JUSTIÇA

Polícia Federal prende ex-bombeiro envolvido nas mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes

Maxwell Corrêa que participou da logística do atentado e ocultação de carro e armas, foi preso após delação premiada de um dos autores dos assassinatos
Por Gilson Camargo / Publicado em 24 de julho de 2023

Foto: TV Globo/ Reprodução

Operação da PF e MPRJ prenderam ex-bombeiro que seguiu as vítimas e emprestou carro para descarte das armas

Foto: TV Globo/ Reprodução

O ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, foi preso na manhã desta segunda-feira, 24, em uma operação da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) que investiga os assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSol-RJ) e do motorista Anderson Gomes, além da tentativa de homicídio da assessora Fernanda Chaves. Os crimes ocorreram às 21h30 de 14 de março de 2018, no centro do Rio.

Foto: PF/ Reprodução

Prisão preventiva foi executada na primeira fase da Operação Élpis, deflagrada pela Força-tarefa Marielle e Anderson

Foto: PF/ Reprodução

Corrêa foi preso em casa, uma mansão de luxo no Recreio dos Bandeirantes, na zona Oeste do Rio, e levado para sede da PF, na zona Portuária. No local, os agentes apreenderam um carro importado.

A prisão preventiva foi executada na primeira fase da Operação Élpis, deflagrada nesta manhã pela Força-tarefa Marielle e Anderson, que investiga o atentado político.

Foram cumpridos ainda, com apoio da Divisão de Segurança Institucional do MPRJ, sete mandados de busca e apreensão.

Esta é a segunda vez que Corrêa é preso por envolvimento no crime. Em junho de 2020, o ex-bombeiro havia sido preso durante a operação Submersos II. Ele foi condenado em 2021 a quatro anos de prisão por atrapalhar as investigações, mas cumpria a pena em regime aberto.

Desta vez, ele responde pela participação no planejamento do atentado e ocultação das armas usadas no crime.

Segundo o MP, era de Maxwell o carro usado para esconder as armas que estavam em um apartamento de Ronnie Lessa, amigo dele que está preso pela coautoria dos assassinatos. Depois da emboscada, Maxwell ajudou a jogar o armamento no mar.

Em delação premiada Queiroz acusa Lessa

Foto: Reprodução

Ronnie Lessa (E), sargento aposentado da PM, autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson; e Élcio Queiroz, ex-policial militar que atuou como motorista no atentado e fez delação premiada à Justiça

Foto: Reprodução

A prisão do ex-bombeiro foi embasada pela delação premiada de ex-policial militar e miliciano Élcio Queiroz, que está preso pela coautoria do atentado contra Marielle e o motorista da vereadora.

No depoimento à PF e ao MPRJ, Queiroz acusou o ex-policial militar Ronnie Lessa pelos assassinatos. Segundo Queiroz, foi Lessa quem fez os disparos. Ele forneceu detalhes do crime e confirmou a participação de Maxwell, que foi preso nesta manhã.

Os dois PMs reformados, que atuavam no Rio como matadores de aluguel, estão presos preventivamente desde 2019 na Penitenciária de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, e respondem por duplo homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emboscada e recurso que dificultou a defesa da vítima) e pela tentativa de homicídio. Eles serão julgados por um júri popular por determinação do STF.

Foto: Mídia Ninja/ Arquivo

Marielle Franco (PSol) foi assassinada por milicianos no Rio em março de 2018

Foto: Mídia Ninja/ Arquivo

Queiroz confessou que dirigiu o Cobalt prata usado para emboscar o veículo dirigido por Anderson e que transportava Marielle e Fernanda Chaves no banco traseiro. Ele declarou que fez a aproximação e fechou o veículo das vítimas enquanto Ronnie Lessa, posicionado atrás dele, fez os disparos com uma submetralhadora. O carro foi desmanchado após o crime e as armas atiradas ao mar.

O ex-bombeiro Maxwell Corrêa fez campanas para vigiar a vereadora e seria o motorista da emboscada, mas acabou substituído por Queiroz, de acordo com o depoimento do miliciano.

Rastreamento de celulares

Queiroz e Lessa foram presos depois de um rastreamento dos celulares deles, autorizado pela justiça, feito por meio de antenas das estações de rádio-base após quebra de sigilos telefônicos e telemáticos, e revelado pela Delegacia de Homicídios do Rio em março de 2019.

A investigação mostra que eles saíram da Barra, durante a campana na Rua dos Inválidos, no Centro, onde Marielle participava de uma agenda política, e revela que os assassinos voltaram à Barra, onde permaneceram durante quatro horas em um restaurante.

Imagem/ Delegacia de Homicídios/ Arquivo

Polícia localizou suspeitos por meio do rastreamento de celulares por antenas de ERB

Imagem/ Delegacia de Homicídios/ Arquivo

De madrugada foram para suas casas. O rastreamento mostra que às 16h30min do dia do crime, Lessa acessou a internet para pesquisar sobre o uso de Jammer, um dispositivo ilegal que serve para neutralizar sinais de GPS e bloquear celulares.

Às 16h59min, o telefone de Élcio é localizado no condomínio Vivendas da Barra, mesmo local de residência do então candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro.

Às 17h24min, câmeras de segurança mostram o Cobalt prata usado no assassinato parado junto ao Quebra-Mar, na Barra e, às 18h45min, o veículo chegando à Rua dos Inválidos, onde Lessa e Queiroz já estavam esperando que a vereadora saísse da Casa das Pretas, onde ela participava de um evento.

A vereadora e o motorista foram mortos entre 21h09min e 21h12min, na Rua Joaquim Palhares, no bairro Estácio.

Às 22h11min, as antenas de telefonia detectaram o celular de Élcio em deslocamento do Vivendas da Barra para restaurante Resenha e Grill, onde ele chegou às 22h30min.

Lessa chega ao restaurante às 23h18, conforme captado pelas antenas, do Imei do celular do suspeito.

O rastramento levou a polícia a identificar Lessa entre os suspeitos do crime. Ele foi apontado como o autor dos 13 tiros feitos contra o veículo das vítimas.

A ministra de Igualdade Racial, Anielle Franco, irmã de Marielle, disse que a prisão do ex-bombeiro reafirma sua confiança na investigação sobre os supostos mandantes do assassinato da vereadora.

Dino: prisões serão mantidas

Em entrevista coletiva nesta manhã no Ministério da Justiça, o ministro Flávio Dino afirmou que o ex-policial militar Élcio Queiroz, réu por envolvimento no assassinato da vereadora e do motorista, receberá benefícios em razão do acordo de delação premiada, mas seguirá preso. Dino reafirmou que a investigação não está concluída.

Outros envolvidos citados no depoimento devem ser presos pela PF e pelo MPRJ.

“O instituto da colaboração premiada pressupõe o acordo. Claro que houve. As cláusulas ainda permanecem sob sigilo judicial, mas posso afirmar que o senhor Élcio continuará preso em regime fechado. Inclusive, onde se encontra”, afirmou.

Comentários