CULTURA

Isabel Allende abre a Feira do Livro de Porto Alegre

Edição deste ano do maior evento de livros e literatura do continente terá programação totalmente virtual devido ao isolamento social – de 30 de outubro a 15 de novembro
Por Gilson Camargo / Publicado em 28 de outubro de 2020
Autora de mais de 20 livros publicados em 42 idiomas, escritora chilena vai falar sobre a luta por liberdade na América Latina e outros temas que permeiam seus romances

Foto: Lori Barra/ Divulgação

Autora de mais de 20 livros publicados em 42 idiomas, escritora chilena vai falar sobre a luta por liberdade na América Latina e outros temas que permeiam seus romances

Foto: Lori Barra/ Divulgação

A 66ª Feira do Livro de Porto Alegre começa nesta sexta-feira, 30, e vai até 15 de novembro, com uma edição integralmente on-line devido às restrições impostas pela pandemia de Covid-19.

Com o modelo virtual, em que toda a programação será transmitida pelo portal do evento, o número de livreiros foi reduzido das mais de cem bancas que normalmente ocupavam a praça da Alfândega e entorno para 57 expositores. A programação de saraus, oficinas, debates também foi enxugada, perdeu 40% do seu espaço, especialmente nas agendas que envolvem escolas. Desta vez também não haverá as concorridas sessões de autógrafos dos autores no pavilhão central.

O custo do evento no formato digital também foi reduzido, de R$ 2 milhões para cerca de R$ 700 mil. Com tantas e tão repentinas mudanças, no entanto, a Feira se mantém como maior evento de literatura da América Latina. E está repleta de atrações.

Abertura nesta sexta-feira, 30

A abertura pela Câmara Rio-Grandense do Livro será às 18h30min de sexta-feira, 30, mas já a partir das 9h será possível acessar atrações paralelas como os encontros das escritoras Kiusam de Oliveira e Chris Dias com alunos dos anos iniciais e intermediários do ensino fundamental e as contações de histórias As cores de Corina, de Carmen Lúcia Campos, com Carmen Lima; e Contos da Montanha, com Bárbara Catarina. Em seguida, uma das mais celebradas escritoras de língua espanhola das Américas, a romancista chilena Isabel Allende, abre a programação oficial.

Com mais de 20 livros publicados e mais de 70 milhões de cópias vendidas em 42 idiomas, a sobrinha do presidente socialista Salvador Allende, assassinado em 1973 pela ditadura de Augusto Pinochet, participará de uma live às 19h30. Ela vai conversar sobre a força e a história dos povos latino-americanos e abordar a luta de seus compatriotas chilenos que acabaram de derrubar a Constituição do país, escrita nos anos de chumbo; além de outros temas que permeiam seus romances como liberdade, poesia, perdas, feminismo, presentes em A casa dos espíritos (Bertrand Brasil, 2017), Paula (BestBolso, 2007) e Longa pétala de mar (Bertrand Brasil, 2019). A participação de Isabel Allende terá mediação da jornalista Lúcia Mattos, da escritora Anna Mariano, autora de Apenas por nós choramos (Penalux, 2019) e da professora Regina Kohlrausch.

Cultura, diversidade, ciência e sustentabilidade

Programação infanto-juvenil terá contações de histórias e encontros virtuais com autores para alunos do ensino fundamental e médio

Foto: Diego Lopes/ Divulgação

Programação infanto-juvenil terá contações de histórias e encontros virtuais com autores para alunos do ensino fundamental e médio

Foto: Diego Lopes/ Divulgação

A Feira foi organizada de forma a contemplar a valorização da cultura, diversidade, ciência e sustentabilidade. A integração com o mercado do livro da integração ao mundo digital está presente nos encontros com autores, lançamentos, balaios de descontos, contações de histórias, atividades paralelas, entre outros, estão concentrados na plataforma e são acessíveis ao público cativo, que vive em Porto Alegre ou que costumava visitar a cidade por ocasião da Feira, mas também para todos os aficionados do livro e da leitura.

Também haverá homenagens ao poeta Oliveira Silveira e ao ficcionista Sérgio Faraco, além de eventos com Conceição Evaristo, Ailton Krenak, James Green, Mariana Enriquez.

A programação do segundo dia, sábado, 31, contará com a participação da escritora espanhola Rosa Montero – leia entrevista no final desta matéria –; o debate A força da literatura e do real, com os escritores Conceição Evaristo, Natalia Borges Polesso e Jeferson Tenório, patrono do evento; e Uma jornada singular – com a escritora portuguesa Inês Pedrosa, mediado por Jane Tutikian. “A programação precisava dialogar com a maneira como estamos vivendo este ano e também com as pautas que nos rondam nos últimos meses. E, é claro, ter o livro como centro de tudo”, aponta a jornalista, escritora e editora Lu Thomé, curadora da feira.

