MOVIMENTO

Presença massiva de mulheres marca ato contra reforma de Previdência

Mais prejudicadas pelo projeto de Bolsonaro, pois teriam que trabalhar uma década a mais, elas representam 62% das aposentadorias por tempo de serviço
Por Flávio Ilha / Publicado em 22 de março de 2019
Maria Bento: “Se essa reforma é ruim para os homens, imagina então para as mulheres?”

Maria Bento: “Se essa reforma é ruim para os homens, imagina então para as mulheres?”

Foto: Igor Sperotto

Um mar de mulheres invadiu a Esquina Democrática de Porto Alegre no fim da tarde desta sexta-feira, 22, durante ato unitário de centrais e sindicatos contra a reforma da Previdência proposta pelo governo Bolsonaro. Elas eram maioria no ato – jovens, adultas, aposentadas, militantes, mães, avós, namoradas. Eram muitas e cantaram alto as palavras de ordem contra a reforma.

Entre as categorias profissionais mais atingidas pelas novas regras da Previdência, os professores do ensino privado foram representados no ato pelo Sinpro/RS

Entre as categorias profissionais mais atingidas pelas novas regras da Previdência, os professores do ensino privado foram representados no ato pelo Sinpro/RS

Foto: Igor Sperotto

A Esquina Democrática reuniu milhares de pessoas que, após a manifestação, saíram em caminhada pelas ruas de Porto Alegre. O Coletivo Feminista Marielle Vive era um dos maiores contingentes organizados da manifestação: cerca de 150 mulheres que vieram de várias regiões do estado engrossar o ato. Muitas delas aposentadas, brigando pela manutenção de seus direitos. “Estou aqui para ajudar minhas colegas que trabalham. É uma proposta horrível, que favorece só os ricos”, disse a servidora da Saúde aposentada Maria de Lurdes Cantarelli, 76 anos.

Organizado pelas centrais sindicais, ato em Porto Alegre reuniu representações sindicais de diversas categorias

Organizado pelas centrais sindicais, ato em Porto Alegre reuniu representações sindicais de diversas categorias

Foto: Igor Sperotto

“Seremos as mais prejudicadas pela proposta de reforma porque, pelos nossos cálculos, teremos de trabalhar em média mais 10 anos para conseguir uma aposentadoria decente”, afirmou a coordenadora do grupo, Maira Farias. “E como fica nossa jornada doméstica, nosso terceiro turno de trabalho em casa?”, questionou. De camiseta roxa com as inscrições do grupo, as mulheres do Coletivo chegaram cedo no ato. “Somos muitas Marielles aqui, defendendo nossa organização e nossos direitos”, completou Maira.

Elas foram maioria no ato contra a reforma da Previdência – que teve mobilizações no interior do estado e em diversas capitais

Elas foram maioria no ato contra a reforma da Previdência – que teve mobilizações no interior do estado e em diversas capitais

Foto: Igor Sperotto

Assim como chegou cedo a professora Maria Gessi Bento, também aposentada. Aos 74 anos, ela disse que estava no ato, segurando uma faixa em protesto contra a reforma, “para garantir o pouco que ainda tenho”. Segundo ela, a desvinculação dos reajustes da política de aumento do salário mínimo é uma ameaça aos aposentados. “Se essa reforma é ruim para os homens, imagina então para as mulheres?”, questiona.

De acordo com os dados apresentados pela organização do ato, que reuniu as principais centrais sindicais do país numa manifestação marcada pela unidade, 62% das aposentadorias por tempo de serviço são de mulheres – que recebem em média 76% do valor de benefício pago aos homens.

Greve geral e reforma tributária

No carro de som, lideranças sindicais e políticas se revezaram no microfone, apresentando argumentos contra a proposta. O deputado federal Henrique Fontana (PT) disse que o projeto do governo “é muito cruel” para ser defendido por algum parlamentar. “Poucos, pouquíssimos, têm coragem de subir à tribuna da Câmara para defender a proposta”, disse.

Segundo Fontana, da meta de R$ 1 trilhão de economia com a reforma, cerca de R$ 850 bilhões sairão do bolso de quem ganha até R$ 2,5 mil mensais. “Onde está o propalado combate aos privilégios vendido pelo governo?”, questionou. Para o deputado, boa parte da população já está percebendo que a reforma não é a solução para os problemas brasileiros. “É mais uma ilusão, assim como foi a reforma trabalhista do Temer”, definiu.

O presidente da CUTRS, Claudir Nespolo, disse que a proposta do governo Bolsonaro não acaba com privilégios, mas sim com a aposentadoria de milhares de trabalhadores e trabalhadoras, que não vão conseguir se aposentar. “Muitos se aposentarão com benefícios de menos de um salário mínimo. E os que já estão aposentados terão o valor dos benefícios achatados. A reforma de Bolsonaro é muito pior do que a do golpista Michel Temer”, discursou.

Coletivo Feminista Marielle Vive, um dos maiores contingentes organizados da manifestação

Coletivo Feminista Marielle Vive, um dos maiores contingentes organizados da manifestação

Foto: Igor Sperotto

Nespolo lembrou que no dia 28 de abril de 2017 a classe trabalhadora fez a maior greve geral da história do país e conseguiu barrar a proposta previdenciária de Temer. Mais de 45 milhões de trabalhadores em todo o país cruzaram os braços para defender o direito à aposentadoria. O dirigente considera que a reforma de Bolsonaro significa o “maior retrocesso da história, superando a maldita reforma trabalhista de Temer que acabou com direitos, aumentou a precarização do trabalho, jogou milhões de trabalhadores na informalidade e, ao contrário do que prometeram, não reduziu o desemprego no país”.

“E como fica nosso terceiro turno de trabalho em casa?”, questiona Maira, coordenadora do coletivo Marielle Vive

“E como fica nosso terceiro turno de trabalho em casa?”, questiona Maira, coordenadora do coletivo Marielle Vive

Foto: Igor Sperotto

A deputada federal Fernanda Melchiona (PSol) sugeriu que se taxem as grandes fortunas e que se aposte numa reforma tributária para resolver os problemas fiscais do país, ao invés de atacar a poupança dos trabalhadores. “Vamos construir a greve geral para derrotar o primeiro projeto nefasto do Bolsonaro. Vamos melar os planos daqueles que odeiam a luta das mulheres, dos trabalhadores, das populações LGBT”, conclamou.

O presidente da CGTB, Nelcir André Varnier, disse que a população trabalhadora do país não é burra e não se deixará enganar novamente. “Não chega o estelionato da reforma trabalhista do Temer? A ganância não tem fim. Estão oferecendo na reforma a dor, a doença e o desamparo”, afirmou.

Também houve manifestações em Caxias do Sul, Pelotas, Passo Fundo, Santa Maria e Ijuí. As panfletagens e manifestações se estenderam a Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires, Santa Rosa, Erechim, Igrejinha, Novo Hamburgo, Estância Velha, Rio Grande, São Leopoldo e Taquara, entre outros municípios.

A caminhada e o ato de Porto Alegre acabaram no largo Zumbi dos Palmares. Não foram registrados incidentes.

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