POLÍTICA

Nelson Teich pede demissão do Ministério da Saúde

Ameaças de Bolsonaro de editar portaria, obrigando o uso de cloroquina em pacientes com Covid-19, abrem nova crise no governo em meio à pandemia
Por Gilson Camargo / Publicado em 15 de maio de 2020
O ministro da Saúde, Nelson Teich, deixou o cargo após 29 dias, por divergir da obsessão de Bolsonaro com o fim do isolamento e o uso de medicamento vetado pela comunidade científica

Foto: Marcello Casl JR./ Agência Brasil

O ministro da Saúde, Nelson Teich, deixou o cargo após 29 dias, por divergir da obsessão de Bolsonaro com o fim do isolamento e o uso de medicamento vetado pela comunidade científica

Foto: Marcello Casl JR./ Agência Brasil

O empresário e oncologista carioca Nelson Teich encerrou nesta sexta-feira, 15, sua curta e tortuosa experiência como ministro da Saúde do governo de Jair Bolsonaro (sem partido). É a segunda troca de ministro da Saúde em meio à pandemia devido a interferências do presidente nas políticas de saúde adotadas pelo ministério para enfrentamento da crise sanitária. A demissão do ministro coincide com a pior fase da pandemia até agora, com uma média de 700 mortes por Covid-19 a cada 24 horas. A pandemia já provocou 13 mil mortes e 190 mil pacientes foram infectados em um cenário de apatia do governo federal e diante da disputas de poder e de narrativa entre o presidente e as autoridades de saúde.

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Em nota, o Ministério da Saúde informou que Teich pediu exoneração pela manhã e deverá se manifestar em coletiva de imprensa nesta tarde. A saída dele já vinha sendo articulada pelo Planalto. Na noite anterior à demissão, Bolsonaro havia sondado o general Eduardo Pazuello, número dois da Saúde, para saber se ele aceitaria o cargo. O militar acenou positivamente, afastando mais uma vez a pretensão do gaúcho Osmar Terra (MDB-RS). O ex-ministro da Cidadania era outro nome sondado para assumir a pasta quando da demissão de Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) e agora orbitava em torno do novo ministro demissionário.

Teich assumiu no dia 16 de abril, após a demissão de Mandetta e ficou 29 dias no cargo. Diferente de Mandetta, que entrou em rota de colisão com Bolsonaro por defender as medidas de distanciamento social, Teich se opôs a outra obsessão do presidente, o uso aleatório de hidrocloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19 – o medicamento é vetado pela comunidade médica por ser ineficaz e provocar a morte de pacientes tratados com a substância.

O militante bolsonarista Spallicci é dono da farmacêutica Apsen, fabricante da hidroxicloroquina no país

Foto: Redes Sociais/ Reprodução

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Foto: Redes Sociais/ Reprodução

Na quinta-feira, 14, Bolsonaro afirmou que exigiria do ministério a adoção de um novo protocolo indicando o uso da cloroquina para pacientes em estágio inicial da doença. Desde o início da pandemia, o presidente vem promovendo esse medicamento como solução contra o coronavírus, apesar de ser um leigo. Diversos estudos nacionais e internacionais já demonstraram que o uso da substância não reduz a letalidade ou as internações por Covid-19, que as pesquisas que validaram sua suposta eficácia contra o novo coronavírus não têm validade científica e que os efeitos colaterais da droga são muito severos.

AMIGO FARMACÊUTICO – No Brasil, o principal fabricante da hidroxicloroquina é o militante bolsonarista Renato Spallicci. Ele é dono da farmacêutica Apsen, que detém a patente do Reuquinol, composto pela substância “recomendada” pelo presidente contra Covid-19. No ano em que Bolsonaro foi eleito, a Apsen faturou R$ 670 milhões.

Empresário e gestor da saúde privada, o ex-ministro Teich foi assessor de Bolsonaro durante a campanha eleitoral e foi preterido do ministério com a nomeação de Mandetta. De setembro de 2019 a janeiro de 2020, foi assessor de Denizar Vianna, secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde. O Grupo Clínicas Oncológicas Integradas (COI) fundado em 1990 e presidido por ele até 2018 foi vendida para a UHG/Amil.

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