JUSTIÇA

Delator acusa procuradores da Lava Jato de coação

Ex-executivo da Odebrecht relatou à Justiça de São Paulo que foi induzido a mentir na delação sobre sítio que resultou na condenação de Lula
Por Gilson Camargo / Publicado em 16 de julho de 2019
Paschoal relatou em depoimento como os procuradores da Lava Jato direcionaram seu relato na delação: “olha, aconteceu isso, isso, isso e isso; e eu indiquei o engenheiro para fazer as obras”

Foto: Rede Globo/ Reprodução

Paschoal relatou em depoimento como os procuradores da Lava Jato direcionaram seu relato na delação: “olha, aconteceu isso, isso, isso e isso; e eu indiquei o engenheiro para fazer as obras”

Foto: Rede Globo/ Reprodução

O ex-diretor-superintendente da Odebrecht e delator Carlos Armando Paschoal afirmou que foi induzido a mentir sobre o episódio do sítio de Atibaia, imóvel atribuído a Lula e principal “prova” da Operação Lava Jato que levou à segunda condenação do ex-presidente no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). O delator também foi condenado. Em depoimento como testemunha em um processo sobre improbidade administrativa contra o ex-secretário-executivo do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações do governo Michel Temer (MDB), Elton Santa Fé Zacarias, no Tribunal de Justiça de São Paulo, no início de junho, Paschoal, afirmou que foi “quase que coagido a fazer um relato sobre o que tinha ocorrido” e forçado a “construir um relato” sobre o sítio.

Durante a audiência, o advogado Igor Tamasauskas questionou o acordo de delação firmado com o Ministério Público Federal (MPF) e perguntou para Paschoal por que um delator precisa falar sobre atos praticados por outras pessoas “porque, numa colaboração, você confessa atos próprios, crimes próprios, ou improbidades próprias”.

Ao responder, o ex-executivo da Odebrecht criticou os procuradores. “Sem nenhuma ironia, desculpa, doutor, precisava perguntar isso para os procuradores lá da Lava Jato”. Na sequência, admitiu que sua delação foi forjada. “No caso do sítio, que eu não tenho absolutamente nada, por exemplo, fui quase que coagido a fazer um relato sobre o que tinha ocorrido. E eu, na verdade, lá no caso, identifiquei o dinheiro para fazer a obra do sítio. Tive que construir um relato”, revelou.

Segundo Paschoal, a orientação dos procuradores era que ele construísse a narrativa para incriminar Lula, e que foi instruído a adotar a seguinte linha de raciocínio: “olha, aconteceu isso, isso, isso e isso; e eu indiquei o engenheiro para fazer as obras”.

Depois de receber o depoimento, em nota, os procuradores da Lava Jato disseram que “a voluntariedade na celebração do acordo foi aferida na sua homologação perante o Supremo Tribunal Federal”. No âmbito da Lava Jato, Paschoal declarou em novembro de 2018 que recebeu um pedido da cúpula da Odebrecht para “ajuda na reforma de uma casa em Atibaia, que seria oportunamente utilizada pelo então presidente [Lula]” e que o envolvimento da Odebrecht nas obras não podia ser revelado. Ele foi condenado a dois anos de prisão, em regime aberto, por lavagem de dinheiro e recorreu da sentença ao TRF-4.

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