indica, que os países mais vulneráveis que dependem da importação de alimentos terão dificuldades em financiar custos internacionais que só inflacionam.

Há potencial “fim da resiliência a preços mais altos”, expressa o relatório da organização.

Na lista dos principais responsáveis pela alta no preço das importações de alimentos neste ano estão as gorduras de animais e óleos vegetais.

Mas a FAO já percebe que países em desenvolvimento, além de carnes, também estão reduzindo suas importações de cereais e oleaginosas (nozes, castanhas, amêndoas, entre outros frutos secos).

Isso é o reflexo da incapacidade de atuar com o aumento que está sendo verificado nos preços, aponta o relatório.

Foto: PMA/ONU/Arquivo

Programa Mundial de Alimentos da ONU: refeições são mais caras nos países pobres devido a problemas de estocagem, transporte e de distribuição, pouca variedade nas plantações, baixo acesso dos agricultores a mercados e falta de preparo para lidar com mudança climática e conflitos

Foto: PMA/ONU/Arquivo

Consumo de grãos em queda

Na última segunda-feira, 6, a FAO noticiou que a produção mundial dos principais cereais deverá diminuir entre 2022 e 2023.

Será a primeira vez em quatro anos. Isso acontecerá especialmente por causa da queda no consumo de trigo, grãos e arroz.

A agência da ONU, não entanto, acredita que os estoques globais de trigo podem ter um aumento marginal durante o ano devido ao acúmulo de estoques na China, na Rússia e na Ucrânia.

Há também previsão de queda na produção da carne na Argentina, na União Europeia e nos Estados Unidos.

Em relação ao leite, a produção deverá ser mais lenta do que em anos anteriores, com margens de lucros menores em várias regiões produtoras.

Em países como o Brasil, mais lucros para o agronegócio

Por outro lado, o relatório da FAO cita um potencial novo recorde para os cultivos de milho, o que impacta diretamente o agronegócio exportador do Brasil.

Essa tendência, no entanto, não está associada à alimentação humana, mas ao aumento da produção de etanol no Brasil e nos Estados Unidos.

Com isso, o agronegócio brasileiro baseado em commodities, que já lucra com a exportação para o setor alimentício, agora também se beneficiará com suas plantações de milho para abastecer a indústria de combustíveis.

A produção de açúcar também deverá subir depois de três anos em declínio. Os líderes nesse processo serão a Índia, a Tailândia e a União Europeia.

Outro destaque do relatório é a performance do mercado pesqueiro. A produção global de aquicultura se expandiu 0,2%, aumentando em 2,9% a pesca de captura.

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