CULTURA

Um museu para o trabalho

Stella Máris Valenzuela / Publicado em 1 de julho de 1998

O Museu Teatro do Trabalho surgiu a partir da idéia de um centro de documentação histórica do trabalho e hoje é um espaço de preservação, produção e exibição cultural com ênfase no resgate da memória do trabalho.

O sociólogo Marcos Flávio Soares assegura que o único Museu do Trabalho do mundo fica em Porto Alegre. Hamburgo, na Alemanha, fez uma tentativa em 1984, mas o projeto esbarrou na falta de um prédio histórico onde pudesse ser instalado. A singularidade do Museu do Trabalho está na sua concepção. Trata-se de um centro cultural voltado para as diferentes formas de manifestação artística, com ênfase ao resgate da história do trabalho.

A idéia, com o propósito de constituir um acervo de máquinas, instrumentos de trabalho, fotos e documentos capazes de retratar a memória econômica e social dos agentes desse processo – os trabalhadores -, surgiu em 1981. O sonho se concretizou em 8 de setembro de 1982, com a formalização de uma Associação Civil de Fins Culturais, responsável por administrar o espaço do poder público estadual. O coordenador técnico do Museu do Trabalho e um dos idealizadores da iniciativa, Marcos Flávio Soares, conta que não foram poucas as dificuldades para pôr o projeto em prática.

No plano original o museu seria instalado na Usina do Gasômetro, como pretexto para a construção de um grande centro cultural, a partir do universo do mundo do trabalho, conta o sociólogo. Mas os desencontros de interesses descartaram esta hipótese e o museu acabou sendo acomodado no número 230 da Rua dos Andradas, prédio construído na década de 30 e que estava meio atirado às traças. Funcionava como depósito da Secretaria de Obras Públicas do Estado e, também, servia de estacionamento. Para erguer este projeto cultural, o sociólogo teve de sensibilizar empresários, sindicalistas, governos e não se cansou de perambular por entre os mais diversos partidos políticos.

O Museu do Trabalho se auto-sustenta com recursos das contribuições de cerca de 30 associados, dos workshops, promovidos pelos artistas e de um consórcio de gravuras – no local funciona um atelier coletivo, onde os artistas produzem seus trabalhos. A programação inclui exposições permanente e temporárias e temporadas teatrais. No inverno, o espaço fica aberto de terças a sábados, das 13h às 18h e em domingos e feriados das 14h às 18h.

PORTO DOS CASAIS – Rumores de que o projeto Porto dos Casais, do governo do Estado, poderia pôr abaixo o prédio onde está localizado o museu provocaram apreensão junto aos artistas, amigos e responsáveis pelo centro cultural. O temor motivou reuniões e debates com o objetivo de preservar o patrimônio histórico. A 1ª Região do Sistema de Museus do Rio Grande do Sul, uma instituição ligada ao governo do Estado e encarregada de organizar e apoiar a atividade museológica, chegou a discutir o tema numa reunião em 3 de junho. Preocupado com a possibilidade da interferência do Porto dos Casais no museu, seu presidente, o geólogo Heinrich Frank assinala a importância histórica do prédio, lembra que lá está reunida a mais completa oficina de xilogravura do Estado e que se trata de um espaço onde diversos artistas trabalham. Foi constituída uma comissão para acompanhar o caso. Seus integrantes aguardam o resultado do Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto do Meio Ambiente (EIA/RIMA), a cargo da Fundação de Proteção Ambiental (Fepam), para decidir os próximos passos.

O arquiteto responsável pelo projeto Porto dos Casais, Alberto Adomille garante que o projeto não vai interferir no Museu do Trabalho. “O prédio vai permanecer no mesmo local. Mas é claro que haverá uma interação maior entre as edificações situadas nas redondezas”, reconhece Adomille, pois as mudanças no local, a partir de empreendimentos comerciais e hoteleiros, deverão alterar a dinâmica urbana no entorno. Sérgio Zimermann, que responde pelo projeto junto ao governo do Estado se dispõe a fornecer documento assegurando que o museu não será demolido.

