SAÚDE

Cresce movimento pela inclusão da doação e transplante de órgãos nas graduações da Saúde

A Associação Brasileira de Transplante de Órgãos promove na próxima quarta-feira, 20, seminário para definir estratégicas para a inserção do tema nos currículos da medicina e da enfermagem, entre outros
Por Flávio Ilha / Publicado em 18 de abril de 2022

Foto: Igor Sperotto

A médica Clotilde Garcia, que lidera a disciplina doação de órgãos e transplantes na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, será painelista no seminário da ABTO. “Nosso objetivo é educar para doação e para transplante”, explica.

Foto: Igor Sperotto

O coordenador da comissão de retirada de órgãos da ABTO, Bernardo David Sabat, diz que o seminário pretende estimular conteúdos informativos, formativos e estratégicos sobre o tema nas faculdades de medicina, enfermagem, psicologia, fisioterapia, nutrição, entre outros ligados à área da saúde.

“Não há um levantamento preciso da quantidade de disciplinas sobre transplantes nos cursos de graduação, mas sabemos que são poucas. E majoritariamente informativas. Não se trata de resistência por parte das faculdades, mas sim desconhecimento sobre a possibilidade de formar profissionais desde a graduação”, expõe Sabat, que também atua como professor-adjunto de cirurgia na Universidade Estadual de Pernambuco.

A disciplina mais antiga e uma das raras sobre esta temática é a do curso de medicina da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), liderada pela  professora Clotilde Druck Garcia desde 2006. A disciplina Doação de Órgãos e Transplante I é opcional e também acabou replicada na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e na Universidade Católica de Pelotas (UCPel).

“A disciplina motiva os alunos, enfatiza a necessidade de uma responsabilidade civil e ética e ensina todo o processo de doação sobre todos os tipos de transplantes realizados nos hospitais da Santa Casa, especialmente coração, rim, rim-pâncreas, pele, medula, córnea e fígado. Nosso objetivo é educar para doação e para transplante”, explica a professora Clotilde, médica nefrologista com mais de 800 transplantes de rins no seu currículo. Segundo ela, as 40 vagas oferecidas pela Universidade a cada semestre são integralmente ocupadas.

Clotilde, que atua na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, será painelista do seminário virtual da ABTO ao lado dos médicos Agnaldo Soares Lima (Santa Casa BH/MG) e Ilka Boin (Unicamp/SP) e do deputado Ricardo Izar (SP).

Campanha aborda coordenações dos cursos

A iniciativa da ABTO se soma a de outras organizações civis que lutam na mesma frente. Com dez anos de atividades ininterruptas, o projeto Cultura Doadora, da Fundação Ecarta, de Porto Alegre (RS), lançou também neste ano a campanha +Doação e Transplante nos Currículos da Saúde. Dentre as ações para sensibilizar para a inclusão do tema nos currículos, está a abordagem direta das coordenações dos cursos de medicina.

“Para além da disposição doadora na sociedade, existem outros problemas que precisam ser enfrentados para qualificar o sistema de transplantes no país e salvar milhares de pessoas. Um desses problemas é justamente a falta de capacitação de profissionais da saúde para atuarem nessa área”, destaca o professor Marcos Fuhr, presidente da Fundação Ecarta.

No documento entregue às coordenações, a Ecarta salienta que “é fundamental que os profissionais tenham clareza sobre a ética no processo, o funcionamento do Sistema Nacional de Transplantes e sua rede de centrais estaduais, da constituição de Organizações de Procura de órgãos (OPOs), da criação e manutenção de Comissões Intra Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTTs), dos potenciais doadores e os órgãos que podem ser doados, da doação inter vivos, da capacitação para o diagnóstico de morte encefálica, da manutenção do potencial doador e da comunicação para a família enlutada”.

Já foram realizadas reuniões com as direções dos cursos de medicina das universidades do Rio Grande do Sul Feevale, Unisinos, Unijuí e Unisc. “Todas as instituições foram bastante receptivas até o momento e estão avaliando a proposta”, afirma Glaci Borges, coordenadora do Cultura Doadora.

Em lista de espera

O Brasil possui o maior programa público de transplante de órgãos, tecidos e células do mundo, que é garantido a toda a população por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), responsável pelo financiamento de cerca de 95% dos procedimentos no país. Apesar do grande volume de cirurgias realizadas, a quantidade de pessoas em lista de espera para receber um órgão ainda é grande.

No final do ano passado, a lista de transplantes do Ministério da Saúde contava com mais de 50 mil pessoas à espera de um órgão ou tecido. A maioria aguardam por rins e córneas. Além da resistência familiar, outro empecilho é a baixa taxa de identificação de mortes encefálicas nos hospitais. Segundo dados do Sistema Nacional de Transplantes, 23% dos casos não são notificados.

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