JUSTIÇA

Ex-diretor da PRF que comandou blitze contra ônibus de eleitores no segundo turno é preso em SC

Polícia Federal cumpre mandados de prisão e de busca e apreensão em três estados e no DF. Silvinei Vasques foi preso em Florianópolis
Por Gilson Camargo / Publicado em 9 de agosto de 2023
Ex-diretor da PRF que comandou blitze contra ônibus de eleitores no segundo turno é preso em SC

Foto: Bruno Spada / Câmara dos Deputados

Silvinei Vasques, que negou tentativa de interferência nas eleições em depoimento à CPMI do 8 de janeiro, foi preso pela PF em Florianópolis

Foto: Bruno Spada / Câmara dos Deputados

O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, foi preso preventivamente na manhã desta quarta-feira, 9, em Santa Catarina, em operação da Polícia Federal que apura a retenção de 2 mil ônibus que transportavam eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022.

O ex-diretor de Inteligência e ex-Superintendente da PRF no Rio Grande do Sul, Luis Carlos Reischak Junior, é alvo de mandado de busca e apreensão pela PF – são dez mandados em execução em três estados e no Distrito Federal.

Em julho, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou abertura de uma investigação na PRF por irregularidades no uso de recursos públicos em outra irregularidade na gestão de Vasques. Uma auditoria especial foi determinada pelo ministro do TCU, Benjamin Zymler, que atendeu pedido do Ministério Público de Contas. Foram listadas acusações de mau uso da força policial antes e depois da eleição. Para o TCU, há indícios de que a PRF hesitou em desbloquear rodovias ocupadas por militantes radicais bolsonaristas inconformados com a derrota.

No dia da votação do segundo turno, 30 de outubro, policiais rodoviários chefiados por Vasques montaram blitze nas regiões Norte, Nordeste, Centro-oeste, Sudeste e Sul, com o objetivo de impedir que eleitores do petista chegassem às sessões eleitorais e favorecer o então presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição que acabou derrotado.

Lula detinha maior intenção de votos no segundo turno, acima de 66%, nessas regiões, de acordo com as pesquisas eleitorais à época.

Foto: PRF/Divulgação

ex-diretor de Inteligência e ex-Superintendente da PRF no Rio Grande do Sul, Luis Carlos Reischak, é alvo de mandado de busca e apreensão pela PF – são dez mandados em execução em três estados e no DF

Foto: PRF/Divulgação

Vasques foi preso em Florianópolis e deve ser transferido para Brasília. Ele foi alvo da Operação Constituição Cidadã, da PF, que cumpriu nesta manhã o mandado de prisão preventiva e de busca e apreensão contra ele autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes e expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Outros nove mandados de busca e apreensão seriam cumpridos pela PF nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Rio Grande do Norte.

Os alvos de mandados de busca e apreensão são os ex-diretores de Inteligência da PRF, Luis Carlos Reischak (titular) e Rodrigo Hoppe; o ex-corregedor-geral, Wendel Benevides; o ex-policial rodoviário Bruno Nonato que atualmente ocupa cargo na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Ainda são alvos da investigação do STF o ex-coordenador-geral de Gestão Operacional, Anderson Frazão; Djairlon Henrique Moura, ex-diretor de Operações; e Antonio Melo Schlichting Junior, ex-coordenador-geral de Combate ao Crime da corporação.

A operação conta com o apoio da Corregedoria Geral da PRF, que determinou ainda a oitiva de 47 policiais rodoviários federais.

De acordo com as investigações, integrantes da PRF “direcionaram recursos humanos e materiais com o intuito de dificultar o trânsito de eleitores no dia 30/10/2022”.

Os crimes apurados teriam sido planejados desde o início de outubro daquele ano, sendo que, no dia do segundo turno, foi realizado patrulhamento ostensivo e direcionado à região Nordeste do país, informou a PF.

Os fatos investigados configuram, “em tese, os crimes de prevaricação e violência política, previstos no Código Penal Brasileiro, e os crimes de impedir ou embaraçar o exercício do sufrágio e ocultar, sonegar, açambarcar ou recusar no dia da eleição o fornecimento, normalmente a todos, de utilidades, alimentação e meios de transporte, ou conceder exclusividade dos mesmos a determinado partido ou candidato, do Código Eleitoral Brasileiro”.

Vasques é réu por improbidade administrativa. Na véspera do segundo turno, o então diretor da PRF declarou voto em Bolsonaro, o que levou o ministro do STF a determinar a suspensão das blitze, o que não cumprido por Silvinei.

Em junho, em depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, no Congresso, Vasques negou qualquer plano para impedir eleitores do então candidato Lula no Nordeste de votarem no segundo turno.

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