SAÚDE

Maternidade e UTI neonatal do Hospital São Lucas podem fechar

O presidente do Simers Marcelo Matias afirma que poderá sobrecarregar outros hospitais e critica a decisão da PUC-RS de fechar as unidades
Por Márcia Anita Santos / Publicado em 6 de março de 2020
Nesta sexta-feira, 6, pela manhã, um grupo de cerca de 200 estudantes, médicos residentes e professores da faculdade de medicina da PUC organizaram uma manifestação em frente à reitoria da Universidade.

Foto: Gerson Anzolin/Simers/Divulgação

Nesta sexta-feira, 6, pela manhã, um grupo de cerca de 200 estudantes, médicos residentes e professores da faculdade de medicina da PUC organizaram uma manifestação em frente à reitoria da Universidade.

Foto: Gerson Anzolin/Simers/Divulgação

A possibilidade de fechamento do Centro Materno Infantil do Hospital São Lucas, da PUC-RS, em Porto Alegre, gerou tensão entre profissionais, estudantes e usuários da instituição. Na quinta-feira, 5 de março, ao receber a denúncia, o presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Marcelo Matias, foi impedido de falar com a gestão do Hospital.

O mal-estar foi minimizado com a cedência de uma sala para ele conversar com médicos e demais trabalhadores. Neste encontro, Matias salientou que o fechamento da maternidade e da UTI neonatal do São Lucas vai, imediatamente, superlotar outros hospitais: Santa Casa, Conceição, Femina, Clínicas e Presidente Vargas. Segundo ele, todos os atendimentos obstétricos e de neonatologia de Porto Alegre e, talvez do Estado, serão influenciados negativamente.

A ameaça de fechamento veio à tona durante o processo de negociação para renovação de contrato entre o hospital e a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), de Porto Alegre. “Desconsiderando os 40 anos de existência do centro obstétrico e da UTI neonatal, a direção resolve abrir uma negociação com a prefeitura de Porto Alegre para o fechamento de duas das alas mais importantes do hospital”, argumenta o sindicalista.

A prestação dos serviços seriam repassada ao Hospital Materno Infantil Presidente Vargas (HMIPV). Matias sustenta que o Presidente Vargas – que atualmente tem capacidade para realizar até 15 partos mensais – seria obrigado a, no mínimo, duplicar sua capacidade.

O presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Marcelo Matias em reunião com médicos e trabalhadores do hospital, no dia 5

Foto: Amália Ceola/Simers/Divulgação

O presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Marcelo Matias em reunião com médicos e trabalhadores do hospital, no dia 5

Foto: Amália Ceola/Simers/Divulgação

Para ele, a medida é um crime contra a saúde pública e um crime contra a educação. “Ali passam alunos, doutorandos, residentes, cursistas e professores que há muitos anos dedicam o seu conhecimento para o desenvolvimento da ciência médica no nosso estado. E está sendo feito de maneira unilateral, sem uma mínima discussão com a sociedade”.

Ele é incisivo ao afirmar que “há sim recursos disponíveis para que a saúde seja mantida naquele local. Essa decisão foi tomada por dinheiro”. E acrescentou que “se alguém acha que o SUS (Sistema Único de Saúde) foi feito para dar lucro, está no negócio errado”. E,  foi além, sugerindo que a entidade “abra mão da filantropia, se acredita estar em um negócio que dá prejuízo”. Após a reunião do dia 5, dirigentes do sindicato médico foram ao Ministério Público denunciar a possibilidade do fechamento e os impactos negativos ao atendimento da população que precisa destes serviços na esfera pública.

O Centro Materno Infantil é responsável por cerca de 300 partos mensais, dos quais 150 são de pacientes do SUS. Dispõe de internação obstétrica, UTI neonatal, UTI pediátrica, internação pediátrica, ambulatórios de atendimento obstétrico e pediátrico, além de cirurgias pediátricas. O centro obstétrico é referência para atendimento a gestantes de alto risco e a UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) neonatal, em seus 40 anos de história, já atendeu a 30 mil bebês, contando atualmente com 38 leitos.

Nesta sexta-feira, 6, pela manhã, um grupo de cerca de 200 estudantes, médicos residentes e professores da faculdade de medicina da PUC organizaram uma manifestação em frente à reitoria da Universidade. Uma comissão formada por dirigentes do Simers, Conselho Regional de Medicina (Cremers) e acadêmicos foi recebida por um representante da reitoria.

A direção da PUC lançou uma nota em que manifesta:

“O Hospital São Lucas está passando por um amplo movimento de reposicionamento. As transformações, previstas para ocorrer em 2020, estão embasadas em estudos sólidos realizados nos últimos dois anos, com a participação de consultorias especializadas, contratadas pela entidade mantenedora do HSL. As iniciativas respondem aos indicadores que apontam transformações na demanda atual e futura da população na área da saúde, decorrentes da rápida mudança no perfil epidemiológico, fruto da inversão da pirâmide etária da população que é ainda mais acelerada no Rio Grande do Sul. Tão logo os projetos sejam finalizados, serão divulgados com total transparência para a comunidade”.

A Secretaria Municipal da Saúde classificou como “natural” que sejam apresentadas alternativas para o atendimento neste período.

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