SAÚDE

Estudo aponta relação entre vacina BCG e o número de casos de Covid-19

Pesquisadores compararam vários nações, inclusive países vizinhos, para verificar o impacto da Covid-19 e relacionaram a diferença com os planos nacionais de vacinação
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 9 de abril de 2020

Foto: Reprodução YouTube

No Brasil, a BCG começou a ser usada em 1927 e foi uma das primeiras a integrar o pacote de vacinas do Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973

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Estudo em pré-publicação no site dedicado à ciência da saúde, medRxiv, comparou vários nações para verificar o impacto da Covid-19 e aponta que a resposta pode estar nos planos de vacinação de cada país. Segundo os autores, existe uma relação entre a vacina BCG e o número de casos. A BCG é aplicada em recém-nascidos para prevenir a tuberculose.

Portugal e Espanha são bons exemplos de comparação. Até o final dessa matéria, a Espanha contabilizou 140.617 contaminados e 13.912 mortes. Já, seu vizinho, registrou 345 falecimentos em um universo de 12.442 infectados.

Acontece que em Portugal, a BCG foi incluída no Plano Nacional de Vacinação (PNV) em 1966, enquanto que a Espanha tem a vacina oferecida apenas na região basca. Hoje, a Espanha é o segundo país com mais óbitos por Covid-19 no mundo.

A BCG deixou o PNV português em 2017, mas deverá retornar porque o país voltou a registrar novos casos de tuberculose em crianças antes da pandemia.

Segundo o trabalho que foi elaborado por pesquisadores ingleses e americanos, “os países que não têm a vacina BCG no plano de vacinação (Itália, Holanda, EUA) têm sido severamente mais afetados quando comparados com países onde essa vacina é obrigatória”.

Na investigação foi constatado que a Itália nunca teve a BCG como vacina obrigatória. O país hoje lidera o numero de vítimas fatais do novo coronavírus, 17.127 mortos.

Com o registro de 92 óbitos, o Japão inclui a vacina no seu plano nacional de vacinação. Ela é obrigatória para as crianças do país.

Apesar disso, mesmo poupado dos grandes surtos de coronavírus, um crescimento recente e constante nas contaminações em Tóquio, Osaka e outras regiões levaram o primeiro-ministro Shinzo Abe decretar estado de emergência.

Uma curiosidade ainda é apontada no estudo. O Irã, que tem a BCG ministrada de forma semelhante ao Japão, tem 3.872 mortes associadas à Covid-19. A possível explicação para essa discrepância é o fato de que a BCG entrou no sistema de vacinação japonês em 1947 enquanto que no Irã, em 1984. A distância das datas pode justificar a diferença no número de vítimas, já que os idosos tem sido o público mais afetado pela pandemia.

No Brasil, a BCG começou a ser usada em 1927 e foi uma das primeiras a integrar o pacote de vacinas do Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973.

O medRxiv é um ambiente de discussão científica criado pela Cold Spring Harbor Laboratoratory (CSHL), pela editora médica BMJ e pela Universidade de Yale.

Anti-vacinação

Nos últimos anos, um movimento tomou conta das redes sociais. Os anti-vacinação. Para a Renata Ribeiro Gomez, assessora da diretora da Bio-Manguinhos, unidade produtora de imunobiológicos da Fiocruz, as motivações para o surgimento de grupos como “O lado obscuro das vacinas”, são variados.

Segundo Renata, que concluiu seu mestrado com uma tese sobre o tema, a busca de um estilo de vida “saudável”, sem intervenções de medicamentos que inclui, em casos mais radicais, até homeopáticos, é um dos fatores.

Outro, a credibilidade da indústria farmacêutica. Renata atesta que existe muitas vezes a desconfiança de que “nem sempre o que a indústria diz é o melhor ou o meu pediatra pode estar sendo influenciado por um lobby”.

Para ela, o fato da comunicação das campanhas de vacinação serem de massa contribui para esses questionamentos. “Falta uma comunicação mais personalizada. Falta um acolhimento das dúvidas”, diz.

Majoritariamente integram esse movimento mulheres das classes A e B. “As classes C, D e E não são contra. É uma discussão de uma elite”, afirma. Renata, no entanto, aponta uma ironia nesses tempos de pandemia: “Agora todos querem uma vacina, que não existe”.

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