CULTURA

A química, a política e a sociedade

Por Grazieli Gotardo / Publicado em 13 de junho de 2016
A química, a política e a sociedade

Foto: Igor Sperotto

O professor de Química Gilberto Alves Ramos atua no Colégio João Paulo I

Foto: Igor Sperotto

A militância cultural, social e política é uma das marcas do professor de Química Gilberto Alves Ramos, de Porto Alegre. Tudo começou em um dos berços da comunidade negra da capital gaúcha, o bairro Cidade Baixa, onde nasceu. “Aprendi desde cedo que ser negro demandava um esforço danado para ser reconhecido como capaz e, ainda hoje, faço disso uma bandeira de luta diária”, afirma. As lembranças da infância no bairro envolvem lendas sobre príncipes e carnaval. “Aprendi a dançar e gostar de carnaval em clubes de negros como o Floresta Aurora, Satélite Prontidão e Democratas. Vi a Imperadores do Samba ser fundada e ajudei a “esquentar os seus tamborins”, lembra com saudade.

A vida política começou na sala de sua casa, quando acompanhava as reuniões de comitês políticos do PTB em que seu pai, funcionário da Viação Férrea, e sua mãe, professora de História, estavam envolvidos. Aos 12 anos fez sua primeira greve, no Colégio Julinho, em defesa do Grêmio Estudantil, que o governo militar queria dissolver. “Nessa idade eu ainda não sabia bem o que estava fazendo, mas isso foi formando minha veia política. Os alunos maiores nos esclareciam os fatos e o porquê da necessidade de se fazer algo em defesa da nossa representação máxima. A ditadura foi um regime sanguinário, que marcou minha adolescência e a vida de muitas pessoas que conheço”, afirma.

Durante a faculdade, na PUCRS, escreveu para o jornal Inimigos do Rei, publicação anarquista. Como professor do ensino público, atuou como militante do Cpers Sindicato, passou pelo movimento negro e pela extinta organização socialista Liberdade e Luta. A rua é um espaço que ele valoriza muito e, por isso, ressalta, até hoje faz questão de estar presente em mobilizações. “Faço questão de participar dos movimentos de rua, pois acredito que a rua é o espaço democrático que a gente tem para se manifestar”, destaca.

No ensino privado, sua trajetória começou em 1978, no Colégio Cruzeiro do Sul, e hoje, aos 64 anos, leciona no Colégio João Paulo I. Outra marca de suas aulas é a vivência e atuação social, quando lições de química e lições de vida se misturam. Para ele, a sala de aula é um espaço do professor e serve para que se possa colocar muito além da matéria. “Falar em educação libertadora é falar em ação revolucionária, é falar em solidariedade, cidadania e melhoria das condições dos setores menos privilegiados da sociedade. Só assim teremos cidadãos com a capacidade democrática de conviver, entender e aprender com o diferente”. Aos 64 anos, coleciona convites para ser paraninfo de turmas, momento esperado pelos alunos que querem ouvir seu discurso, sempre cheio de mensagens para a vida.

A seção Intervalo se propõe a revelar o perfil humano dos professores ao relatar experiências de educadores que desenvolvem atividade diversa da docência, seja de forma profissional ou como passatempo. Envie sua sugestão aos editores: extraclasse@sinprors.org.br.

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