A dúvida surgiu a partir da maquete. O mega plano prevê shopping center, hotel cinco estrelas, espaços para shows, praças e área verde. O projeto, escolhido através de concurso, pretende reformar o plano diretor do cais da Avenida Mauá e compreende a área que vai dos armazéns B3 ao A7 e vai executar um aterramento de 100 mil metros cúbicos de água no Guaíba.

O secretário de Planejamento Municipal, Newton Burmeister, informou que a administração municipal assinou um acordo com o estado em 26 de março. Neste documento, o executivo elenca as exigências a serem cumpridas pelo governo do estado e investidores interessados no empreendimento. Defende a manutenção das atividades portuárias; quer analisar o EIA/RIMA e estudos sobre a derrubada do Muro da Mauá. No entendimento da Prefeitura, o muro é um importante sistema de proteção contra as cheias. A preservação do patrimônio histórico-cultural e um debate com a população, via Conselhos Municipais, também integram o rol dos requisitos. Burmeister disse que o executivo está preocupado com a acessibilidade àquela área. “Não se chegou ainda a um ajuste final. A questão precisa ser aprofundada”. De toda forma, os envolvidos com o projeto admitem que vai haver substancial alteração na área, e que esta não deixará de afetar o Museu do Trabalho.

GRAVURAS – Uma promoção do Museu do Trabalho que está dando certo é o consórcio de gravuras. Os participantes recebem uma gravura por mês, concorrem a sorteios e ainda ganham um brinde a cada trimestre. No Plano A, o sócio paga a mensalidade de R$ 35,00 e retira a gravura na Secretaria do Museu, a partir do recebimento do aviso enviado pelo correio. Já no Plano B, a pessoa determina o local e horário para receber a gravura, ocasião em que fará o pagamento de R$ 43,00. Quem não mora em Porto Alegre recebe as gravuras via sedex. Os trabalhos são em serigrafia, litografia, xilogravura e metal, realizadas por artistas como Xico Stockinger, Maria Tomaselli, Gelson Radaelli. Quem participa da promoção, além de incentivar a cultura está fazendo um investimento de caráter pessoal.

Durante o ano são agendadas onze exposições, com trabalhos de artistas gaúchos, de outros estados brasileiros e também oriundos do Mercosul. As exposições temporárias são diversificadas. Cartunistas como Sampaulo, Santiago, Edgar Vasques e Bier expuseram com outros 24 artistas gráficos gaúchos, de junho a julho deste ano. A fotografia também não fica de fora. A Nicarágua foi divulgada, através de trabalhos de consagrados fotógrafos como Assis Hoffmann, repórter fotográfico desde 1961 e Amilton Vieira, que atua desde 1962. O Teatro do Museu passou a compor este cenário a partir de 1983.

ACERVO – Um tear do século passado foi a primeira peça do Museu do Trabalho e hoje o acervo, que começou a ser recolhido em 1981, soma 100 objetos. São máquinas, instrumentos de trabalho, fotos e documentos que retratam a história econômica e social dos trabalhadores. A exposição permanente conta com um escafandro de grandes profundidades, uma impressora – la pedalette, máquinas de escrever, calculadoras, telefones.

No ano passado, 15 mil pessoas visitaram o local, entre estudantes das redes estadual e municipal, apreciadores de obras de arte do interior do estado, do Brasil, Uruguai, Argentina e oriundos da Europa. “Estamos satisfeitos, pois criamos um museu aberto, onde o povo, como agente coletivo e insubstituível da história, pode ver o seu passado, avaliar o presente e projetar o futuro”, declara Marcos Flávio Soares. O presidente da 1ª Região de Museus, Heinrich Frank, diz que não se pode desprezar o significativo número de visitantes do Museu do Trabalho e por se tratar de uma iniciativa rica deve ser preservada. O Museu do Trabalho organiza roteiros itinerantes pelo interior do estado e seu acervo foi exposto também em Recife, em Montevidéu, Buenos Aires e Cuba.

