CULTURA

A arte pergunta

César Fraga / Publicado em 23 de outubro de 2003

Durante o mês de setembro, a equipe do Programa Ação Educativa, da 4ª Bienal do Mercosul promoveu um verdadeiro “arrastão” nas redes pública e privada de ensino da capital e região metropolitana. O objetivo, segundo o coordenador geral do programa, Fábio Coutinho, é estimular a presença dos estudantes na bienal na expectativa de ultrapassar a marca dos 300 mil visitantes. “Nossa intenção é organizar expedições ao invés de excursões de alunos”, explica. Segundo ele, o que diferencia uma e outra é que a primeira tem um caráter mais científico e a segunda seria apenas um passeio. Para conseguir esse intento foi contratada uma equipe de 185 mediadores, que substituem os tradicionais monitores das edições anteriores. “O mediador ajuda a ver e questionar sem dar respostas prontas, enquanto os monitores apenas reproduziam informações”, justifica Coutinho. Tudo de acordo com o slogan desta Bienal: “Arte não responde, pergunta”.

Os mediadores são estudantes de Arquitetura, Artes, Psicologia, Filosofia e Comunicação, que participaram de um curso de preparação. Também estão sendo promovidos Encontros de Formação de Educadores, que são cursos e material didático oferecidos para professores dentro da perspectiva de preparar o olhar do docente com ímpeto de pesquisador, na intenção de que este sensibilize seus grupo de alunos, aguçando o espírito investigativo dos mesmos.

Podem participar estudantes a partir da 3ª série do Ensino Fundamental e professores de todos os níveis. Também podem ser organizados grupos de visitantes de ONGs, terceira-idade, empresas, centros culturais, etc. As visitas ocorrerão entre 4 de outubro e 7 de dezembro, período de duração Bienal. Ao todo são seis roteiros de visitação. As exposições ocorrerão no Santander Cultural, Margs, Memorial do RS, Armazéns do Cais e Usina do Gazômetro. Cada visita terá duração de 1h30min. Também estarão disponíveis o Espaço Arte-Educação-Cultura planejado como um local de encontro, troca de informação, estudo e pesquisa, disponibilizando biblioteca específica, videoteca, acesso à internet e assessorias para o desenvolvimento de trabalhos pré e pós-visitação, com programações específicas; e a Sala Virtual do Professor hospedada no site da 4a Bienal do Mercosul www.bienal mercosul. art.br

Passado e presente

Leia abaixo o que o artista plástico e curador da Bienal do Mercosul, Nelson Aguilar, disse em entrevista exclusiva ao Extra Classe.

Extra Classe – Como o senhor sintetiza a sua proposta como curador desta edição da Bienal?
Nelson Aguilar
– Eu acho que o meu alvo é tornar a Bienal do Mercosul mais específica. Para o evento sobreviver, ele precisa ter um caráter marcante. A idéia é afirmar que se abre um pórtico para a arte latino-amaricana. Isso se dá na própria escolha do tema, Arqueologia Contemporânea, que faz uma ligação das raízes da arte produzida no continente com o material atual, salvando toda essa informação para a eternidade.

EC – Qual questão estabelece a ligação entre o passado e o presente?
Aguilar
– A questão da origem é o que liga tudo. É o cimento que une toda a américa-latina. Há uma dívida com os povos que habitaram o continente antes dos europeus. Esse questionamento quanto às origens é perpétuo. A arte contemporânea olha cada vez mais para o passado. Uma das últimas notícias sobre arqueologia de que se tem notícia com alguma repercussão na mídia diz respeito ao grau de refinamento da arte xinguiana, por exemplo.

EC – Dentro da programação, o que o senhor destacaria como o elemento que simboliza a proposta da Bienal?
Aguilar
– Por meio da ‘arqueologia genética’, se fará o mapeamento do DNA de todos os participantes desta Bienal. Artistas, equipe, organizadores, todos. Esse mapa genético ficará exposto e mostrará a diversidade presente, funcionando como um manifesto de tolerância entre os diferentes. Tudo isso já na abertura .

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