OPINIÃO

Pegando o touro à unha

Barbosa Lessa / Publicado em 7 de outubro de 1997

Se, nos dias de hoje, ainda avulta o desafio de sanear as deficiências no Ensino de 1º e 2º Pegando o touro à unhaGraus, corrigindo suas falhas e distorções, só fico pensando como deve ter sido dramática, heróica, a luta de nosso Governo lá pela primeira metade do século passado.

Não mal comparando, era como ser obrigado a trilar o apito o quanto antes, dando início à partida, mas não tendo nem as equipes constituídas, nem as regras do jogo, nem mesmo a bola: só havia o público – sem saber para que lado torcer – e o campo, mas sem goleiras nem nada.

Por quem orientar-se? Por alguns raros jogadores de várzea daqui mesmo, por um outro craque das outras províncias e pelas dicas de alguns técnicos tais como Lancaster, que à época era uma espécie de “Zagalo” da equipe inglesa então campeão do mundo.

Pressionado pelos oposicionistas liberais, ou farroupilhas, o Governo foi abrindo as primerias aulas públicas, de matérias isoladas, em Porto Alegre, Rio Grande, Pelotas, Rio Pardo e Caçapava. A aula podia ensinar tanto o Be-a-bá como o Latim, atendendo ao alfabetizando ou a quem estivesse se preparando para uma Faculdade paulista.

O jovem político Magalhães Calvet, por exemplo, foi nomeado para dar aula de Álgebra, Geometria e Trigonometria. E a remuneração? Professor da Capital vai ganhar 600 mil-réis anuais, e professor do interior – é claro que num status inferior – 100 mil menos: 500. Salário bem modesto, aliás.

Quando houve o levante de 20 de setembro de 1835, três meses depois já aparecia e era sancionada uma primeira lei organizando o currículo escolar, dividido em três graus, desde matérias elementares como a leitura e a escrita até, no último grau, Geometria e Geografia.

Houve críticas por causa da ausência de matérias consideradas indispensáveis, como Francês. Também ficou estabelecida a remuneração do magistério, especificando para o professor de quatro operações decimais, por exemplo, o ordenado de 400 a 600 mil-réis anuais, para o de aritmética de frações, de 500 a 700; para o de geometria, 600 a 800.

Se tivesse perdurado até nossos dias tal diferenciação, fico imaginando a gritaria para definir quantos pilas de-veria ganhar o professor de inglês, o de música, o de futebol, o de televisão, o de computação. Dêem suas sugestões, senhoras e senhores. Colaborem para esta oportuna definição.

*Luiz Carlos Barbosa Lessa é historiador, folclorista e escritor

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