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Paulo Henrique Amorim morre aos 77 anos

Um dos poucos âncoras de tevê com formação em jornalismo, ele foi afastado do Domingo Espetacular pela Record por críticas a Bolsonaro
Por Gilson Camargo / Publicado em 10 de julho de 2019
Em abril de 2006, o jornalista participou do Sinpro/RS Debate "Midia e o Estado Democratico de Direito" e sentenciou: "o governo Dilma acabou"

Foto: Igor Sperotto

Em abril de 2006, o jornalista participou do Sinpro/RS Debate “Midia e o Estado Democratico de Direito” e sentenciou: “o governo Dilma acabou”

Foto: Igor Sperotto

O jornalista e âncora de telejornalismo Paulo Henrique Amorim, 77 anos, morreu na madrugada desta quarta-feira, 10, após sofrer um infarto fulminante. De acordo com a assessoria de imprensa da Rede Record, ele jantara com amigos na noite de terça-feira e morreu em casa, no Rio de Janeiro, após um mal-estar. Era casado com a também jornalista Geórgia Pinheiro, com quem teve uma filha. Amorim trabalhou nas redes de tevê Globo, Bandeirantes e atualmente estava na Record, onde apresentava a revista Domingo Espetacular até ser afastado do programa, no dia 30 de junho por criticar o presidente Jair Bolsonaro. Ele permanecia na emissora, com contrato até 2021.

Na internet, mantinha o blog Conversa Afiada no qual aprimorou seu estilo contundente e repleto de ironias ao interpretar fatos da conjuntura política. Popularizou tiradas como “Olá, tudo bem?” e “Boa noite, boa sorte”, frases com as quais abria e fechava o Domingo Espetacular e criou a expressão “PIG”, ou “Partido da Imprensa Golpista”, com a qual designava veículos de comunicação que apoiaram o golpe contra os governos petistas.

“O governo Dilma acabou”, disse em abril de 2016

"A Globo deu lógica e organizou o golpe. Eu digo isso da seguinte maneira: não houve uma articulação diuturna prévia, de estado maior, entre os diversos autores do golpe. Os autores do golpe foram como se sabe, a Procuradoria Geral da República, a Polícia Federal sem chefe, o Sérgio Moro, o PMDB. Mas eles não se reuniam todas as noites numa catacumba, na presença de Deus e da madre superiora para estudar os passos e uma estratégia ou um plano de estado maior. Não! Cada um agia por sua própria lógica e todas as noites a Globo dava ordem e sentido a isso"

Foto: Igor Sperotto

Foto: Igor Sperotto

“A Globo deu lógica e organizou o golpe. Eu digo isso da seguinte maneira: não houve uma articulação diuturna prévia, de estado maior, entre os diversos autores do golpe. Os autores do golpe foram como se sabe, a PGR, a Polícia Federal sem chefe, o Sérgio Moro, o PMDB. Mas eles não se reuniam todas as noites numa catacumba, na presença de Deus e da madre superiora para estudar os passos e uma estratégia ou um plano de estado maior. Não! Cada um agia por sua própria lógica e todas as noites a Globo dava ordem e sentido a isso”

Em entrevista concedida ao jornalista César Fraga, editor do Extra Classe,  no dia 20 de abril de 2016, no trajeto entre o Aeroporto Salgado Filho e o Hotel Embaixador, antes do painel Mídia e o Estado Democrático de Direito, Amorim alertava que estava ocorrendo um “atalho constitucional” para legitimar o golpe que esta em curso para destituir a presidente Dilma Rousseff. “O governo Dilma acabou”, afirmava. A presidente foi afastada no dia 12 de maio e retirada da presidência após a aprovação do impeachment pelo Congresso em agosto daquele ano. Para o jornalista, a Globo apoiou o golpe contra Dilma porque “queria Temer, para ter ao seu dispor mais uma vez o Ministério das Comunicações, o BNDES e o dinheiro da Caixa; pois com eleições diretas entraria uma variável nova e imprevisível no jogo político, o eleitor”. Para ele, “a falta da democratização da mídia nacional e de uma regulamentação que impeça o monopólio estão no centro da crise, porque os governos petistas não fizeram o que Brizola teria feito”.

Possivelmente o mais enérgico dos âncoras de telejornalismo das últimas décadas, ele também atuou em diversos jornais e revistas impressos. Estreou no jornal A Noite, em 1961, e depois foi o primeiro correspondente das revistas Realidade e Veja em Nova York, em 1968. No telejornalismo, passou pela extinta TV Manchete, foi âncora do Jornal Nacional e correspondente da Globo em NY, de 1990 a 1996, depois, na Bandeirantes, apresentou o Jornal da Band e o programa Fogo Cruzado. Em 1999, foi para a TV Cultura, onde criou o programa Conversa Afiada. Foi contratado em 2003 pela TV Record, onde apresentou o Jornal da Record e o programa Tudo a Ver.

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