OPINIÃO

Reservas cambiais, taxas de juros e câmbio à espera de uma combinação mais conveniente para o país

Publicado em 11 de novembro de 2010

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Ilustração: Pedro Alice

Ilustração: Pedro Alice

Uma das grandes preocupações dos analistas, dos empresários em geral (exportadores e importadores) e do governo, nos últimos anos, tem sido a apreciação cambial, a dificuldade para baixar a taxa de juros (Selic) e mais recentemente o custo de manutenção do nível crescente das reservas cambiais. Apesar dos esforços para reduzir a taxa de juros, o país ainda é o que tem a taxa mais elevada (10,75% ao ano). Esse fato tem como desdobramento um desestímulo ao investimento produtivo, além de ser um potente atrativo a capitais externos que ingressam no país em busca do ganho fácil nos fundos de renda fixa. Outro desdobramento é a excessiva apreciação do real, o que encarece a produção interna limitando as possibilidades de exportação e facilitando substantivamente a importação de bens que já são ou que poderiam ser produzidos nacionalmente.

Há outro problema a preocupar os formuladores da política econômica localizado no nível das reservas cambiais do país. Inegavelmente, é confortável possuir um elevado nível de reservas, o que representa um seguro para fazer frente às dificuldades que se impõem ao país, especialmente em tempos de crise, como a de 2008. Nesse caso, o problema que preocupa é o custo fiscal de carregamento dessas reservas, dado pelo diferencial das taxas de juros interna e externa mais o custo de equalização, medido pela apreciação do real frente ao dólar. A excessiva entrada de dólares valoriza artificialmente o real, o que obriga as autoridades monetárias a realizar intervenções no mercado visando conter a escalada da taxa de câmbio.

O governo tem adotado dois tipos de medidas para neutralizar os efeitos mais perversos da sua política de câmbio flutuante. A primeira consiste em entrar no mercado comprando dólar para conter a queda do mesmo frente ao real. Para tanto, emite títulos endividando-se a uma taxa de juros maior do que a que obtém ao adquirir títulos do Tesouro dos EUA. Os resultados têm sido bem abaixo do esperado, levando alguns analistas a comparar esse procedimento ao exercício de “enxugar gelo”. A segunda medida é aumentar as alíquotas do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) que incidem sobre a entrada de dólares destinados aos Fundos de Renda Fixa. Igualmente os resultados têm se mostrado insuficientes para conter a apreciação do real. Enquanto isso, o custo fiscal para carregar as crescentes reservas de US$ 280 bilhões (19-10-2010) continua aumentando aproximando-se de US$ 50 bilhões anuais.

Nada indica que essa situação vá mudar, ao contrário, os sinais são de que esse cenário persistirá o que certamente obrigará o governo brasileiro a combinar as medidas atuais com outras mais potentes (quarentena talvez) buscando estancar a valorização do real e reduzir o crescente custo fiscal decorrente do elevado nível das reservas cambiais do país.

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