EDUCAÇÃO

Crise levou 3,5 milhões de jovens a abandonar ensino superior em 2021

Mais de um terço dos estudantes abandonou seus cursos em 2021 e a inadimplência nos cursos privados também cresce paulatinamente desde 2015
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 4 de janeiro de 2022
As instituições de ensino superior privado concentram 75,8% das matrículas no país.

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

As instituições de ensino superior privado concentram 75,8% das matrículas no país

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

O Brasil está em uma situação que torna praticamente impossível o cumprimento da Meta 12 do Plano Nacional de Educação, a de fazer com que 33% dos jovens de 18 a 24 anos estejam em um curso superior até 2024.

Estudo do Instituto Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior do país, registra que somente 18% desse segmento estão matriculados em alguma instituição de ensino superior.

Agravando a situação, a pandemia fez com que em 2020 e 2021, as taxas de evasão das universidades privadas apresentassem as maiores de toda a série histórica.

As instituições de ensino superior privado concentram 75,8% das matrículas no país. Nos últimos dois anos, aqueles que chegaram à universidade tiveram dificuldades em se manter nos estudos.

Em números absolutos, segundo um estudo complementar para o Mapa do Ensino Superior de 2021, o Instituto Semesp contabilizou 3,78 milhões de estudantes que deixaram os bancos do ensino superior privado em 2020 e 3,42 milhões em 2021.

É a economia…

Mesmo com a leve queda nesse ano, a taxa até o momento de 36,6 % de evasão ante aos 37,2% de 2020, preocupa. A questão é que o número de alunos no segmento presencial é maior do que no EAD (Ensino à Distância) e, portanto, pesa mais na taxa total.

Hoje, apesar do crescimento do EAD ao longo dos últimos anos, 71,5% dos alunos matriculados estão nos cursos presenciais.

É na falta de capacidade de pagamentos das mensalidades que reside o problema. “As questões econômicas, batem primeiro na inadimplência.

Primeiro ele (o aluno) fica inadimplente e isso se viu também na pandemia, um recorde histórico, para depois ele desistir eventualmente”, explica o diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato.

Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp

Foto: Mariana Tokarnia/Agência Brasil

Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp

Foto: Mariana Tokarnia/Agência Brasil

Situação se agrava

A taxa de inadimplência era de 7,8% em 2014, antes da crise gerada para o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Chegou a 9,2% em 2019, antes da pandemia. Em 2020, pela primeira vez, chegou quase aos 10%, com 9,9%.

Se durante os dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro de Dilma Rousseff a presença de jovens no ensino superior no país crescia paulatinamente não só em números absolutos, mas também com a presença de segmentos mais pobres, negros e indígenas, em 2015 a situação começou a se inverter. Quase 8% de evasão, 7,7%, a mais separam 2014 de 2021.

Um grande gargalo

Em sua edição para 2021, o Mapa do Ensino Superior apresenta um capítulo especial que traz uma série de informações sobre alunos do ensino médio, a porta de entrada para o ensino superior.

Segundo o trabalho, os números mostram “um grande gargalo” de estudantes que terminam o ensino médio, fazem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que prestam vestibulares, mas não conseguem entrar em uma faculdade ou universidade.

São casos de ausência de vagas na rede púbica ou de políticas educacionais que, segundo a Semesp, “democratizam o acesso à rede privada”.

Aí um paradoxo. Se as matrículas no ensino superior se encontram majoritariamente nas instituições privadas de ensino, o inverso acontece no ensino médio que apresenta um índice de 87,7% de alunos matriculados em escolas públicas.

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