CULTURA

Morte de Gal Costa não silencia uma das maiores vozes da música brasileira

A artista deixa um legado que encanta os mais exigentes ouvidos. Sua voz ultrapassa barreiras físicas da vida e da morte. Comuns e críticos chegam a dizer que nunca a ouviram desafinar
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 9 de novembro de 2022

Foto: Gilda Midani/Divulgação

Gal Costa, que iniciou a carreira musical aos 20 anos, morreu aos 77 anos, nesta quarta-feira

Foto: Gilda Midani/Divulgação

Passados alguns minutos das 11 horas desta quarta-feira, 9, a notícia da morte de Gal Costa, aos 77 anos de idade, pegou o país de surpresa e se espalhou comovidamente nos mais variados meios de comunicação do país.

O silêncio factual de uma das vozes mais incríveis do Brasil que chegava a comover o crítico João Gilberto foi confirmado pela assessoria de imprensa da artista. No último fim de semana, Gal chegou a cancelar um show em São Paulo.

A causa da morte é desconhecida, mas sabe-se que o cancelamento de última hora da participação de Gal no festival Primavera Sound foi devido a uma necessidade de recuperação após a retirada de um nódulo na fossa nasal direita.

O expirar da cantora, porém, não silenciou sua obra. Minutos após o país tomar conhecimento de sua morte, as mais variadas performances daquela que muitos dizem nunca terem visto desafinar passou a tocar em rádios, TVs e em residências por todo o Brasil e no exterior.

Gal Costa, o início

Foto: Bob Wolfenson/Divulgação

O silêncio factual de uma das vozes mais incríveis do Brasil, musa de João Gilberto

Foto: Bob Wolfenson/Divulgação

Batizada como Maria da Graça Costa Penna Burgos, Gal Costa nasceu em Salvador, na Bahia, no ano de 1945.

Ao contrário de muitos expoentes do meio artístico, Gal sempre foi incentivada pela mãe a seguir carreira na música.

Se na juventude em Salvador, a maioria a conhecia por Gracinha, os íntimos a chamavam de Gau, com “u”, forma predominante na Bahia.

Mais tarde, já no início de sua carreira, o produtor Guilherme Araújo, ao dizer que o Maria da Graça que foi registrado em seu primeiro compacto, parecia nome de cantora de fado de antigamente, decidiu pelo “l” no final.

Surgiu a Gal Costa que encantou e deverá continuar encantando milhões. Ela chegou, inclusive, a inserir o Gal em seu registro de nascimento.

“Eu inseri no meu registro o Gal. Ficou Gal Maria da Graça Penna Burgos Costa, porque quando eu viajava ficava Burgos, Maria, e quem é Burgos, Maria?”, explicou ela em uma entrevista ao humorista Jô Soares, em 2013.

Maria da Graça era toda música. Chegou a trabalhar como balconista de uma loja de discos na capital baiana. Foi lá que disse ter conhecido a obra de João Gilberto.

Ela que cantava e tocava violão nas festas que frequentava, foi apresentada no início dos anos 1960 a Caetano Veloso.

Esse encontro gerou um vínculo pessoal e artístico que durou a sua vida inteira.

Dos Doces Bárbaros à Fatal

Foto: Reprodução

Foi o cultuado Fa-Tal, que rendeu à cantora o título de “a musa do desbunde”, pela crítica especializada

Foto: Reprodução

Além de Caetano, a adolescente Maria da Graça se aproximou de Gilberto Gil e Maria Bethânia com quem, mais tarde, integrou o grupo Doces Bárbaros.

Na sua ânsia por música e poesia, ainda estabeleceu vínculos com Tom Zé, com quem firmou parcerias.

Com esses amigos baianos, inaugurou o teatro Vila Velha, em Salvador, com o show Nós, Por Exemplo, em 1964.

Em 1965, o grupo foi para São Paulo e apresentou os espetáculos Arena Canta Bahia e Em Tempo de Guerra, sob a direção de Augusto Boal.

Com pouco mais de 20 anos, em 1968, Gal Costa participou do álbum Tropicália ou Panis et Circencis, considerado o marco do movimento tropicalista.

Três anos depois, em 1971, ela entra definitivamente para a história com um dos shows de maior repercussão da história da Música Popular Brasileira (MPB). Foi o cultuado Fa-Tal, que rendeu à cantora o título de “a musa do desbunde”, pela crítica especializada.

Gal se apresentou de colete curto e exibia o bronze de Ipanema, Rio de Janeiro, onde passou a residir.

A maquiagem, os brilhos dourados e prateados e seus lábios vermelhos com a voz doce e agressiva ao mesmo tempo cunhou a imagem da mulher fatal que começava a se impor na MPB.

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