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A quais interesses serve o mito da Petrobras quebrada?

A atual política de preços, o plano estratégico e as privatizações são prejudiciais à Petrobras e à maioria dos brasileiros, afirma Felipe Coutinho, da Aepet
Por Gilson Camargo / Publicado em 25 de maio de 2018
Felipe Coutinho, da Aepet, o mito da Petrobras quebrada

Foto: Aepet/ Divulgação

Coutinho: a Petrobras é viável e sempre foi altamente lucrativa

Foto: Aepet/ Divulgação

O presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), Felipe Coutinho, afirma que a estatal perdeu mercados devido à prática de preços elevados que viabilizam a importação por concorrentes e critica as políticas adotadas pela atual presidência da companhia.

Extra Classe – Qual é a posição da Aepet em relação às políticas adotadas pela atual gestão da Petrobras?
Felipe Coutinho – A política de preços, o plano estratégico e as privatizações são prejudiciais à Petrobras e à maioria dos brasileiros. A exportação de petróleo cru disparou, enquanto a importação de derivados bateu recordes. A importação de diesel se multiplicou por 1,8 desde 2015, dos EUA por 3,6. O diesel importado dos EUA que em 2015 respondia por 41% do total, em 2017 superou 80% do total importado pelo Brasil.

EC – O que provocou o atual descontrole de preços dos combustíveis?
Coutinho – A política de preços iniciada em outubro de 2016 que vinculou o preço do mercado doméstico às oscilações de curto prazo do mercado internacional.

EC – Por que a estatal perdeu mercado interno?
Coutinho – Porque pratica preços elevados que viabilizam a importação por concorrentes. Preços altos tornam lucrativa a operação de importação de derivados.

EC – A atual direção da estatal alega que foram realizados ajustes na política de preços justamente com o objetivo de recuperar mercado…
Coutinho – Realizou ajustes que foram ineficazes, as refinarias continuam com um quarto de sua capacidade ociosa.

EC – O que isso representa para o consumidor?
Coutinho – Preços mais altos e redução da disponibilidade de recursos para atender a outras necessidades. Energia cara e instabilidade econômica contribuem para dificultar o crescimento e a saída da recessão, baixo crescimento que resulta em elevados índices de desemprego.

EC – O que explica os sucessivos aumentos de preços?
Coutinho – A nova política de atrelar o preço doméstico ao mercado internacional, apesar do Brasil ser superavitário na produção de petróleo e dispor de capacidade de refino ociosa.

EC – Quem ganha com essas políticas adotadas pela estatal?
Coutinho – Ganham os traders, comerciantes multinacionais, os refinadores dos EUA e os distribuidores competidores da Petrobras. Perdem os brasileiros, consumidores diretos e indiretos dos combustíveis, a Petrobras e os entes federativos com a redução dos impostos e da atividade econômica.

EC – Qual a sua opinião sobre a posição do governo e do presidente da Petrobras de que a estatal é uma empresa e deve ser gerida pelas leis de mercado?
Coutinho – Posição puramente ideológica que serve a propósitos antinacionais.

EC – Para justificar a atual política de preços, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, comparou a companhia a uma padaria, ao afirmar que da mesma forma que o padeiro não determina o preço do pãozinho, dependente do preço do trigo no mercado internacional, a estatal também não determinaria o preço dos combustíveis, que seria resultado do preço internacional do petróleo.
Coutinho – A atual direção da “Padaria Petrobras” insiste que os preços dos pães devem seguir a variação dos preços internacionais, apesar de a produção do trigo e do pãozinho ser majoritariamente nacional e controlada pela própria padaria nacional.

EC – Como a entidade avalia a greve de caminhoneiros?
Coutinho – Não tenho elementos para julgar. Testaria a hipótese de greve e locaute ao mesmo tempo.

EC – A Petrobras é viável?
Coutinho – Sim, é viável e sempre foi altamente lucrativa. Geração de caixa, reservas e liquidez corrente inabaláveis mesmo diante da corrupção e dos subsídios concedidos entre 2011 e 2014. A quais interesses servem a grande imprensa e setores do governo? A quais interesses serve o mito da Petrobras quebrada?

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