Mediação de leitura

As atividades da área Infantil e Juvenil seguiram com a coordenação de Sônia Zanchetta. “Como de praxe, a equipe do Núcleo de Formação de Mediadores de Leitura da Câmara Rio-grandense do Livro, integrada por duas professoras de Literatura, uma ilustradora, uma bibliotecária e um contadora de histórias, reuniu-se para definir a lista dos convidados da programação da Área Infantil e Juvenil da Feira, a partir da análise de livros recebidos de editoras, de distribuidoras de livros e de autores, no caso dos escritores e ilustradores que ainda não tinham participado do evento”, explica a coordenadora. A programação contará com 20 contações de história; dez encontros com autores para alunos dos anos iniciais e intermediários do Ensino Fundamental; e dez encontros com autores voltados para alunos dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Os destaques são o curso Traçando Histórias e o 9º Seminário Internacional de Bibliotecas.

ENTREVISTA | Rosa Montero*

As sintonias da vida e da morte

A escritora espanhola Rosa Montero, autora de "A ridícula ideia de nunca mais te ver" (Todavia, 2019)

Foto: Jose Luis Roca/ Divulgação

A escritora espanhola Rosa Montero, autora de “A ridícula ideia de nunca mais te ver” (Todavia, 2019)

Foto: Jose Luis Roca/ Divulgação

Quando a escritora espanhola Rosa Montero leu o diário da cientista Marie Curie, escrito após a morte do marido, ela viu sintonias com a sua própria vida. Este foi o ponto de partida de A ridícula ideia de nunca mais te ver (Todavia, 2019). Nesta conversa, a escritora que mora em Madri fala sobre sua obra, a questão do luto, as reflexões sobre a pandemia e a importância da ciência e das vivências. A participação da escritora na Feira do Livro será no sábado, 31, às 15h, com mediação de Emir Rossoni, autor de Domanda Nísio (Ed. Telucazu, 2019) e Renata Wolff, Fim de festa (Não Editora, 2018). No mesmo dia, haverá

Como te descreves?
Sou a pessoa mais normal que você possa imaginar. Creio que parte do meu êxito é que as pessoas se reconhecem em mim, porque sou muito reconhecível. Minha vida é normalíssima. Os amigos são importantíssimos para mim, creio que o maior êxito na vida de uma pessoa é ser amiga; amo os animais, a natureza, caminhar pelas montanhas, música de todos os tipo, o cinema, o teatro e, é claro, ler. O normal!

Como tem sido pra ti esse período de pandemia?
Foi muito triste e angustiante, como para todos. Na Espanha as coisas foram muita duras e ainda estão ruins. É um trauma mundial e ainda iremos sofrer muito por conta disso. Morreram amigos, familiares… é muito triste.

O isolamento social afetou tua produção/relação com a literatura? De que forma?
Na primeira semana de confinamento eu não conseguia ler de tão angustiada que eu estava. Depois, por sorte, eu tinha uma novela praticamente terminada (La buena suerte), que precisava da revisão final e a literatura, como quase sempre, salvou a minha vida e me permitiu aterrar.

Qual foi a importância da arte e da literatura nesse período?
Creio que uma das poucas coisas positivas que aconteceram nesta época espantosa foi demonstrarmos o quão importante é a arte em geral para nos salvar do horror e da dor. A leitura aumentou durante a Pandemia e estou segura de que sem a ajuda da arte nós teríamos matado uns aos outros.

Como te sentes participando da Feira do Livro de Porto Alegre?
Este é um pequeno presente da pandemia. Fazia muitos anos que me convidam e nunca conseguia viajar porque tinha muitos compromissos e outras viagens marcadas. Agora, de maneira virtual, finalmente poderei participar e estou muito feliz com isso.

O que está lendo no momento?
Dioses contra microbios, de Alejandro Gandara (Ariel) [Deuses contra micróbios, ainda não publicado no Brasil]. É um ensaio fascinante, um diário do confinamento originalíssimo com uma série de reflexões sobre a cultura grega clássica como origem do nosso pensamento.

Um conselho de leitura para o público?
Qualquer livro de Úrsula K. LeGuin, em especial Os despossuídos (Editora Aleph, 2019).

O que pode esperar o público dessa live?
Paixão e sinceridade. Espero que nos divirtamos!

*Entrevista e tradução de Luísa Kiefer, da Equipe de Comunicação da Feira do Livro.

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