OPINIÃO

PIB brasileiro do terceiro trimestre tem um dos piores desempenhos do planeta

Por Daniela Sandi / Publicado em 8 de dezembro de 2021

Foto: Governo do Espírito Santo/ Divulgação

Salvo ilhas de excelência, o país optou por uma economia simplificada e reduziu a importância da indústria de transformação

Foto: Governo do Espírito Santo/ Divulgação

Os resultados do terceiro trimestre de 2021 do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro (-0,1%) frente ao trimestre imediatamente anterior, conforme dados divulgados pelo IBGE, revelam que a economia brasileira encolheu pelo segundo trimestre consecutivo, registrando um dos piores desempenhos econômicos do mundo.

Com esse desempenho, o Brasil entra em recessão técnica – dois trimestres seguidos de queda – com um declínio persistente acendendo um alerta ainda maior pela completa ausência de perspectivas no horizonte.

Pelo lado da oferta, o resultado do terceiro trimestre foi influenciado pelo setor agropecuário (-8,0%) pelo encerramento da safra da soja, grão que domina a produção agrícola e principal item da pauta exportadora brasileira.

A indústria, que responde por cerca de 20% do PIB nacional e poderia ser um vetor de crescimento e desenvolvimento, segue estagnada (0,0%) e o resultado só não foi pior por conta do crescimento na construção civil (3,9%).

Analisando especificamente a indústria de transformação, são três trimestres seguidos de queda:  no primeiro trimestre de 2021 (-0,4%), no segundo trimestre (-2,5%) e no terceiro trimestre (-1,0%), depois de encerrar 2020 com um tombo de 4,4%.

Conforme dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil, num conjunto de 48 países, foi um dos poucos que registrou resultado negativo no terceiro trimestre de 2021, juntamente com Bulgária,  México, Indonésia, Japão, Argentina, Austrália e Islândia (ver tabela).

Elaboração da autora com dados da OCDE

Elaboração da autora com dados da OCDE

A autorregulação dos mercados não entrega o que promete

O Brasil vai mal na economia, ao contrário do propagado pelo ministro da economia, que tem alvos bem definidos, ainda que dissimulados, e que comemora resultados que não existem. Um padrão econômico profundamente excludente e gerador de desigualdades.

O país segue na contramão das grandes economias que abandonaram o dogma da autorregulação dos mercados e estão se recuperando mais rapidamente. Ora a história e as experiências empíricas nos mostram que o mercado é promotor de desigualdades e não de igualdade São caminhos que já se mostraram desastrosos pela vasta destruição na estrutura produtiva e no tecido social. Mundo afora, países correm para retomar o crescimento com um Estado atuante na proteção social, nos investimentos contracíclicos, na oferta de crédito e nas ampliações de bens públicos.

As projeções da OCDE para o PIB brasileiro em 2022 – mais otimistas do que a dos analistas financeiros por aqui –, são de crescimento menor para o Brasil (1,2%) frente a outros países da América Latina como a Argentina (2,5%), Chile (2,0%), Colômbia (5,5%), Costa Rica (3,9%) e México (3,3%).

Crescimento para quem?

No Brasil, o mercado financeiro revisou para baixo pela oitava semana seguida a projeção de crescimento do PIB de 2021: 4,7% e, para 2022, apenas 0,5%. E ainda precisamos considerar que em 2021 será um crescimento em relação a uma base retraída (o PIB encolheu 3,9% em 2020), além do paradigma crescimentista: crescimento de quê e para quem? O PIB poderá crescer, mas o desemprego permanece alto, com aumento da desigualdade e queda da renda.

Num quadro de estagnação, para piorar, o Brasil segue aumentando juros e com taxas mensais que no resto do mundo se cobra ao ano e que não resolvem o problema de preços, como defende o governo. A disparada da inflação  não é resultado de uma demanda maior e sim de custos, de choques de oferta e de políticas (ou ausência delas) do próprio governo. É um cenário que dificulta ainda mais qualquer possibilidade de retomada econômica, seja pela inibição do investimento, seja pelo encarecimento do crédito para as famílias e empresas.

E juros maior pressiona para cima o custo da dívida pública, transferindo bilhões para o setor financeiro. Segundo levantamento da Instituição Fiscal Independente (IFI), um aumento de um ponto percentual na taxa de juros significa R$ 53 bilhões a mais por ano a detentores de títulos da dívida pública.

Desemprego

Enquanto isso, o país segue com a quarta maior taxa de desemprego (12,6% no trimestre móvel julho a setembro) numa lista de 44 países, de acordo com a agencia Austin Rating, sendo a taxa mais alta do G20.

A desigualdade de um país diminui conforme aumenta sua complexidade econômica e isso passa, dentre outros fatores, pela indústria, pela inovação. O problema é que o Brasil vem trilhando o caminho oposto, salvo algumas ilhas de excelência, com uma economia simplificada, com redução do papel da indústria de transformação.

*Daniela Sandi é economista e técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

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