CULTURA

Zé Celso deixa legado de arte que revolucionou política e costumes

Dramaturgo, ator e diretor que encarou a ditadura com peças como O Rei da Vela e criou o Teatro Oficina morre em São Paulo, aos 86 anos
Por Gilson Camargo / Publicado em 6 de julho de 2023

Foto: Sesc São Paulo/ Divulgação

Criador do Teatro Oficina, Zé Celso encarou a ditadura e revolucionou a dramaturgia

Foto: Sesc São Paulo/ Divulgação

O mais longevo dramaturgo em atividade no Brasil, Zé Celso Martinez Corrêa, que morreu nesta quinta-feira, 6, deixa o legado de uma arte que revolucionou o teatro, a política e os costumes no país. Ele encarou a ditadura militar com montagens como O Rei da Vela, cujo roteiro foi escrito a partir de texto de Oswald de Andrade, e levou as ideias e a irreverência do tropicalismo para o teatro. Foi perseguido por suas montagens dionisíacas.

Zé Celso foi preso, torturado e exilado, e produziu documentários sobre as revoluções portuguesa e moçambicana. O documentário Zé Celso: tupy or not tupy lembra que ele trabalhou com grandes nomes das artes, como Augusto Boal, Chico Buarque, Sérgio Britto, Raul Cortez e Pascoal da Conceição.

O dramaturgo, ator e diretor estava internado desde terça-feira, 4, no Hospital das Clínicas, depois de ser resgatado, com a ajuda de vizinhos, de um incêndio que destruiu seu apartamento no bairro Paraíso, em São Paulo. Zé Celso teve mais de 50% do corpo atingido pelas chamas e precisou ser intubado. Ele deixa o marido, Marcello Drummond, com quem se casou há cerca de um mês.

Sua morte foi comunicada no Twitter pelo Teatro Oficina Uzyna Uzona, que reproduziu uma fala de Zé Celso: “Tudo é tempo e contra-tempo! E o tempo é eterno. Eu sou uma forma vitoriosa do tempo”.

“Nossa fênix acaba de partir pra morada do sol, amor de muito amor, sempre”, lamenta o Teatro Oficina.

Foto: Jennifer Glass/ Oficina/ Divulgação

Uma das características dos espetáculos de Zé Celso é a encenação para o grande público, de graça, ao ar livre ou em grandes espaços

Foto: Jennifer Glass/ Oficina/ Divulgação

José Celso Martinez Corrêa nasceu em Araraquara em 1937. Em 1955 entrou para o curso da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, profissão que nunca exerceu. Entretanto, no período em que esteve no Largo São Francisco formou o Teatro Oficina e foi ali que seus primeiros textos Vento Forte para Papagaio Subir (1958) e A Incubadeira (1959), foram encenados.

No início da década de 60, ele se profissionalizou e a sede do grupo é transferida para o teatro da Rua Jaceguai, onde três anos depois Zé Celso dirigia Pequenos Burgueses, de Máximo Gorki. A montagem fez sucesso e ganhou diversos prêmios, mas foi censurada no ano seguinte, quando o Brasil mergulhou na ditadura militar.

Após um incêndio, o teatro da Rua Jaceguai foi reformado e a primeira montagem dessa nova fase foi O Rei da Vela, em 1967, com base num texto escrito por Oswald de Andrade na década de 1930, também encenada por Zé Celso.

Uma das características dos espetáculos de Zé Celso é a encenação para o grande público, de graça, ao ar livre ou em grandes espaços. Exemplo desse formato é As Dionisíacas, conjunto de quatro peças que percorreu sete capitais ao longo de 2010. As apresentações aconteciam sempre em estádios, com entrada franca.

*Com a Agência Brasil.

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