ECONOMIA

Rombo fiscal que Lula herdará será três vezes maior do que o estimado

A visão é de Henrique Meirelles, criador do Teto de Gastos. Integrantes do futuro governo negociam alterações na proposta orçamentária de Bolsonaro que praticamente não destina recursos para pautas sociais
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 4 de novembro de 2022

Foto: Pedro França/Agência Senado

Coletiva do senador eleito Wellington Dias (PT-PI), eventual líder de Lula no Congresso, após encontro com representantes do presidente eleito. A transição orçamentária passa por mudanças no projeto do Orçamento de 2023 que deixa um rombo de R$ 400 bi de herança

Foto: Pedro França/Agência Senado

Ao contrário da opinião do relator-geral do Orçamento de 2023 da União, senador Marcelo Castro (MDB/PI), o ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem afirmado que o rombo fiscal que será deixado pelo governo Bolsonaro para o próximo período será quase três vezes maior que o estimado.

Se o governo chegou a falar em R$ 150 bilhões e Castro estima a necessidade de ao menos R$ 100 bilhões para ajuste nas contas do ano que vem entre o parlamento e a equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o início do seu mandato, Meirelles vê um déficit que pode chegar a R$ 400 bilhões.

Segundo o experiente economista, esse é o valor mais próximo da realidade e tem sido confirmado por entidades independentes.

Meirelles afirma que o Teto de Gastos, medida criada por ele durante o governo de Michel Temer (MDB/SP) não está “desmoralizada”.

A desmoralização, segundo ele, recai sobre a política fiscal do presidente Jair Bolsonaro (PL/RJ). “Por isso nós temos um risco Brasil elevado”, afirma.

Mourão critica, Gleisi rebate

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirma que Bolsonaro jogou para cima o risco Brasil

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Nas discussões para a construção de um orçamento adequado para 2023 – com o relator Castro deixando claro que na peça orçamentária enviada por Bolsonaro ao Congresso não há recursos suficientes para praticamente nenhuma política social –, a presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, e o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, senador eleito no Rio Grande do Sul pelo Republicanos, trocaram farpas durante a reunião que definiu a PEC da transição.

Sobre as negociações para o possível incremento de R$ 200 bilhões na previsão de gastos do próximo ano para viabilizar políticas públicas, Mourão acusou falta de responsabilidade fiscal.

“O futuro governo de Lula está negociando com o Congresso um rombo de R$ 200 bilhões no orçamento de 2023, ou seja, zero compromisso com o equilíbrio fiscal. O resultado será aumento da dívida, inflação e desvalorização do real. Onde estão os críticos?”, provocou o militar em sua conta no Twitter.

Na mesma rede social, Gleisi rebateu o vice-presidente. “(A) declaração de Mourão é no mínimo desonesta. Nem bem acabamos de iniciar a transição e estamos negociando a pauta que interessa ao povo trabalhador. Onde ele estava durante a farra do orçamento secreto e o uso perdulário e ilegal da máquina pública nas eleições?”, devolveu a deputada federal pelo Paraná (PR).

Entre outros compromissos com a agenda social, Lula prometeu, assim como Bolsonaro, manter a transferência mensal de R$ 600,00 à população socioeconomicamente vulnerável.

A diferença é que o presidente que deixará o Planalto em janeiro não previa esse recurso na peça orçamentária enviada para o Congresso.

No documento apresentado por Bolsonaro, o programa que batizou de Auxilio Brasil para apagar a marca Bolsa Família, criada nos governos anteriores do PT, voltaria a R$ 450,00.

O futuro governo ainda trabalha para que seja efetivado o compromisso do repasse de R$ 150,00 por filho às famílias beneficiárias do programa que deverá voltar a se chamar Bolsa Família.

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