OPINIÃO

Gaúchos na exploração do trabalho escravo

Só nos primeiros três meses deste ano, a Secretaria de Inspeção do Trabalho fez 45 dessas ações fiscais e resgatou 231 trabalhadores – totalizando mais de 55 mil escravizados
Da Redação / Publicado em 19 de outubro de 2020

Extra Classe | Outubro 2020

Extra Classe | Outubro 2020

Em uma manhã gelada de julho de 2011, uma força-tarefa da Secretaria de Inspeção do Trabalho, órgão do Ministério da Economia, que fiscaliza a exploração do trabalho escravo no país, chegou de surpresa ao galpão que abrigava trabalhadores explorados no cultivo de batatas em São Roque, no município de Ibiraiaras, Nordeste do RS. Fazia 5 graus centígrados. Encontraram jovens e adultos enrolados em trapos, calçando chinelos e vestindo bermudas, famintos, no alojamento desprovido de recursos e de higiene. Estavam ali desde abril, trabalhando a troco de uma escassa ração diária, endividados e com os documentos retidos. Tinham vindo de Pedreiras, no Maranhão, onde é verão o ano inteiro, trazidos pelo “gato” que arregimenta mão de obra para o agronegócio, do Oiapoque ao Chuí.

A propriedade onde aconteceu o flagrante pertence ao empresário Marconi Christianetti, presidente de um consórcio de agricultores da região. Ele foi condenado pela Justiça de Passo Fundo a três anos de reclusão e pagamento de multa, penas mantidas em segundo grau pelo TRF4. Christianetti, no entanto, não passou nem um dia na cadeia. Teve comutada a pena corporal por serviços comunitários. Ele foi defendido pelo advogado Adão Paiani, ex-ouvidor agrário do governo de Yeda Crusius (PSDB).

Como mostra a reportagem de capa desta edição, o episódio é uma peça-chave sobre as conexões do estado com uma rede de exploração do trabalho escravo que está em plena atividade no país, valendo-se dos mesmos “gatos” que arregimentam mão de obra em outros estados. Só nos primeiros três meses deste ano, a Secretaria de Inspeção do Trabalho fez 45 dessas ações fiscais e resgatou 231 trabalhadores – totalizando mais de 55 mil escravizados, que receberam cerca de R$ 108 milhões a título de verbas salariais e rescisórias durante as operações.

Na entrevista do mês, a verve do youtuber e historiador Jones Manoel, militante do histórico PCB, que aborda temas áridos para a internet como socialismo, liberalismo, imperialismo e outros. Ele afirma que o PT abandonou por anos a luta de classes, mas a burguesia não, e sustenta que a esquerda no país precisa se reinventar. “As classes trabalhadoras, de forma confusa e despolitizada, cobram radicalidade, perderam a fé no sistema. E, no geral, temos uma esquerda liberal, domesticada”.

Também são destaque os desdobramentos da aprovação do marco legal do saneamento, que abre caminho para a privatização da água no país, e o movimento dos principais players da educação privada que vêm amargando sucessivos prejuízos e buscam alternativas para se manter no topo do mercado. Na cultura, a 66ª Feira do Livro de Porto Alegre, que neste ano de isolamento social inaugura um formato inusitado, totalmente virtual. O Prêmio Educação, promovido pelo Sinpro/RS, também terá uma edição especial devido à pandemia. Confira ainda as matérias do ensino privado no estado e os colunistas e chargistas do Extra Classe.

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