Dia Nacional de Lutas termina com marcha de 15 mil pessoas pelo centro de Porto Alegre
Uma multidão superior a 15 mil pessoas marchou nesta sexta-feira (25) pelas ruas centrais de Porto Alegre para protestar contra as medidas de ajuste propostas pelo governo federal, que estão reunidas na PEC 55. A manifestação foi o ápice do Dia Nacional de Lutas, convocado por estudantes e trabalhadores para exigir a retirada do projeto que congela gastos por 20 anos. Houve manifestações em todo o país e em várias cidades do interior do estado.
O ato, que começou por volta de 18h na Esquina Democrática, foi engrossado por servidores públicos e professores da rede estadual, que protestam contra o pacote do governo que confisca salários e demite mais de 1.200 funcionários. A caminhada foi acompanhada de perto pela Brigada Militar, mas até o fechamento desta edição não haviam sido registrados confrontos com a Polícia.
Foto: Igor Sperotto
Foto: Igor Sperotto
O ato foi preparatório para a próxima terça-feira (29), quando a PEC 55 deverá ser votada em primeiro turno no Senado. Várias centrais sindicais preparam uma manifestação para o mesmo dia em Brasília, como forma de pressionar os parlamentares a votar contra a medida de ajuste. Em Porto Alegre, haverá um ato em frente ao Palácio Piratini durante todo o dia.
“Vamos ocupar Brasília. Vamos ocupar o Senado. Se pensam que vai ter votação, estão enganados”, bradou a dirigente do Cpers/Sindicato, Neiva Lazzarotto.
Jovens e idosos unidos
Foto: Igor Sperotto
Estudantes e aposentados dividiram a Esquina Democrática na defesa dos direitos sociais. A diretora do Sindicato dos Trabalhadores Federais da Saúde, Trabalho e Previdência no RS (Sindisprev), Ana Lago, puxou os gritos de Fora Temer e Fora Sartori. “Abaixo todo o governo que privatiza e que escraviza. Precisamos acabar com esse Congresso sem ética e corrupto”, discursou.
Antes da marcha, houve discursos de lideranças sindicais e estudantis – especialmente das mais de 40 ocupações de cursos universitários em todo o estado, seja em universidades públicas ou privadas. Em todas as falas, a defesa da educação pública e da retirada da PEC 55 do Senado.
Servidores públicos do estado aderiram às manifestações para protestar contra o pacote de cortes anunciado pelo governador José Ivo Sartori (PMDB). Além de medidas de confisco de salários do funcionalismo, o pacote aumenta alíquotas previdenciárias, extingue com nove fundações ligadas ao ensino e à pesquisa e prevê a privatização de companhias públicas, como CEEE, CRM e Sulgás.
Foto: Igor Sperotto
Foto: Igor Sperotto
A representante da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), Elaine de Almeida, disse que o governo não fará economia com a extinção da entidade porque os recursos destinados aos estudos do órgão são majoritariamente oriundos de instituições científicas. “Não é economia, é burrice mesmo”, disse a servidora.
O ato foi coordenado por três organizações: coletivo Povo Sem Medo, Brasil Popular e Ocupas. Junto às faixas das ocupações e dos movimentos feministas, havia bandeiras das centrais sindicais e de partidos como PCB, PC do B e PSOL.
“Tanto a PEC 55 do Temer como o pacotaço do Sartori, ambos do PMDB, significam o desmonte do serviço público, a demissão de servidores, o arrocho salarial, o corte de direitos e a entrega do Estado para as organizações sociais (OS). Quem vai sofrer as consequências é a classe trabalhadora, que necessita dos serviços públicos”, criticou a secretária-geral da CUT-RS, Simone Goldschmidt.
Foto: Marcos Kramer
Um forte contingente militar acompanhou de longe o protesto, sem provocar confrontos. Manifestantees mascarados também compunham o ato, mas até o fechamento desta edição não haviam sido registrados confrontos entre policiais e ativistas.
Pneus queimados e bombas de gás
O Dia Nacional de Lutas provocou confrontos e bloqueios de vias em Porto Alegre na manhã desta sexta-feira. O episódio mais grave envolveu a depredação de dois trens do sistema de metrô da região metropolitana, cujos funcionários aderiram à paralisação. O movimento não afetou o transporte por ônibus.
Piquetes de ferroviários se aglomeraram em frente à garagem da Trensurb a partir das 5h. Decisão da Justiça do Trabalho determinou que o serviço fosse mantido nos horários de pico, durante 5h30 e 8h30, mas os trabalhadores se recusaram a cumprir a ordem. Os trens só circularam depois das 7h30, com segurança reforçada pela Brigada Militar, e voltaram a parar às 10h.
O Sindicato dos Metroviários informou que o funcionamento da manhã foi garantido por funcionários com funções gratificadas que não aderiram à paralisação. O funcionamento das composições se deu com intervalos superiores aos 10 minutos. Por falta de pessoal, as bilheterias foram liberadas para acesso às plataformas. O serviço de ônibus intermunicipal foi reforçado, mas não conseguiu evitar congestionamentos no trânsito.
Por volta das 6h, dezenas de estudantes realizaram um protesto na avenida Bento Gonçalves em frente ao Campus Agronomia da UFRGS. Os manifestantes levantaram cartazes com frases em apoio às ocupações – 40 cursos da Universidade estão com os prédios controlados pelos estudantes – e atearam fogo em pneus no meio da via.
Por volta das 6h30min, outra manifestação começou em frente ao campus da PUCRS, na avenida Ipiranga, causando congestionamento na região. No campus central da UFRGS, também houve bloqueio de vias e queima de pneus. As manifestações foram dissolvidas pela Polícia com bombas de gás.
Lideranças sindicais, além disso, se concentraram no largo da Rodoviária e iniciaram uma marcha a partir das 8h30 em direção ao Centro da cidade. Duas pistas da avenida Mauá, que liga Porto Alegre à região metropolitana, foram tomada pelos manifestantes, em pequeno grupo – que se concentrou em frente à agência central do INSS. A BM acompanhou a caminhada, mas não houve confronto.