OPINIÃO

Olha eu aqui

Por Flavia Seligman / Publicado em 22 de abril de 2020
Frame do curta "O Fusca e a Dona Hortência", de 2014, com direção e argumento de Flávia Seligman

Foto: Divulgação

Frame do curta “O Fusca e a Dona Hortência”, de 2014, com direção e argumento de Flávia Seligman

Foto: Divulgação

O ofício do fazer cinema no Brasil data do final do século 19. Apesar disso, há pouco tempo a participação feminina tornou-se constante em funções técnicas de maior visibilidade. Um número expressivo de mulheres hoje trabalha como roteiristas, diretoras, produtoras, fotógrafas, diretoras de arte e desenhistas de som em todo o país, em todas as modalidades de expressão, longas e curtas-metragens, conteúdo para televisão aberta e fechada, conteúdo para internet etc.

Nos estudos de cinema, na pesquisa e na docência também é expressiva a participação das mulheres.

O número de alunas nos cursos de cinema e audiovisual aumenta ano a ano, com mulheres escolhendo áreas de trabalho que há 50 anos ou mais eram basicamente masculinas. Segundo o Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual (Forcine), em 2020 o país conta com 187 cursos superiores de cinema e audiovisual. Na sua grande maioria, as disciplinas de direção, fotografia, montagem, roteiro e som, áreas vitais da realização, são ministradas por professores homens.

Numa primeira busca nos principais cursos do Rio Grande do Sul – Unisinos, PUCRS, UniRitter, Fevale e UFPel, encontramos apenas uma professora de fotografia, uma de roteiro, uma de direção de fotografia e uma de montagem. As demais mulheres estão alocadas em disciplinas teóricas ou nas áreas de produção e de arte, funções que por suas particularidades como organização, infraestrutura e criação de cenários e figurino são ainda consideradas “mais femininas”. As demais disciplinas vistas como de maior responsabilidade e, claro, visibilidade, são majoritariamente entregues aos professores homens.

As professoras ainda precisam lutar para serem ouvidas e mesmo valorizadas. Até em grupos com profissionais de vanguarda, com ideias progressistas, falar e ser ouvida às vezes não é fácil.

Claro que não é regra. Eu mesma trabalhei com muitos colegas maravilhosos e fui respeitada, mas, infelizmente, em quase todas as instituições ainda há professores (e professoras) que à noite publicam nas redes sociais textos imensos, pedindo maior representação feminina no Congresso, mas pela manhã interrompem a fala de uma colega numa reunião ou debate.

Acontece que as mulheres, cineastas, pesquisadoras e professoras sabem ensinar e formar novos trabalhadores e trabalhadoras em todas as áreas da realização audiovisual. Vejam os portfólios, leiam os currículos, acreditem na força e na persistência.

Por um respeito verdadeiro nos locais de trabalho. Olhem para a gente aqui!

* Doutora em Artes/Cinema pela USP, atuou como professora na PUCRS, Ufrgs, ESPM-SUL e Unisinos.

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