POLÍTICA

Centrais antecipam mobilização contra a reforma da Previdência

Campanha contra a proposta de capitalização defendida pelo próximo governo e em defesa do modelo público começa com dois dias de mobilização em novembro
Da Redação / Publicado em 13 de novembro de 2018
Encontro de representantes das centrais, em São Paulo, definiu mobilização em defesa da universalidade, do futuro da Previdência e da Seguridade Social

Foto: Roberto Parizotti/CUT

Encontro de representantes das centrais, em São Paulo, definiu mobilização em defesa da universalidade, do futuro da Previdência e da Seguridade Social

Foto: Roberto Parizotti/CUT

As principais centrais sindicais do país lançaram na última segunda-feira, 12, uma campanha contra a reforma da Previdência que vem sendo defendida pelo governo eleito. Representantes da CUT, Força Sindical, CTB,  Intersindical, CSB, CSP-Conlutas, NCST, UGT e CGTB reunidos no auditório da Escola Dieese de Ciências do Trabalho, em São Paulo, divulgaram documento com princípios gerais de defesa da universalidade e do futuro da Previdência e da Seguridade Social e anunciaram mobilizações de trabalhadores e dos movimentos sociais contra o fim da aposentadoria, nos dias 22 e 26 de novembro, em todo o país.

O documento divulgado pelos sindicalistas destaca direitos a serem assegurados, políticas públicas a serem aprimoradas, formas de financiamento alternativas que podem melhorar a gestão, como a revisão de todas as desonerações e isenções e a recriação do Ministério da Previdência Social, além de medidas de avaliação e monitoramento permanente do sistema previdenciário.

No dia 22 será realizado um Dia Nacional de Mobilização, com panfletagens, assembleias nos locais de trabalho e diálogo com a população para esclarecer os riscos de uma nova proposta de reforma da Previdência nos moldes exigidos pelo mercado, como propõe o presidente de extrema direita, que pretende adotar o modelo de capitalização previdenciário. No dia 26 de novembro, haverá concentração em frente ao Ministério do Trabalho e em todas as Superintendências Regionais do Trabalho nos estados. O objetivo é protestar contra a proposta do fim do Ministério do Trabalho e denunciar a proposta de reforma da Previdência.

O secretário-geral da CUT-SP, João Cayres, avalia que “a classe trabalhadora enfrentará uma intensa luta” para barrar as propostas apresentadas pelo presidente eleito e sua equipe econômica. “Paulo Guedes é oriundo da Escola de Chicago e foi um dos responsáveis por ajudar a implementar a capitalização da Previdência no Chile durante a ditadura de Pinochet e agora ele quer trazer essa agenda que deu errado lá para o Brasil”, critica o dirigente, referindo-se ao eventual futuro ministro da economia do governo eleito.

“Para se ter ideia de como a proposta chilena é ruim é só pedir para o trabalhador entrar em qualquer banco e pedir uma simulação de previdência privada. Aí é só comparar por quantos anos tem de contribuir, o valor mínimo e quanto irá receber, considerando os riscos de investimentos. Todos se convencerão que o nosso modelo público é uma conquista que não podemos perder”, alerta Cayres.

“Paulo Guedes é oriundo da Escola de Chicago e foi um dos responsáveis por ajudar a implementar a capitalização da Previdência no Chile durante a ditadura de Pinochet e agora ele quer trazer essa agenda que deu errado lá para o Brasil”, alerta Cayres

Foto: Roberto Parizotti/CUT

“Paulo Guedes é oriundo da Escola de Chicago e foi um dos responsáveis por ajudar a implementar a capitalização da Previdência no Chile durante a ditadura de Pinochet e agora ele quer trazer essa agenda que deu errado lá para o Brasil”, alerta Cayres

Foto: Roberto Parizotti/CUT

O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, acredita que será fundamental uma nova mobilização como a que foi feita no ano passado, quando o movimento sindical parou o Brasil com uma greve geral para barrar a proposta de reforma da Previdência de Temer. “Só não passaram a reforma porque barramos nas ruas. E assim como prometemos, boa parte dos parlamentares que votaram a favor da reforma Trabalhista e apoiaram a da Previdência não voltaram este ano”, completou Miguel, referindo-se à campanha feita pelas centrais “votou, não volta”, denunciando parlamentares que estavam traindo a classe trabalhadora. “Temos condições de fazer essa mobilização de novo. Está na nossa mão essa virada”, conclamou Torres.

É o que acredita também o presidente da CTB, Adilson Araújo. “Uma das batalhas que saímos vitoriosos no último período foi justamente barrar o fim das aposentadorias dos trabalhadores. Está claro que essa é a demanda do mercado e daqueles que financiaram e apoiaram o golpe, por isso insistem na pauta. Mas mesmo que eles tentem, temos a condição de barrar de novo, explicando ao povo que seria trágico um modelo de capitalização”, disse.

Segundo Adilson, abandonar um modelo coletivo de financiamento por um individual, como é o caso da capitalização da Previdência, colocaria em risco a sobrevivência econômica de mais de 4 mil municípios que vivem dos benefícios previdenciários. “Cerca de 4 mil dos 5.570 municípios dependem mais do dinheiro que vem das aposentadorias do que do próprio Fundo de Participação dos Municípios”, compara.

O secretário-geral da Intersindical, Edson Carneiro, o Índio, defendeu redobrar o diálogo com a população para impor o que ele chama de “primeira grande derrota desse projeto autoritário com viés fascista”. “Precisamos aproveitar essa campanha para dialogar com os trabalhadores, comerciantes, servidores, toda a população e mostrar que o que está em risco é o direito de se aposentar. Precisamos traduzir que a proposta de Bolsonaro significa a entrega das nossas aposentadorias aos bancos, ao rentismo, ou seja, aos milionários por trás do capital financeiro”.

Já o presidente da CSP-Conlutas, Luiz Carlos Prates, o Mancha, foi enfático ao dizer que qualquer proposta que venha do governo de Bolsonaro não tem a mínima chance de ser favorável aos trabalhadores. “Qualquer proposta que venha deles terá o objetivo de entregar a Previdência”.

Em fevereiro, o então líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro, e o relator da reforma da previdência, Arthur Maia, apresentaram novo texto da proposta, que será rejeitado pelo governo eleito

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em fevereiro, o então líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro, e o relator da reforma da previdência, Arthur Maia, apresentaram novo texto da proposta, que será rejeitado pelo governo eleito

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

“A maioria não vai se aposentar. Por que não cobram a inadimplência dos que devem ao INSS? Porque as propostas são sempre na perspectiva de tirar os nossos direitos?”, acrescenta o representante da UGT, Natal Léo. “Querem tirar dos trabalhadores para encher os cofres dos bancos”, aponta o presidente da CGTB, Ubiraci Dantas de Oliveira, o Bira. E para impedir isso, o sindicalista propõe a união de todos para criar uma frente ampla em defesa da Previdência Social pública. “Não há agora outra saída”, alerta Bira.

Para o representante da CSB, Álvaro Egla, a proposta do governo eleito para a Previdência é ainda “mais perniciosa e abrangente” do que a de Temer. “E só unidos e mobilizados, fazendo o que sabemos fazer, que é ir para as ruas e organizar os trabalhadores, que conseguiremos barrar essa proposta nefasta”, constata.

Já o presidente da Nova Central, Antônio Calixto, lembrou que não há acordo com qualquer proposta que não considere o formato tripartite (trabalhadores, empresários e governo) de financiamento da Previdência. “Não há qualquer possibilidade de acordo. Vamos barrar essa proposta”.

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