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Notas 

Kikitos
Os filmes concorrentes do 26º Festival de Gramado – Cinema Latino e Brasileiro, de 8 a 15 de agosto, já foram selecionados. Os longas-metragens em 35mm são: Amores, de Domingos de Oliveira (Brasil), Um sonho no Caroço do Abacate, de Lucas Amberg (Brasil), Reunião dos Demônios, de A.S. Cecílio Neto (Brasil), O Toque do Oboé, de Cláudio MacDowell (Brasil/Paraguai), Pizza, Birra y Faso, de Adrian Caetano e Bruno Stagnaro (Argentina), Plaza de Almas, de Fernando Díaz (Argentina), Tropikanita, de Daniel Díaz Torres (Cuba), Záfiros, Loucura Azul, de Manuel Herrera (Cuba/EUA), Histórias de Fútbol, de Andrés Wood (Chile), Perdita Durango, de Alex de la Iglesia (Espanha), De Noche Vienes Esmeralda, de Jaime Hermosillo (México), O Rio do Ouro, de Paulo Rocha (Portugal), La Voz del Corazón, de Carlos Oteyza (Venezuela), e Otario, de Diego Arsuaga (Uruguai).

Curtas em 35mm…
Os curtas-metragens em 35mm selecionados são: 5 Filmes Estrangeiros, de José Eduardo Belmonte (Brasília), Clandestina Felicidade, de Beto Normal e Marcelo Gomes (Pernambuco), Espantalho, de Alê Abreu (São Paulo), Happy Hour, de Dodô Brandão (Rio de Janeiro), Histórias de Avá – O Povo Invisível, de Bernardo Palmeiro (Rio de Janeiro), Imagens Distorcidas, de Calixto Hakim (Paraná), A Mãe, de Fernando Belens e Umbelino Brasil (Bahia), Milton Dacosta – Íntimas Construções, de Mário Carneiro (Rio de Janeiro), Não me Condenes antes que me Explique, de Cristina Leal (Rio de Janeiro), O Nordestino e o Toque de sua Lamparina, de Ítalo Maia (Ceará), Novembrada, de Eduardo Paredes (Santa Catarina), Paulo e Ana Luiza em Porto Alegre, de Rogério Ferrari (Rio Grande do Sul), Sete, Sete e Pouco, de Paulo Waidebach (São Paulo), Trabalho dos Homens, de Fernando Bonassi (São Paulo), Um Dia e Logo Depois um Outro, de Nando Olival e Renato Rossi (São Paulo).

Médias em 16mm
Os médias-metragens em 16mm selecionados são: Caminho das Onças, de Sérgio Sanz (Rio de Janeiro), Geraldo Filme, de Carlos Cortez (São Paulo).

Curtas em 16mm
Já os curtas-metragens em 16mm selecionados são: A Grade, de Felipe Barcinski (São Paulo), 4 Minutos, de Sergio Wolp (São Paulo), Sem Saída, de Joana Maris (São Paulo), Velinhas, de Gustavo Spolidoro (Rio Grande do Sul), e A Vida do Outro, de alunos do curso de especialização em Cinema da PUCRS (Rio Grande do Sul).

Dinheiro e cinema
Nos últimos três anos, as leis de incentivo renderam ao cinema brasileiro cerca de 60 filmes e um salto em bilheteria de dez vezes no período. Em 1994, pouco mais de um milhão de pessoas assistiram a produções brasileiras. Em 97 foram 15 milhões, 10% da população. No ano passado, as leis de incentivo captaram R$ 96 milhões, o suficiente para produzir cerca de 40 filmes, alguns já lançados, mas a maioria ainda em fase de finalização ou com lançamento para 1999.

Turnê da Ospa
A Ospa faz turnê pelo interior do estado. Dia 28 de agosto estará em Bagé, e no dia 30, em Jaguarão. A Ospa já se apresentou em Feliz, Cachoeira do Sul, Tramandaí, Bento Gonçalves e Erechim, Montenegro e Pelotas, dentro do projeto de interiorização da cultura, da Secretaria de Estado da Cultura.

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