POLÍTICA

Facebook retira do ar perfis falsos ligados ao MBL

Rede social caracterizou páginas e contas usadas por membros do grupo ativista de direita Movimento Brasil Livre (MBL) como perfis enganosos
Por Gilson Camargo* / Publicado em 25 de julho de 2018

Imagem: Reprodução

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Em comunicado nesta quarta-feira, 25, a rede social informou a desativação de 196 páginas e 87 contas no Brasil por sua participação em “uma rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas no Facebook, e escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação”. As páginas ou usuários envolvidos não foram identificados pelo Facebook. Fontes da agência de notícias Reuters afirmaram que a rede “era administrada por membros importantes do MBL”.

Em um comunicado compartilhado no Twitter, o MBL confirma que administra os perfis falsos e que diversos de seus coordenadores haviam sido afetados pela retirada do conteúdo. A nota critica o Facebook por desativar as contas de diversos coordenadores do grupo sem maiores explicações e alega que alguns dos perfis retirados do ar possuíam nomes e informações verdadeiras dos seus membros. “Mas, como ao contrário do Facebook, liberdade de expressão e democracia são pilares do MBL, iremos utilizar todos os recursos midiáticos, legais e políticos que a democracia nos oferece para recuperar as páginas derrubadas e reverter a perseguição sofrida”, disse o grupo. O Facebook não se manifestou a respeito das acusações de “censura”.

Um dos parlamentares gaúchos identificados com o MBL, o deputado federal Gerônimo Goergen (PP) saiu em defesa da rede de perfis retirados do ar. “Espero que a empresa preste os devidos esclarecimentos e repare o erro cometido contra este importante instrumento criado por empresários brasileiros que lutam por um novo Brasil. Estamos discutindo a possibilidade de criação de uma CPI para investigar possíveis arbitrariedades cometidas pelo Facebook à livre manifestação do pensamento”, ameaçou.

MINISTÉRIO PÚBLICO – O Ministério Público Federal de Goiás pediu ao Facebook que explique as razões para deletar 196 páginas e 87 perfis de cunho político da rede social. O procurador da República Ailton Benedito deu o prazo de 48h para que a empresa detalhe as páginas e perfis removidos e justifique a exclusão de cada um deles.

No comunicado sobre a retirada do ar, a rede social havia justificado que desativou páginas relacionadas com “uma rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas no Facebook, e escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação”. O procurador Ailton Benedito afirma que as normas que regulam a internet no Brasil visam impedir a censura e discriminação dos usuários. Benedito abriu uma investigação em setembro de 2017 contra o Facebook para apurar suposta prática de censura relacionada à “Exposição Queer”, que foi cancelada em Porto Alegre (RS) por pressão do MBL.

O MBL, que liderou protestos em 2016 pelo impeachment da então presidente Dilma Roussefff utilizando um estilo agressivo de política on-line que radicalizou o debate no país, vem se notabilizando pela utilização das fake news nas suas ações contra os movimentos sociais, políticos e partidos de esquerda. As páginas desativadas, que juntas tinham mais de meio milhão de seguidores, variavam de notícias sensacionalistas a temas políticos, com uma abordagem claramente conservadora, com nomes como Jornalivre e O Diário Nacional.

FAKE NEWS – Ao deturpar o controle compartilhado das páginas, os membros do MBL eram capazes de divulgar suas mensagens coordenadas como se as notícias viessem de diferentes veículos de comunicação independentes, de acordo com as fontes. De acordo com o Facebook, a rede foi retirada do ar no Brasil após “rigorosa investigação” porque “os perfis envolvidos eram falsos ou enganadores, violando a sua política de autenticidade. O Facebook dispõe de um conjunto separado de ferramentas para combater a disseminação de notícias falsas com a ajuda de empresas externas de checagem de fatos. A segurança foi reforçada devido à pressão para combater as contas falsas e perfis enganosos. Em 2017, a empresa reconheceu que sua plataforma foi utilizada por “operações de informação” que usaram perfis falsos e outros métodos para influenciar a opinião pública durante a eleição norte-americana de 2016.

PRECEDENTE PERIGOSO – Para o diretor da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e ex-professor do curso de Jornalismo da Famecos, da PUC, Celso Schröder, o combate do Facebook aos perfis falsos do MBL asseguram a lisura das informações na rede social, mas pode abrir um perigoso precedente para a censura a veículos alternativos. “A campanha mundial contra o que chamam de fake news e que na maioria das vezes não é news por que não é feita nem divulgada por jornalistas ou veículos jornalísticos, traz uma perigosa dose de autoritarismo embutida. Primeiro, porque não coloca em xeque as mentiras jornalísticas e, em segundo, porque localiza nas redes o problema. Ou se regulamenta todo o sistema e se cria regras gerais ou cairemos num perigoso mundo em que os juízes, sempre eles, ou uma empresa como o Facebook decidem o que pode ser ou não veiculado. O passível de ser regulado somente é o news, ou seja, a notícia. E isso eles não querem. A opinião, mentirosa ou não, é avessa a regulações, porque certamente encaminha para o totalitarismo. Se a mentira causa dano, se é injúria, calúnia ou difamação e, portanto, tem que ter o denunciante, já se possui legislação para punir. Isso não tem nada a ver com news”, alerta o jornalista.

*Com informações da Agência Reuters

 

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