JUSTIÇA

Polícia investiga ligação de assassino de Aracruz, no ES, com grupos neonazistas

Usando farda militar e suásticas, filho de PM invadiu duas escolas usando carro e armas do pai e atirou contra alunos e professores, matando três pessoas. Quarta vítima morreu sábado
Por Gilson Camargo / Publicado em 28 de novembro de 2022

Foto: Reprodução

A pesquisadora da UFMG e professora de uma das escolas invadidas, Flavia Amoss Merçon Leonardo, é a quarta vítima fatal dos atentados executados por adolescentes em Aracruz

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A polícia civil de Aracruz, município de 105 mil habitantes situado no litoral norte capixaba, a 81 quilômetros da capital, está investigando a suposta ligação entre o autor dos atentados cometidos por um adolescente de 16 anos contra duas escolas na sexta-feira, 25, e células neonazistas que atuam no recrutamento de simpatizantes no país e usam a internet para disseminar ideias supremacistas e de ódio racial.

Três pessoas foram mortas nos dois ataques na Escola Estadual de Ensino Fundamental Primo Bitti e o Centro Educacional Praia de Coqueiral (CEPC), uma instituição privada que fica a cerca de um quilômetro da escola pública.

Entre os 16 feridos graves na escola Bitti estava a professora Flávia Amoss Merçon Leonardo, de 38 anos, que morreu na tarde de domingo no Hospital Jayme dos Santos Neves. Ela foi sepultada na tarde de domingo, 27, no cemitério Jardim da Paz, município de Serra, na Região Metropolitana de Vitória.

Pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais, Flávia lecionava sociologia na Escola Primo Bitti e integrava o Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais da UFMG (Gesta) da Universidade de Minas Gerais (UFMG) sobre as comunidades afetadas pelo desastre da mineradora Samarco, em novembro de 2015.

O primeiro ataque foi executado por volta das 9h30min e o segundo, cerca de 20 minutos depois. As outras vítimas fatais são as professoras Maria da Penha Pereira de Melo Banhos, 48 anos, e Cybelle Passos Bezerra, 45, que morreram na primeira escola de Aracruz. E a estudante Selena Zagrillo, 12 anos, do Centro Educacional.

Crime premeditado por ex-aluno Aracruz

Foto: TV Gazeta/ Reprodução

A estudante a estudante Selena Zagrillo e as professoras Maria da Penha Banhos e Cybelle Bezerra morreram durante a invasão

Foto: TV Gazeta/ Reprodução

De acordo com as investigações, os atentados de Aracruz foram premeditados e vinham sendo planejados há pelo menos dois anos. O autor não pode ser identificado por ser menor de idade.

Nos atentados, ele estava armado com uma pistola de uso militar e um revólver e usava como máscara um pano preto com o desenho de uma caveira sorrindo. A máscara é idêntica ao lenço usado por um adolescente de 17 anos em um ataque semelhante à Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, São Paulo, em 2019. Ele também estava vestido com uma jaqueta militar de camuflagem com uma suástica no braço e estampas do símbolo nazista no uniforme.

Além das armas, o carro usado no crime é de propriedade do pai do jovem, um tenente da Polícia Militar. Uma das armas é uma pistola da PM. Ele arrombou cadeados e invadiu a primeira escola no horário do intervalo, disparando  contra estudantes, professores e servidores.

No perfil do pai do autor dos atentados, a polícia localizou postagens que fazem apologia ao nazismo e havia suásticas e outros materiais na casa do jovem.

Para a Polícia Civil, o adolescente não tinha um alvo definido e teria agido por influência de grupos extremistas que se organizam na internet no país e no exterior.

“Meu filho cometeu algo terrível”, lamentou o pai do jovem, que foi investigado por publicar uma imagem e trechos da autobiografia de Adolf Hitler, usada por grupos supremacistas e de extrema direita para alimentar o ódio antissemita.

Devido à condição de menor de idade do filho, ele também não pode ter o nome citado. A Polícia Militar divulgou nota, afirmando que “poderá” abrir processo disciplinar.

O adolescente foi encaminhado ao Instituto de Atendimento Socioeducativo  do Espírito Santo (Iases), localizado em Curiacica.

No inquérito conduzido pelo delegado José Darcy Arruda, o jovem irá responder por ato infracional equivalente a quatro homicídios qualificados e dez tentativas de homicídios qualificados.

Ele admitiu a autoria e disse que vinha planejando o ataque há pelo menos dois anos. O jovem estudou em uma das escolas até junho deste ano.

De acordo com o delegado, o pai do assassino será incluído no inquérito. “Vamos investigar se além de ensinar a dirigir ele o instruiu a utilizar armas. Se ficar provado que o pai teve concurso para esse tipo de comportamento, certamente responderá também”, disse o delegado, que não acredita que o adolescente tenha agido sozinho.

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