POLÍTICA

Lula recebe a faixa presidencial das mãos de representantes da diversidade do povo brasileiro 

Emocionado, após receber faixa, Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que governará para todos os brasileiros. "Não existe dois Brasis; existe um Brasil", destacou
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 1 de janeiro de 2023

Faixa presidencial foi entregue a Lula por uma criança, um indígena, um negro, uma mulher, um operário e uma pessoa com deficiência, em nome da diversidade do povo brasileiro

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

As 16h49 deste domingo, 1º de janeiro de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu a rampa do Palácio da Alvorada, acompanhado da primeira-dama, Janja Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e de sua esposa, dona Lu Alckmin, e de representantes do povo brasileiro.

Foi das mãos do cacique Raoni Metuktire, do menino Francisco, negro, de 10 anos de idade e morador de Itaquera, periferia de São Paulo; da catadora Aline Sousa; do metalúrgico do ABC Weslley Viesba Rodrigues; do professor de português Murilo de Quadros Jesus; da cozinheira Jucimara Fausto dos Santos; do influenciador digital Ivan Baron, jovem que teve uma paralisia cerebral causada por uma meningite na infância; e do artesão Flávio Pereira, que Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a faixa presidencial. Jair Bolsonaro abandonou o Brasil no último dia 30.

A cachorrinha abandonada adotada pelo casal presidencial, que perambulava pelo acampamento de vigília durante a prisão de Lula em Curitiba (PR) e que ganhou o nome de Resistência, também subiu à rampa com o grupo.

O ato que deveria ser corriqueiro dentro de uma cultura democrática de alternância de poder se deu após cerca de dois meses de ameaças e gritarias histéricas às portas de quartéis por parte de grupos que promoveram por todo o país atos antidemocráticos, clamando por intervenção militar com o derrotado nas últimas eleições presidenciais à frente de um eventual governo. Bolsonaro abandonou o país no dia 30 de dezembro, rumo a Orlando, EUA.

A posse foi acompanhada por milhares de brasileiros vindos de todas as regiões do país. Somente na Praça dos Três Poderes foi permitida a entrada de 40 mil pessoas, por limitação da segurança. A fila começou às 5 da manhã e às 13 horas já tinha esgotado a capacidade. Em várias cidades, houve concentração em parques e praças para acompanhar a posse. Em Porto Alegre, a cerimônia foi acompanhada do Parque da Redenção.

Entre representantes de todos os segmentos descuidados pelo governo que se encerrou, destacou-se a presença do cacique Raoni, icônica expressão indígena do país no âmbito internacional

Foto: Tânia Rego/ Agência Brasil

Lula assina posse com caneta de 1989

Lula subiu duas rampas neste domingo. A primeira foi a Congresso Nacional onde foi oficialmente declarado presidente da República do Brasil. Na ocasião, ele, Alckmin, Janja e dona Lu foram recebidos pelos presidentes das casas que compõe o parlamento, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), presidente do Senado e do Congresso, e Arthur Lira (PP/AL), presidente da Câmara dos Deputados.

O juramento que foi proferido por Lula e seu vice, foi seguido pela leitura da ata de posse. No momento, Lula pediu licença para quebrar o protocolo para contar uma “pequena história”.

Segundo o presidente, ele fez a questão de assinar a ata da sessão com uma caneta que ganhou no Piauí dada por um cidadão em 1989 para que ele assinasse sua posse como presidente da República.

Como em 1989, não ganhou, lembrou, não pode usar. E, 2003, com sinceridade, o presidente diz que se esqueceu dela e em 2007, assinou com uma caneta do Senado.

Desta vez, registrou Lula, ele não só encontrou a caneta como disse ter feito a a assinatura com ela como uma homenagem ao povo do Piauí.

Por extensão, o presidente do Senado, Pacheco, e o vice-presidente Alckmin também fizeram uso da caneta para assinarem a ata.

Milhares de pessoas acompanharam a posse na Praça dos Três Poderes. Representantes do povo brasileiro subiram a rampa do Palácio da Alvorada junto com Lula

Foto: Tânia Rego/ Agência Brasil

Lula assume o compromisso de resgatar o Brasil

No primeiro discurso que fez na condição de presidente da República, Lula ressaltou que buscará promover um mandato de reconciliação nacional, “sem revanchismos”. No entanto, o presidente ressaltou que as Leis de Acesso a Informação e da Transparência “voltarão a partir de hoje”.

Enfático, Lula arrematou em seguida dizendo que, tendo todo os seus direitos respeitados, “quem errou, vai ter que responder.

Lula ainda enfatizou a situação encontrada pelas equipes responsáveis para fazer os relatórios da transição do governo que se encerrou que classificou como “estarrecedor” e que será encaminhado para todos os parlamentares, magistrados, acadêmicos e lideranças sindicais do país. “Cada um que faça a sua avaliação”, ponderou.

Para Lula, nunca os recursos da República foram usados da maneira como Bolsonaro usou para tentar a sua reeleição frustrada, o que classificou como uma “vitória da democracia”.

O presidente lamentou ainda ter que voltar com o compromisso de retirar o povo brasileiro do Mapa da Fome. Repetir, disse, é o reflexo das últimas políticas implementadas após o processo que culminou com a derrubada da presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016.

Sobre a pandemia, o presidente registrou que em nenhum outro país houve tanta devastação proporcional com a Covid. “Este paradoxo só se explica por um governo negacionista, obscurantista”, exclamou ao deixar claro que todas “as responsabilidades deverão ser devidamente apuradas”.

Jair Bolsonaro (PL) se recusou a passar a faixa para seu sucessor, desprezando o rito democrático —ele embarcou na sexta-feira, 30, para os Estados Unidos

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Revogaços e liberdade de expressão com responsabilidade

Lula reafirmou em seu discurso que irá revogar os decretos que permitirão o armamento desenfreado de parte da população.

Da mesma forma, sem meias palavras, disse que o Teto de Gastos implantado após o golpe contra Dilma acabará para que a população não continue sendo penalizada. Outras medidas para garantir a responsabilidade fiscal, no entanto, serão implementadas garantiu.

Ao lembrar que os recursos do Brasil foram, em sua opinião, “rapinados” para saciar os interesses do sistema financeiro, Lula deixou claro entender que “nenhuma nação se ergueu ou poderá se erguer sob a miséria do seu povo”

Em outro marco de seu pronunciamento, o presidente afirmou que defende a plena responsabilidade de informação. Entende, porém, que há o que chamou de “desafio civilizatório” a ser enfrentado.

O de encontrar mecanismos que evitem a disseminação de mentiras via as novas tecnologias de informação à serviço dos que “querem fazer sucumbir a democracia” no mundo.

Lula após receber a faixa das mão de representantes do povo se dirigiu muito emocionado aos que conseguiram ficar na frente do parlatório do Palácio da Alvorada.

Lá ele reafirmou o discurso dado no Congresso e prometeu reconstruir o Brasil, recuperar o tempo perdido nos últimos quatro anos, resgatar o protagonismo internacional do país e acabar com o isolamento promovido por seu antecessor.

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