MOVIMENTO

Governo promete criar fórum para ouvir agricultores familiares sobre efeitos da estiagem no estado

Pequenos produtores de diversas regiões ocuparam a frente da Secretaria da Agricultura até serem recebidos em audiência pelo chefe da Casa Civil
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 16 de fevereiro de 2022

Foto: Igor Sperotto

Produtores da agricultura familiar de diversas regiões do estado reivindicaram liberação de créditos retidos pelo governo do estado

Foto: Igor Sperotto

O movimento de agricultores familiares que ocupou nesta quarta-feira, 16, a entrada da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, na avenida Getúlio Vargas, em Porto Alegre, obteve, em reunião com integrantes do alto escalão do governo Eduardo Leite (PSDB) o compromisso da criação de um fórum para discutir as reivindicações apresentadas pelos trabalhadores para minimizar os efeitos da forte estiagem na agricultura.

O governo se comprometeu ainda em auxiliar nas negociações dos agricultores com o governo federal. De acordo com Douglas Cenci, coordenador estadual da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Rio Grande do Sul (Fetraf/RS), também houve um aceno para a criação de um crédito emergencial para os agricultores.

Impasse

Após interditar a entrada da Secretaria, agricultores familiares de várias regiões do estado convenceram o secretário-chefe da Casa Civil, Artur Lemos Júnior, a ir até o local para ouvir as demandas do movimento.

A comitiva dos trabalhadores rurais tem representantes da Fetraf/RS, os movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Pequenos Agricultores (MPA), atingidos por Barragem (MAB) e o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do Rio Grande do Sul (Consea/RS). O secretário-executivo da secretaria da Agricultura, Luiz Fernando Rodrigues também participou do encontro.

A intervenção de Lemos Júnior acabou contornando um impasse que chegou a acirrar os ânimos no início da manhã, quando assessores da secretária da Agricultura, Silvia Covatti (PP), foram até o portão da repartição para argumentar que a titular da pasta não poderia receber os agricultores e tentaram desmobilizar o movimento mediante apresentação de um conjunto de medidas que já estaria em andamento.

Ameaça de ocupação

Foto: Carol Lima / CUT-RS

Hemocentro de Porto Alegre recebeu doação de sangue de 40 agricultores no começo da manhã

Foto: Carol Lima / CUT-RS

Afirmando ter conhecimento das ações e que o que estava sendo feito era insuficiente, a coordenação do movimento chegou a afirmar que só desimpediria a avenida após uma reunião com o próprio governador.

Sob o sol escaldante, também houve forte manifestação dos presentes para uma ocupação da sede da secretaria. “A direção do movimento tem que dar um ultimato. Nós não viemos aqui para brincar. Se a gente não for recebido, nós vamos botar o pé no portão”, avisou o produtor Roberto Iopp, do município de Espumoso.

Douglas Cenci explicou que a indignação dos agricultores é compreensível, já que o movimento entregou sua pauta no dia 10 de janeiro para o governo do estado e no dia 12 de janeiro para a ministra da Agricultura Tereza Cristina (DEM/MS). “Até agora nenhum encontro foi sequer chamado”, disse.

De Tiradentes do Sul, a agricultora Cleonice Back, lembra a penúria que, em especial, os pequenos trabalhadores rurais estão passando. “Árvores frutíferas de 30, 40 anos estão morrendo e já perdemos cerca de 50% da produção de leite”, ilustrou. A agricultora ressaltou que a hortifruticultura de subsistência também foi fortemente afetada, apresentando riscos de insegurança alimentar aos pequenos agricultores. “Além disso, essa instabilidade financeira muito grande está impactando nas cidades que dependem basicamente do nosso trabalho. Ninguém tem dinheiro para nada”, alarma-se. Cleonice também integra a diretoria da Fetraf/RS e é secretária-geral adjunta da Central Única dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul (CUT/RS).

Doação de Sangue

As caravanas representando as mais variadas regiões do estado chegaram ao clarear do dia na capital. Muitos trabalhadores relataram que viajaram mais de 13 horas para participar das manifestações.

Evocando a produção de alimentos e a defesa da vida os agricultores familiares e camponeses aproveitaram ainda a manifestação para uma ação de incentivo à doação de sangue. As 9h, 40 agricultores se dirigiram ao Hemocentro de Porto Alegre e se apresentaram como doadores. Segundo manifesto apresentado à imprensa, o ato “reforça a solidariedade da população do campo, que mesmo em seus momentos mais difíceis não mede esforços para ajudar o próximo”.

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