POLÍTICA

Jornal Nacional censura CNBB

Em matéria sobre encontro do candidato Fernando Haddad com lideranças católicas, a Rede Globo omitiu uma referência dos bispos a indígenas e quilombolas
Marcelo Menna Barreto / Publicado em 11 de outubro de 2018

A edição desta quinta-feira, 11, do Jornal Nacional, principal telejornal da Rede Globo de Televisão, censurou um trecho da nota da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitida por ocasião da visita do candidato à presidência da República Fernando Haddad.

O documento com as palavras e a assinatura do secretário-geral da CNBB, Dom Leonardo Ulrich Steiner, destaca como tema muito caro à Igreja Católica a “atenção especial à questão indígena e quilombola”. Ao citar as pautas da CNBB apresentadas a Haddad, a reportagem da emissora suprimiu a referência às comunidades indígenas e quilombolas.

Original da nota pública da CNBB teve trecho omitido em reportagem da Rede Globo

Imaqem: Reprodução

Original da nota pública da CNBB teve trecho omitido em reportagem da Rede Globo

Imaqem: Reprodução

Tecnicamente, como o texto de Dom Leonardo pedia atenção especial a essas temáticas, tudo indica que a decisão editorial do Jornal Nacional foi de censurar as palavras do representante dos bispos católicos. A possibilidade, segundo jornalista das organizações Globo que pediu para não ser identificado, é de que a empresa tenha tentado evitar o confronto com as declarações reiteradas do candidato do PSL, Jair Bolsonaro. Além de atacar comunidades quilombolas com declarações extremamente agressivas e irônicas, ele tem afirmado que, caso seja eleito, sua política será “nem um centímetro a mais para terras indígenas”. Para o jornalista, “tudo indica que a ideia era não dar visibilidade a um tema que prejudicaria Bolsonaro”.

 

Referência a índígenas e quilombolas foi destaque na nota da CNBB censurada pela emissora

Imagem: Reprodução

Referência a índígenas e quilombolas foi destaque na nota da CNBB censurada pela emissora

Imagem: Reprodução

AUTOCENSURA – A decisão editorial do Jornal da Globo, na opinião do jornalista consultado, é “um exemplo de autocensura”. A fonte lembra que “tinha época que os jornais, a imprensa, era censurada, mas pela ditadura”. E reitera que o fato tem contornos mais graves porque a Globo exerceu seu poder de censura em uma nota pública de uma entidade nacional extremamente importante.

Não existem muitos exemplos de bispos da Igreja Católica censurados na história recente do país. O caso mais famoso foi o de Dom Helder Câmara, arcebispo de Recife e Olinda, que nos anos 1970, com a implantação do Ato Institucional número 5 (AI-5) teve seu nome proibido de ser mencionado em todos os meios de comunicação do Brasil. Alguns veículos mais corajosos burlaram uma ou outra vez a determinação e ao invés de citar o nome de Dom Helder o tratavam como “o arcebispo de Recife e Olinda”. Dom Helder, devido o AI-5, chegou a ser proibido até de frequentar as universidades do país.

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