MOVIMENTO

Luis Arce eleito presidente da Bolívia com 55% dos votos

Socialistas vencem com ampla vantagem candidatos de direita que apoiaram o golpe de 2019 e a anulação das eleições com intervenção da OEA
Por Gilson Camargo / Publicado em 23 de outubro de 2020
O economista e professor universitário Luis “Lucho” Arce é o novo presidente do país

Foto: Twitter/ Reprodução

O economista e professor universitário Luis “Lucho” Arce é o novo presidente do país

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O escrutínio oficial das eleições presidenciais na Bolívia confirmou a vitória incontestável dos candidatos do Movimiento al Socialismo (MAS), Luis Arce à presidência e David Choquehuanca a vice-presidente. Com a totalidade das urnas apuradas, o partido do ex-presidente Evo Morales alcançou 55,1% dos votos no maior levante popular da história do país.

Atrás de Arce estavam os candidatos que apoiaram o golpe de 2019 contra Morales e o governo de fato de Jeanine Áñez: Carlos Mesa obteve 28,83% e Luis Fernando Camacho 14%.

Assim, a vitória do MAS foi mais contundente do que nas eleições do ano passado, anulada em meio a denúncias de supostas fraudes apoiadas pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Naquela eleição, o ex-presidente Evo Morales, depois forçado a renunciar, obteve pouco mais de 47% dos votos, enquanto Mesa obteve 36,51%.

A vitória de Arce já foi reconhecida por Mesa, pelo governo da presidente autoproclamada Jeanine Áñez e por grande parte da comunidade internacional, enquanto a extrema direita de Camacho disse que esperaria a contagem final. A OEA, questionada sobre seu papel nas eleições anuladas de 2019, também descreveu a vitória do MAS como “clara e contundente”.

No último domingo, foram às urnas 6.483.893 bolivianos, de forma que a participação eleitoral chegou a 88,4%, segundo relatório do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) divulgado em seu site oficial. Os votos válidos foram 95%, os brancos 1,4% e os inválidos 3,5%.

Como era esperado, Mesa concentrou seu voto em Santa Cruz, a maior e mais populosa região da Bolívia, além de centro econômico do país, embora a diferença tenha sido ainda menor do que o projetado pela própria candidatura. Nessa região, Mesa conquistou 45,05% contra 36,09% de Arce.

Quem é o novo presidente

Vice-presidente: o líder indígena David Choquehuanca e representante dos cocaleiros

Foto: Twitter/ Reprodução

Vice-presidente: o líder indígena David Choquehuanca e representante dos cocaleiros

Foto: Twitter/ Reprodução

O economista e professor universitário Luis “Lucho” Arce, trabalhou no Banco Central da Bolívia, de 57 anos, foi ministro da Economia nos governos de Evo Morales de 2006 e 2017 e entre janeiro e novembro de 2019, sendo o artífice do desenvolvimento econômico e social do país.

Foi um dos articuladores das reformas que resultaram num aumento do PIB, de 9,5 bilhões de dólares para mais de 40 bilhões em duas décadas, na queda da inflação e nos índices de pobreza de 60% para 37% da população. Seu governo deve ser orientado pelo incentivo ao mercado interno, garantia da estabilidade cambial e promoção de políticas de industrialização de recursos naturais.

Descendente de índigenas animarás da região do lago Titicaca, vice-presidente David Choquehuanca, 59 anos, foi dirigente sindical da Confederação Sindical Única de Camponeses da Bolívia e, como chanceler de Morales, se notabilizou pelos esforços pela integração do continente.

“Se Morales quiser ajudar, será bem-vindo. Mas será meu governo”

Em entrevista ao programa Newshour, da conservadora rede BBC, Luis Arce falou a respeito da polarização política boliviana e afirmou que “o que está dividido são os interesses das pessoas. Quando um país está dividido diante de políticas, partidos ou o que seja, tudo isso são interesses de classes. Mas, por causa da pandemia, todos começaram a sentir que a economia não está indo bem, que o modelo neoliberal que implementaram em novembro de 2019 não está indo bem”.

O presidente eleito reafirmou as realizações de Evo Morales ao afirmar que “as pessoas tinham mais benefícios no nosso modelo. Então os interesses estão voltando mais do lado social, do que do lado da direita, que quer se manter no modelo neoliberal, mas os benefícios são mais para os empresários e os ricos”, mas esclareceu que seu governo não será uma continuidade dos mandatos do ex-presidente exilado no México depois de ter sido forçado a renunciar em 2019. “Dissemos que precisávamos ter renovação no MAS, para (atrair) as pessoas mais jovens. Se Evo Morales quiser nos ajudar, será muito bem-vindo. Mas isso não significa que Morales estará no governo. Será meu governo”, frisou.

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